Capítulo 12 - Manuela

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     No dia seguinte, logo pela manhã, os advogados que Lorenzo havia contratado para nos representar e dar prosseguimento ao nosso processo de divórcio nos ligaram, informando que tínhamos que participar de uma palestra com outros casais.

     A palestra ocorreria em um auditório dentro do próprio cartório. Haviam várias cadeiras e aos poucos os casais começaram a se acomodar. Lorenzo e eu nos sentamos lado a lado, mais ao fundo.

     O objetivo do palestrante era fazer com que os casais refletissem se a separação seria mesmo a melhor opção para solucionar os problemas a dois e se não havia outra alternativa, outro caminho a seguir, que poderia evitar que todo um matrimônio fosse por água abaixo.

     Vi que durante a palestra, alguns casais se sensibilizaram com tudo o que estava sendo dito e imaginei que talvez houvesse alguma esperança para eles, por outro lado, outros casais continuavam a se ignorar, ouvindo tudo de forma impaciente, e infelizmente, sabia onde tudo aquilo os levaria.

     Olhando ao redor, fiquei espantada ao perceber que haviam mais de trinta casais ali dentro, o que me deixou um pouco descrente em relação ao amor.

     O final da palestra foi decisivo para que os casais decidissem se continuariam ou não com o processo e confesso que apesar de inspiradora, duvidava muito que fosse tão influente:

     ― Está tudo bem? –Lorenzo me olhou de relance ao entrarmos no carro- Você está diferente desde que saímos. –Ele observou.

     ― Não é nada, só que, você não fica abalado por ver tantas pessoas se separando assim? –O olhei.

     Lorenzo ponderou sobre aquilo por alguns instantes, voltando a me olhar em seguida:

     ― Não sabemos quais foram os motivos que os fizeram tomar essa decisão, acredito que ás vezes, a convivência a dois pode ser mais complexa do que se imagina. –De alguma forma, ele parecia saber o que estava dizendo- Eu só acho que, quando você percebe ou sente que não é capaz de oferecer aquela pessoa tudo o que ela merecia, é a hora de deixa-la ir, seria injusto priva-la de seus sonhos.

     ― Você já passou por algo assim? –O encarei com cautela, meu instinto dizendo que sim.

     Ele colocou a mão esquerda sobre o volante, olhando para o trânsito a frente:

     ― Uma vez, com uma namorada. –Ele disse vagamente.

     ― Você gostava dela? –Sabia que estava entrando em um campo minado, mas precisava saber mais sobre os sentimentos dele.

     ― Sim, eu gostava –Ele voltou seu olhar para mim- Mas eu sabia que só o que tínhamos não seria suficiente, eu nunca conseguiria ser o que ela queria que eu fosse.

     Aquilo era tão altruísta, me admirava saber que alguém como ele já havia feito algo assim, não por ele, mas por outra pessoa:

     ― Pelo menos você foi sincero com ela. –Estiquei minha mão, tocando seu braço, que estava apoiado no freio de mão do carro- Gostaria que Eric tivesse feito algo assim por mim. –Juntei minhas mãos sobre meu colo.

     ― Seu ex? –Seus olhos cor de mel me olharam atenciosos, enquanto o respondia em afirmação- Tem alguma chance de você perdoa-lo?

     ― Depende, eu deveria perdoa-lo depois de o ter apanhado dormindo com uma paciente? –Disse de forma descontraída, tentando esconder o quanto aquilo ainda me magoava, mas pelo olhar incrédulo que Lorenzo me lançou, acredito que não consegui.

     ― Acredite, ele vai se arrepender por ter feito isso com você. –Ele disse de forma franca e o agradeci em silêncio por aquilo.

     Depois de me deixar no apartamento, Lorenzo foi para a empresa, retornando para casa somente as seis e meia.

     Todas as sextas ele recebia uma diarista em casa para fazer uma faxina no apartamento e eu me distraí a ajudando, apesar de achar que ela se sentiu um pouco desconfortável por eu estar fazendo o seu trabalho.

     Ao cair da noite, eu estava novamente sozinha e depois de tomar um banho, lavar meus cabelos e vestir um short jeans e uma blusa branca de lã, devido a temperatura que já começava a baixar, caminhei até a cozinha para preparar o jantar, prevendo que Lorenzo, assim como eu, chegaria com fome.

     Estava terminando de preparar o jantar, quando o telefone de ramal que ficava na cozinha tocou:

     ― Alô? –Atendi.

     ― Por favor, Lorenzo Montenaro está? –Uma voz feminina perguntou de forma educada.

     ― Ele já deve estar voltando do trabalho –Disse conferindo as horas no relógio de parede, dependurado logo acima do balcão- Gostaria de deixar algum recado?

     ― Pode dizer a ele que a Lorena telefonou?

     ― Claro, farei isso. –Depois de agradecer, a mulher desligou.

     Havia acabado de desligar o fogo das panelas, quando Lorenzo chegou:

     ― É incrível como está bem mais quente aqui dentro. –Ele disse tirando sua jaqueta de couro e a atirando sobre o sofá- O que está fazendo? –Ele se apoiou no balcão, me olhando.

     ― O jantar, aliás, já está pronto. –Disse.

     ― Isso é ótimo, eu mal almocei hoje. –Ele disse com um sorriso.

     Nos servimos e nos sentamos diante da mesa, disfrutando da nossa refeição em silêncio:

     ― A propósito, uma moça chamada Lorena telefonou –Disse me levantando e colocando meu prato na pia, após terminar de comer- Parecia ser algo bastante sério. –Arqueei uma sobrancelha para ele sorrindo- Alguém especial? –O encarei curiosa.

     ― Acreditaria se eu dissesse que é apenas uma cliente? –Lorenzo também se levantou, deixando o prato sobre o meu e me encarando com um sorriso sorrateiro nos lábios.

     ― Em um sábado à noite? –Indaguei- Não mesmo! –Ri.

     ― Sabe, você deveria sair com o David, tenho certeza de que ele te apresentaria umas pessoas legais. –Ele sugeriu.

     ― Não, obrigada, não acho que seja o momento certo para isso.

     ― Você que sabe. –Ele deu de ombros, atravessando o corredor e indo até o seu quarto.

     Assim como Lorenzo, fui para o meu quarto, tendo certeza de que o único encontro que eu queria ter era com a minha cama. Enquanto colocava meu pijama, ouvi uma mensagem chegar no meu celular. Me sentei na cama, puxando o edredom e me cobrindo, notando que apesar de ser um número restrito, o DDD era de Los Angeles e imaginando que poderia ser algo do trabalho, abri a mensagem, ficando completamente chocada ao ver fotos de Eric com uma enfermeira do hospital em que eu trabalhava.   

O que acontece em Vegas, nem sempre fica em VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora