― Já vai? –Amber disse entrando no meu consultório, me observando tirar meu jaleco e guardar algumas pastas no armário.
― Já sim, vou para casa descansar um pouco, mas amanhã bem cedinho estou de volta, o diretor quer que eu reponha os dias que perdi aqui no hospital enquanto estava no Rio de Janeiro, e acredite, o plantão de hoje foi só o começo.
― Você está bem? –Minha amiga me olhou preocupada e pelo seu olhar, soube que se referia a Lorenzo.
― Estou ótima! –Garanti, apanhando minha bolsa.
― Desculpe insistir nesse assunto, mas é que parece que esse tal de Lorenzo significou muito para você no tempo em que estiveram juntos, se quiser falar sobre isso...
― Não se preocupe Amber, estou ótima! –Me despedi dela com um beijo na bochecha- E como você mesma disse, ele significou, no passado. –Ressaltei, saindo pelo corredor.
Depois de chegar ao estacionamento do hospital e entrar no meu carro, agarrei o volante com força, respirando fundo, antes de dar ré e seguir em direção ao meu apartamento.
Já haviam se passado pouco mais de dez dias e apesar de garantir a todos que estava bem, no fundo, eu estava devastada. Eu amei o Lorenzo como jamais amei alguém, e mesmo que o que tenha acontecido entre nós possa ser considerado por muitos uma paixonite, tinha a triste ideia de que jamais voltaria a ter aqueles mesmos sentimentos por outra pessoa.
Dois dias após retornar a Los Angeles, voltei para o meu trabalho no hospital e acreditava que minha profissão ainda era a única coisa que conseguia me manter com os pés no chão e a cabeça no lugar.
Eu gostava de estar no hospital, gostava de estar ajudando as pessoas e ultimamente, estava aceitando de bom grado os longos plantões noturnos que o diretor estava me dando, para compensar os dias de trabalho perdidos, pelo menos assim, evitava de me entupir de brigadeiro e chorar horas a fio pelo Lorenzo, que a essa altura já deveria ter voltado a passar o rodo em todo mundo e a ser o boêmio das noites cariocas.
Uma questão boba me veio à cabeça e no momento seguinte, só conseguia pensar com quantas mulheres Lorenzo deveria ter ficado nos últimos dias, não que isso fosse da minha conta.
Ao chegar ao meu apartamento, depositei as chaves do carro, meu jaleco e minha bolsa sobre o balcão da cozinha, eram pouco mais de nove horas da noite. Não teria que cobrir nenhum plantão noturno naquele dia, mas em compensação, havia trabalhado o dia todo e ainda estendido um pouco mais meu horário de saída, mesmo assim, estava grata por poder passar pelo menos uma noite tranquila em casa.
Preparei um sanduíche e depois juntei as roupas sujas e as coloquei na máquina de lavar, eu estava um caco e tudo o que eu mais desejava, era tomar um bom banho e me atirar na cama.
Estava no meu quarto, trocando a roupa de cama, quando o porteiro me ligou, avisando que tinha visita. Eu não estava esperando ninguém, mas mesmo assim pedi que subisse:
― Oi Manuela, como vai? –Eric disse parado a porta, após atende-lo.
― Eric? –O encarei surpresa- O que faz aqui?
― Pensei em passar para dar um oi, tudo bem se eu entrar? Trouxe vinho. –Ele disse, erguendo uma garrafa.
Mesmo relutante, deixei que ele entrasse, atribuindo isso a falta que sentia de uma companhia masculina. Depois de servir duas taças com vinho, nos sentamos no sofá da sala:
― Ainda não me disse o que veio fazer aqui. –O olhei, deslizando meu indicador pela borda da taça.
― Vim ver como você estava, mas também vim pedir desculpas pela forma que agi quando nos encontramos no Rio de Janeiro, eu senti ciúmes por você estar saindo com outro cara e peço perdão por isso, sei que me comportei como um louco. –Ele parecia estar sendo sincero.
― Naquele dia, você tentou me avisar sobre o Lorenzo ser estéril, não tentou? Como você sabia?
Ele bebeu um longo gole de vinho, antes de finalmente me responder:
― Quando soube que vocês estavam saindo, pedi que levantassem a ficha desse cara e como tenho vários amigos médicos no Brasil, não foi difícil descobrir logo a verdade.
― Você o investigou? –O encarei chocada- Você é louco, Eric!
― Louco por você, Manu! –Ele disse, ficando em silêncio por alguns instantes- Eu sei que agi mal e que o que fiz foi antiético, mas eu precisava ter certeza de que você não estaria correndo perigo ao lado dele.
― Vocês se encontraram, não foi? O que você disse a ele? –O questionei.
― Como assim? –Ele se fez de desentendido.
― O Lorenzo me contou que era estéril, logo após o meu encontro com você, não acredito que isso seja coincidência.
― Eu só disse a ele o que qualquer outra pessoa que se preocupa diria, disse que ele precisava contar a verdade a você. –Ele disse calmo, se servindo com mais vinho.
― Não minta para mim Eric, o Lorenzo terminou comigo após isso! O que você disse a ele? –O pressionei.
― Eu já disse, Manu! Eu não disse nada a ele, só pedi que fosse sincero com você!
Me levantei do sofá, sem saber se deveria ou não acreditar em Eric:
― Eu sei que é difícil e que o que você mais queria agora era alguém para culpar –Ele se aproximou de mim de forma cautelosa, segurando minha mão- Mas se ele te deixou, Manu, foi por vontade dele.
Não disse nada, afinal, de certa forma, ele estava certo:
― Olha, eu sei que eu pisei feio na bola com você, mas você Manu –Ele tocou meu rosto- Foi a única mulher que já amei de verdade e eu ficaria muito grato se me desse uma segunda chance.
― Eu sinto muito Eric, mas meu coração não está aberto para ninguém no momento -Afastei sua mão.
Eric recuou um pouco, parecia não acreditar que estava sendo rejeitado. Me preparei para um grande chilique, mas não foi o que aconteceu:
― Tudo bem, eu entendo, mas saiba que estou aqui, para o que você precisar.
Ignorei suas palavras, o despachando de forma grosseira:
― Se não se importa, eu estou cansada, passei o dia todo no hospital e eu queria muito tomar um banho e ir para a cama.
― Claro –Ele disse sem jeito, provavelmente captando a mensagem- Foi ótimo te ver Manu e espero que as coisas voltem a ficar bem entre nós dois –Ele tentou beijar meu rosto, mas eu me esquivei, o deixando ainda mais embaraçado- Até mais.
― Até.
Quando ele apanhou seu casaco e saiu pela porta, me certifiquei de pedir ao porteiro que nunca mais o deixasse subir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O que acontece em Vegas, nem sempre fica em Vegas
RomanceDepois de descobrir que o relacionamento de quase três anos não havia passado de uma farsa após pegar o seu namorado na cama com outra, tudo o que Manuela queria era poder passar um final de semana tranquilo em Las Vegas ao lado de suas duas melhore...