Capítulo 34 - Lorenzo

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     ― Então Lorenzo, eu estava pensando em uma estrutura de três andares, onde dividiríamos os escritórios e... Você está me ouvindo? –O cliente me questionou, após perceber que estava olhando alguma coisa no meu celular.

     ― Estou –Coloquei meu celular sobre minha mesa, o observando- Faremos o seguinte, começarei a desenhar uma planta para o seu projeto e assim que tiver algo, marcamos uma nova reunião, está bem?

     ― Está bem, também acho que é uma boa ideia marcar uma outra reunião, você parece estar um pouco disperso hoje. –O cliente se levantou um pouco irritado, dizendo que aguardaria que eu entrasse em contato e depois saiu do meu escritório a passos largos.

     Levei minhas mãos ao meu rosto respirando fundo, eram as primeiras horas da manhã, mas eu já me sentia mais cansado do que em um dia todo de trabalho.

     A preocupação que sentia com Manuela também não estava ajudando muito e de cinco em cinco minutos, eu conferia as mensagens no meu celular, esperando que ela me desse pelo menos alguma garantia de que estava bem. Eu não fazia ideia de para onde ela poderia ter ido e isso me deixava louco:

     ― Senhor? –Minha secretária disse após abrir a porta lentamente- O senhor me pediu para que o avisasse quando o senhor David chegasse, ele acabou de ir para a sala dele.

     ― Obrigado. –Agradeci, me levantando abruptamente da minha poltrona e indo até o escritório de David.

     Ao abrir a porta, o encontrei tirando uma papelada de dentro de sua bolsa e a depositando sobre sua mesa:

     ― David, eu preciso falar com você. –Falei, antes mesmo de o cumprimentar.

     Em outra circunstância ele teria se mostrado preocupado, mas por alguma razão, ele simplesmente tentou me ignorar, apresentando uma desculpa:

     ― Olá Lorenzo –Ele disse vago- Será que podemos conversar depois? Vou receber um cliente agora.

     ― David, a Manuela sumiu e eu não faço ideia de para onde ela possa ter ido! Você tem alguma notícia dela? –Disse de uma vez, torcendo para que ele tivesse algo positivo para me dizer.

     David deixou a papelada de lado e se apoio na mesa, me olhando com descaso:

     ― O que você queria que ela fizesse? Que continuasse no seu apartamento após você terminar com ela? –Ele disse ríspido.

     ― Se você sabe, então isso significa que você falou com ela –Me aproximei, tentando arrancar mais informações dele- Por favor, me diga onde ela está.

     ― Para quê? Para que você parta ainda mais o coração dela?

     Fiquei em silêncio. David estava certo, o que eu poderia dizer ou fazer que a fizesse se sentir melhor?

     Ao baixar meu olhar, David se aproximou, tocando meu ombro:

     ― Cara, nós somos amigos a tanto tempo, que eu entendo que você deva ter tido alguma razão muito especial para terminar com a Manuela, mas ela foi a melhor coisa que já te aconteceu em anos, não acredito que vá deixar que tudo acabe assim.

     ― Você não entenderia... –Murmurei, o fazendo perceber que a situação era mais complicada do que aparentava ser.

     ― Não entenderia o quê? Que você está apenas tentando protege-la?

     ― Ela te contou? –O olhei sério.

     ― Ela não precisou, teria alguma outra razão? -Em meio ao silêncio, David continuou- A Manuela está bem, ela está no meu apartamento e quando sai mais cedo, a deixei em prantos, chorando por você. –Ele segurou firme em meus ombros- Lorenzo, se você realmente a ama, vá até lá e concerte tudo, não deixe que tudo acabe por causa de um orgulho bobo.

     ― Não é orgulho!

     ― É o que então? –Ele me confrontou- Quer saber, eu tenho uma reunião agora, se quiser ir até lá, vá! Você sabe onde eu moro. –Ele apanhou alguns papéis, saindo e me deixando sozinho na sala.

     Com a cabeça quente, retornei à minha sala, peguei as chaves da minha Land Rover e sai apressadamente pela recepção, sem dar a minha secretária sequer a chance de perguntar aonde eu estava indo.

     Comecei a dirigir pelas ruas do Rio e quando me dei conta, estava em frente ao prédio em que David morava. Através da janela do carro, conseguia ver a varanda de seu apartamento e o fato de estar a apenas alguns metros de Manuela, fez meu coração pulsar forte.

     Minha vontade era de subir até lá, desfazer toda a merda que havia feito na noite anterior, toma-la em meus braços e leva-la para meu apartamento, aonde a amaria a noite toda e nunca mais a deixaria ir de novo.

     Mas ao invés disso, me recostei no banco e chorei. Chorei como uma criança que se perde dos pais:

     ― Droga! Droga! Droga! –Blasfemei, esmurrando o volante com força, me odiando mais a cada segundo por ser o que era.

     Enquanto isso, na rua movimentada, pessoas caminhavam pelas calçadas apressadas, conversando ao celular, enquanto motoristas passavam zunindo ao lado, todos alheios a dor e ao sofrimento pelo qual estava sentindo e passando naquele momento.

     Logo a frente, quase na esquina, havia uma maternidade e eu observei quando um carro estacionou esgueirado, e um homem saltou para fora, correndo até a porta do passageiro e ajudando sua mulher a descer. Ela estava grávida, e pela agitação, conclui que o bebê nasceria em algumas horas.

     Senti uma pontada no meu coração ao perceber que nunca saberia qual é a sensação de se tornar pai, de segurar um filho no colo, de ouvir seu chorinho pela primeira vez, de vê-lo crescer dia, após dia, de ama-lo e educa-lo.

     No fundo, eu sempre quis me estabilizar, ter uma família, um lar... Ir a festas e dormir com uma mulher diferente a cada dia estava se tornando exaustivo, o sexo era como algo automático, sabia que já não sentia mais tanto prazer quanto deveria e sempre no final da noite, eu me sentia vazio e solitário, como se minha vida se resumisse a satisfazer as outras pessoas, e talvez fosse isso mesmo, afinal, qual seria a outra função de um homem estéril?

     A vinda de Manuela para o Rio de Janeiro virou minha vida de cabeça para baixo, eu já havia me conformado com a minha condição, mas ela me fez perceber que havia muito mais para se viver e essa era a parte difícil. Era fácil para mim recordar cada uma das nossas brigas, discussões e também da infantilidade que havia envolvido cada uma delas, do nosso primeiro beijo em búzios e de como eu passei a deseja-la depois daquele dia, da primeira vez que fizemos amor, e de como foi explosivo, excitante e diferente para mim, assim como foram todas as outras vezes que se seguiram. Sabia que depois dela, minha vida passaria a ser dividida em uma "vida antes e uma vida depois da Manuela", porque duvidava que algum dia fosse capaz de esquecê-la e a vida que estava prestes a ter sem ela, me assustava.

     Cessada minhas lágrimas, dei partida no carro e ao olhar novamente de relance para a varanda do apartamento de David, vi Manuela. Devido à distância, ela não passava de apenas um borrão aos meus olhos, mas ainda assim, era ela que estava ali, tão próxima e ao mesmo tempo tão distante de mim:

     ― Entende agora por que eu não posso ficar com você? –Sussurrei, na esperança de que de alguma forma ela me ouvisse e entendesse meus motivos.


     Naquele dia, não consegui mais voltar para a empresa, cancelei todos os meus compromissos, alegando que estava mal e passei o dia todo em casa.

     Pela noite, não pude deixar de reparar no quanto meu apartamento ficava vazio e silencioso sem a presença de Manuela, e eu juro que daria qualquer coisa para poder ouvir sua risada ecoando pelo corredor apenas mais uma vez.

     Sentado no sofá, tomando uma cerveja e assistindo a uma partida desastrosa de futebol, recebi uma mensagem do meu advogado que me deixou mais próximo de uma vida "pós Manuela".

     A última audiência para o nosso divórcio havia sido marcada.

O que acontece em Vegas, nem sempre fica em VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora