― Bem, como aparentemente o matrimônio de vocês dois não passou de um grande mal entendido, decorrente da falta de informação, não vejo a necessidade de aplicar os métodos convencionais que costumamos seguir com os demais casais. –A juíza, uma senhora de meia idade, olhava de mim para Lorenzo com atenção.
Era segunda-feira e havíamos chegado ao local da audiência bem cedo, nossos advogados também nos acompanhavam:
― Também foi colocado que o senhor Lorenzo Montenaro não deseja acusar a senhorita Manuela Duarte por danos morais, essa decisão ainda permanece? -Ela continuou, encarando Lorenzo.
― Sim meritíssima. –Ele respondeu firme, olhando de relance para mim e eu o agradeci por aquilo.
― O que nos resta agora é aguardar que a certidão de casamento original venha dos Estados Unidos para que possamos dar continuação ao processo de divórcio dentro das leis previstas na constituição brasileira, até lá, está audiência permanece encerrada. –A juíza bateu o martelo, anunciando a sua decisão final.
Ao sairmos da sala, nossos advogados nos adiantaram que dentro de dez dias, no máximo, toda aquela situação já estaria resolvida:
― Obrigada por não querer levar o processo de acusação contra mim a diante. –Agradeci Lorenzo, quando já estávamos dentro da sua Land Rover.
― Não precisa me agradecer. –Ele disse, tirando seu paletó e o jogando no banco de trás do automóvel.
― Eu sei, só queria dizer que foi muito gentil da sua parte perdoar a besteira que David e eu fizemos. –O olhei sincera, o admirando por ter optado por ocultar o nome de David de todo aquele processo.
― Eu nunca faria isso com vocês –Lorenzo me encarou- Tem coisas que são mais importantes do que vencer um processo, Manu.
― É eu sei. –Mantive seu olhar- De qualquer modo, dentro de dez dias você finalmente se verá livre de mim. –Brinquei, mas por alguma razão ele não sorriu.
― Por favor, não faça parecer que você ir embora será algo bom, porque isso não é verdade.
― Não? –Levantei meu olhar para ele, não esperava que ele dissesse algo do tipo.
― Não, fora as brigas, tivemos momentos bons juntos. –Ele disse de forma ambígua, me deixando envergonhada- Eu gosto de estar com você –Ele murmurou, acariciando minha bochecha com seu polegar- Tanto que tenho medo de não saber o que fazer quando você partir.
Cada palavra sua soou verdadeira e eu senti meus olhos marejarem, não de tristeza, mas de alegria:
― Se esqueceu da promessa que fizemos? –Murmurei, minha voz embargada.
― Que promessa?
― A de que deveríamos nos lembrar do quanto nos odiamos, toda vez que achássemos que estávamos começando a gostar um do outro.
― Manuela, essa foi a maior mentira que eu já contei para mim mesmo, eu até tentei... –Ele fez uma pausa buscando as palavras certas, sabia que ele não era um homem que se expressava e admirava o esforço que ele estava fazendo por mim- Tentei não sentir nada, mas depois que te conheci, não consegui encontrar nada que me fizesse odiá-la. –Seus olhos cor de mel me fitaram receosos, me fazendo perceber que aquelas provavelmente deveriam ter sido as palavras mais difíceis que ele já deveria ter dito a alguém.
― Não sabia que era tão romântico. –Sorri, comovida com suas palavras.
― Eu sou muitas coisas. –Ele disse em um murmúrio, segurando meu rosto em suas mãos e me beijando.
Seus lábios se moviam contra os meus com doçura e paixão e quando finalmente os afastou, seu olhar cravou o meu repleto de desejo:
― Pensei em sair mais cedo da construtora hoje. –Ela colou sua testa na minha, me encarando profundamente, deixando transparecer o quanto ele me desejava naquele momento.
― Estarei te esperando. –Sussurrei, o puxando para mais um beijo.
Como o prometido, Lorenzo chegou do trabalho por volta das cinco e meia da tarde e depois de me encontrar na sala, me conduziu até seu quarto, onde nos amamos lentamente, em meio a beijos e a carícias que nos levavam ao céu:
― Isso é relaxante. –Murmurei recostada em seu peito.
Depois de intensos minutos de sexo, resolvemos tomar um banho de banheira:
― Talvez para você, mas não está nada relaxante para mim. –Suas mãos estavam envoltas do meu corpo, nossa nudez coberta apenas pela espuma.
― Você vê maldade em tudo. –O repreendi.
― Manuela, nós estamos nus em uma banheira, no que você quer que eu pense? –Ele disse sério e eu me virei, lhe roubando um beijo.
― Não quero que pense em nada. –Acariciei sua barba por fazer.
― Acho que eu nunca perguntei de onde você é.
― Eu já te disse que moro em Los Angeles.
― Não, quero saber de onde você é de verdade, onde nasceu.
― Eu nasci em Belo Horizonte, Minas Gerais.
― Isso explica esse seu sotaque.
― Eu não tenho sotaque! –Protestei.
― Tem sim, mas não se preocupe, adoro a forma exagerada como você puxa o R das palavras. –Ele me abraçou mais ao seu corpo, beijando meu pescoço.
― Eu não reclamo do seu sotaque carioca. –Disse.
― Só porque você gosta. –Ele riu, me fazendo sentar de frente para ele, beijando minha boca.
Suas mãos se moveram para minha cintura e meus seios surgiram em meio a espuma, roçando em seu tórax, enquanto minhas mãos estavam ao redor do seu pescoço, puxando seus cabelos gentilmente.
Nos afastamos com o som da campainha soando ao fundo, estávamos ofegantes e quando meu olhar alcançou o seu, não me lembro de ter me sentido tão irritada antes:
― Deve ser o entregador com a pizza que pedimos. –Lorenzo murmurou, beijando meu ombro.
― Eu já volto. –Sai da banheira me enrolando em uma toalha, praguejando baixinho enquanto vestia minha camisola.
Cruzei o corredor enraivecida, aquela campainha tinha que ter soado justamente agora? Abri a porta do apartamento de forma exasperada e ao invés de um entregador, o que encontrei foi uma senhora de aproximadamente quarenta e seis anos de idade, vestida em uma calça flare branca, uma blusa preta e uma jaqueta de couro marrom, ao redor do seu pescoço havia um maxi colar e um par de brincos dourados pendia em suas orelhas, nos pés, usava os tão sonhados sapatos de salto alto da sola vermelha:
― Olá, posso ajuda-la? –Perguntei sem jeito.
Percebi a mulher me olhar dos pés à cabeça e me senti completamente envergonhada por estar vestindo uma camisola tão sugestiva em frente a uma senhora tão elegante:
― Vim para ver o Lorenzo. –Ela disse, ajeitando sua bolsa Channel embaixo do braço.
― Esqueci de te entregar o dinheiro da pizza. –Lorenzo surgiu na sala, vestindo sua calça de moletom, que lhe caia de forma sexy nos quadris.
Ao notar a presença da senhora, ele a olhou com espanto:
― Mãe? O que faz aqui?
![](https://img.wattpad.com/cover/121233075-288-k542209.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
O que acontece em Vegas, nem sempre fica em Vegas
RomansaDepois de descobrir que o relacionamento de quase três anos não havia passado de uma farsa após pegar o seu namorado na cama com outra, tudo o que Manuela queria era poder passar um final de semana tranquilo em Las Vegas ao lado de suas duas melhore...