Capítulo 8 - Manuela

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     Juro que não fazia ideia da quantidade de casais que buscavam o divórcio todos os dias. A fila no cartório para resolver situações matrimoniais era imensa e eu não conseguia me conformar com o fato de que todos ali buscavam um meio de colocar um ponto final na sua relação com o outro.

     Desde a discussão, Lorenzo e eu não havíamos nos falado mais, o que ficou ainda mais constrangedor depois que nos sentamos na sala de espera, aguardando a nossa vez.

     Ao meu lado, percebi pela forma impaciente com a qual ele ritmava com os dedos das mãos no braço da cadeira, que ele se sentia tão incomodado com minha presença, quanto eu com a dele:

     ― O que você faz aqui no Rio? –Perguntei, mesmo sem saber se ele me ignoraria ou se me responderia, mas feliz por de certa forma tentar quebrar aquele silêncio insuportável.

     ― Eu sou engenheiro civil. –Ele disse vagamente.

     ― Trabalha para alguma empresa?

     Lorenzo me olhou rapidamente, provavelmente se perguntando por que eu havia começado a demonstrar tanto interesse:

     ― Na verdade, eu tenho minha própria empresa, a Construtora Montenaro.

     O fato de ter dado o próprio sobrenome a empresa, só parecia reforçar o ego que ele tinha:

     ― Parece interessante. –Disse vagamente.

     Lorenzo se recostou em sua cadeira, desta vez me encarando:

     ― Posso perguntar o que você faz em Los Angeles?

     ― Eu sou médica. –Respondi.

     ― Médica? –Ele disse surpreso- Uau, isso sim parece ser interessante!

     ― Bem, é sim, você se surpreenderia com as coisas que podem acontecer em um hospital. –O olhei, e o fato de ele realmente parecer interessado no que eu fazia, fez com que eu desviasse meu olhar instantes depois.

     ― Mas, por que você foi embora do Brasil? –Apesar de ser uma pergunta inocente, fez com que eu recordasse tempos difíceis- Desculpe, eu disse algo de errado? –Ele perguntou delicadamente ao notar minha expressão se enrijecer, parecendo ser um homem completamente diferente do ogro de mais cedo.

     ― Eu perdi meus pais em um acidente de trânsito quando tinha apenas quatro anos de idade, fui criada praticamente pela minha avó, e quando ela faleceu aos meus dezoito anos, não tinha mais nada que me prendesse aqui.

     ― Eu sinto muito. –Suas palavras pareciam sinceras.

     ― Obrigada. –Agradeci.

     ― É a nossa vez –Lorenzo se levantou da cadeira, ao ver nossa senha surgir em um monitor.

     Caminhamos até a porta que havia logo a frente, Lorenzo a abriu e logo percebi a figura de um senhor de idade, sentado a sua mesa, analisando o que deveriam ser mais e mais processos. Depois de fechar a porta, nós o cumprimentamos e nos sentamos diante dele:

     ― Em que posso ajuda-los meus jovens? –Ele perguntou, como se não soubesse o porquê de as pessoas irem até ali.

     ― Nós gostaríamos de dar entrada a um pedido de divórcio. –Lorenzo disse com formalidade.

     ― Posso saber o motivo de estarem buscando o divórcio? –O senhor perguntou, nos olhando atentamente.

     ― A verdade é que tudo não passou de uma grande mal-entendido, não era para nós dois estarmos casados. –Me apressei em dizer.

O que acontece em Vegas, nem sempre fica em VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora