Capítulo 21 - Manuela

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     Katie? A encarei, recordando aquele nome e a reconhecendo da foto que havia encontrado na gaveta do criado mudo de Lorenzo, era com ela que ele quase havia se casado.

     Um silêncio constrangedor pareceu pairar sobre nós e por um breve instante, pareceu não haver mais ninguém no restaurante:

     ― Faz muito tempo desde a última vez que nos vimos. –Katie comentou desconcertada, após longos segundos o encarando.

     ― É, faz sim. –Lorenzo respondeu brevemente, parecia chocado com a presença dela ali.

     ― Não sabia que estava namorando. –Katie olhou de Lorenzo para mim com um sorriso.

     ― Imagina, nós somos apenas... –Me apressei em dizer, não queria que ele tivesse que passar pelo constrangimento de explicar a confusão que éramos, mas ele me interrompeu.

     ― É, estou sim, essa é a Manuela. –Lorenzo havia mesmo me apresentado como sua namorada?

     ― Fico feliz por vocês dois. –Katie nos lançou um sorriso tímido, cruzando os braços aparentemente envergonhada.

     ― Vamos mamãe! –A menininha loira que segundos antes havia passado por nossa mesa correndo se aproximou, puxando a barra do vestido de Katie.

     ― Calma filha, a mamãe já estava indo! –Ela pegou a menina no colo.

     ― Sua filha é linda. –Lorenzo disse sincero, encarando a criança com afeto.

     ― Obrigada. –Katie disse sem jeito, ajeitando uma mecha de cabelo da filha atrás da orelha.

     ― E aí, prontas? –Um homem alto, vestindo terno e gravata, um pouco calvo e de olhos negros se aproximou, envolvendo Katie pela cintura.

     ― Já estávamos indo. –Ela olhou para nós, provavelmente notando a forma desconfortável com a qual nos remexíamos em nossas cadeiras- Estes são Lorenzo e Manuela, já lhe falei sobre ele.

     ― Mas é claro, é um prazer conhece-los! –O homem estendeu a mão nos cumprimentando- Lorenzo, a Katie mencionou que você é um engenheiro incrível! Que realmente é muito bom no que faz.

     ― Modéstia à parte, tudo o que eu faço, faço bem feito. –Encarei Lorenzo boquiaberta, sabendo que ele não estava se referindo apenas ao seu trabalho, pelo canto do olho, percebi as bochechas de Katie corarem.

     ― Estou pensando em aumentar minha advocacia, será que posso ir a sua construtora qualquer dia desses?

     ― Claro, vai ser um prazer poder desenvolver um projeto para você.

     ― E então, vamos? –O homem encarou a esposa, que parecia embaraçada demais para dizer ou fazer qualquer coisa.

     ― Claro, foi um prazer encontra-los e foi muito bom te ver de novo, Lorenzo. –Ela nos olhou rapidamente.

     ― O prazer foi meu. –Ele se recostou na cadeira, dando um longo gole em seu vinho, demonstrando estar gostando de toda aquela situação.

     ― Até mais. –O homem acenou, seguindo até a saída com a esposa e a filha.

     Apesar de esbanjar uma postura relaxada, percebi que enquanto se afastavam, Lorenzo os observava com certa melancolia e imaginei que o fato de Katie ter se casado com outro homem o incomodava, mesmo depois que se foram, ele continuou por um bom tempo olhando para a saída:

     ― O que foi aquilo? –Me apoiei na mesa, o olhando em total desaprovação.

     ― Aquilo o quê? –Lorenzo me olhou desinteressado.

     ― Por que você a tratou tão mal?

     ― Eu não a tratei mal. –Ele se serviu com mais vinho.

     ― O cardápio, senhores. –Um garçom se aproximou, com dois cardápios em mãos, mas eu fiz um sinal, indicando que não me entregasse o meu.

     ― Entregue apenas o do senhor -olhei de relance para Lorenzo- Eu já estou de saída. –Me levantei abruptamente da mesa, atraindo alguns olhares curiosos, que eu fiz questão de ignorar enquanto caminhava sem olhar para trás até a saída.

     Já do lado de fora, permaneci em pé no meio fio, aguardando que algum táxi passasse:

     ― O que você está fazendo? –Lorenzo parou ao meu lado, seus olhos cor de mel buscando os meus impacientes.

     ― É meio óbvio, não acha? –Acenei para um táxi, que surgiu ao longe.

     ― Manuela, não precisa ficar com ciúmes...

     ― Ciúmes? –O encarei irritada- Eu não estou com ciúmes! Só estou cansada da forma infantil como você lida com seus sentimentos e de como precisa humilhar e envergonhar as pessoas para se sentir bem!

     Lorenzo me encarava enraivecido, mas por alguma razão, minhas palavras pareceram encurralá-lo:

     ― Está na sua cara que você ainda gosta da Katie e só me apresentou como sua namorada, porque não queria demonstrar que mesmo depois de tanto tempo, você ainda vai para a cama com outras mulheres pensando nela! –Joguei minhas palavras, sem medo de onde iriam cair- E se quiser saber, não preciso que fique me apresentando para as pessoas como algo que não somos, eu não preciso viver de fachada!

     O táxi parou ao nosso lado:

     ― Acho que me enganei quando pensei que você pudesse ser diferente, esse é você, sempre vai ser. –Alcancei seus belos olhos decepcionada, o ignorando e entrando no táxi.

     Durante o caminho de volta para o apartamento, não consegui conter minhas lágrimas.

O que acontece em Vegas, nem sempre fica em VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora