Capítulo 9- A troca de mensagens

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Daniel

Não sei o que deu em mim, mas eu precisava desse abraço. Nunca fui de contato, mas Alberto tem algo que me faz sentir bem.

Saio do abraço e vejo que ele está com um sorriso de canto de boca, aquele que me deixa muito sem graça.

_ O que foi is...

Não deixo ele terminar de falar, não quero ter que explicar nada. Me viro e abro a cerca branca e entro.

Quando estou próximo da porta, ainda ouço Alberto dizer: "esse garoto é surpreendente". Não me viro e fico sorrindo.

Ao abrir a porta vejo que está tudo apagado. Minha mãe já deve estar deitada, amanhã pergunto para ela como ficou a história do cursinho.

Subo as escadas em silêncio e abro a porta do meu quarto e o encontro do modo que eu o deixei. Me jogo na cama e sinto uma pontada de dor e assim algumas lembranças me vem à mente. Aquela tarde tinha sido intensa, mas um anjo o tinha salvado.

Pego o celular e vejo o número de Alberto gravado e mando uma mensagem.

"Quando chegar me avisa. Ok."

Deixo o celular de lado e tiro da minha mochila os livros, sei que preciso terminar a lista da apostila de literatura, mas minha cabeça não consegue fixar nada que leio.
Coloco a apostila de lado, e tiro da mochila o livro básico para o trabalho.

O livro é uma tragédia de Shakespeare que eu já tinha lido, porém resolvo reler. Sempre que paro e leio ou releio um livro vejo pontos que me fazem pensar.

Deixo tudo em cima da cama, o livro e a apostila com o trabalho. Minha sorte é que só preciso fazer os dois primeiros itens.

Me perco na leitura e ao olhar para meu celular vejo piscando uma mensagem. Abro e vejo que é do Alberto, dizendo que já estava em casa e estava tudo tranquilo.

Fico na dúvida se continua a conversa. Nunca fui de conversar com ninguém por mensagens, a verdade que sempre fui muito tímido e sozinho.

Minha mãe no início tentou me fazer sair, fazer eu interagir com as pessoas. Principalmente os garotos da minha idade, mas isso nunca aconteceu. Nunca me senti bem com aqueles meninos, na verdade sempre fui diferente.

Após o falecimento do meu pai acabou que os livros que de fato viraram meu refúgio, neles eu viajei, eu fui amigo de grandes heróis.

Volto meu olhar novamente para a tela e percebo que Alberto mandou outra mensagem.

" E aí Daniel, você já está estudando?"

Respiro fundo e decido manter a conversa, esse menino tem algo que me deixa bem.

"Eu tentei, mas não conseguia fazer nada. Aí resolvi reler o livro."

"Livro?"

"Sim, o de Shakespeare. O texto dele é base para responder as perguntas e montar o trabalho que o professor quer."

"Ah, eu já li isso quando era mais novo. Nem ia pegar para ler de novo. É só lembrar de famílias que são rivais, amor proibido e morte."

"Nossa, você resumiu Romeu e Julieta com três pontos. E eu aqui relendo."

"Ah, é que eu li numa época aí que me fez pensar, e se parar pra pensar está bem presente até hoje. Quem nunca viveu um amor proibido."

Paro de digitar e releio o que recebi. Como assim, quem nunca viveu um amor proibido. Alberto me surpreende a cada momento.

"Ah, eu nunca vivi."

"Sorte a sua, sempre foi correspondido"

"Na verdade, nem é sorte."

"Claro que é, você sempre foi correspondido pelas pessoas que amou. Você então faz sucesso com as meninas."

Não sei o que responder. Essa resposta traria muita coisa.

"Alberto, vou deitar. Não vou conseguir ler nada agora. Só vou tomar um banho antes, obrigado novamente pela a ajuda hoje."

Alberto demora a responder e eu vou tomar um banho. A cada novo contato com aquele menino, mais dúvida paira em minha cabeça.

Volto do banho e vejo que meu celular está aceso, ao olhar noto que Alberto me respondeu.

"Sem problema, já disse, qualquer um faria o que fiz. Você agradecendo assim, vou começar a me sentir um herói, tipo aquele dos filmes de aventura."

Ele não mencionou que mudei de assunto, e sei que ele entendeu.

"Mas você é um herói, na verdade você é um aventureiro, o meu aventureiro"

Releio e sorrio sozinho, mas, acabo apagando o final.

"Mas você é um herói, na verdade você é um aventureiro."

Arrumo minha cama e ponho de lado a apostila. Vou tentar apenas ler mais um pouco.

O celular pisca e abro a mensagem.

"Ok, se eu sou o aventureiro. Você é o meu nerd. Boa noite!"

Releio a mensagem e sorrio sozinho, aquele final. Eu sei que pode não ser nada, mas, meu coração nesse momento está batendo forte...

Livro I - O Nerd e o AventureiroOnde histórias criam vida. Descubra agora