Capítulo 14- A historia de Arthur

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Daniel

Continuo deitado no peito de Alberto, não quero levantar. Eu disse que contaria tudo para ele, mas não sei mais se consigo, não tudo.

A luz que entra pela janela, deixa tudo mais confortante, ela esquenta onde estamos, e minha cama que sempre me deixou me sentindo sozinho, agora me faz sentir completo.

Levanto a cabeça e Alberto está me olhando.

_ E aí meu nerd vai me contar sua história?

_ Vou.

Me sento de frente para ele, Alberto se encosta na cama.

_ Tudo começou quando eu tinha 12 anos. Na verdade eu acho que sempre foi assim, mas o que me lembro mesmo foi nessa idade. Eu fui passar férias num acampamento, meus pais me mandaram ir para eu conhecer novas pessoas. Desde sempre nunca tive muitos amigos e com o tempo, meus pais começaram a notar e me inscreveram nesse acampamento. Quando cheguei lá, logo vi que iria ficar sozinho também. Porém, uma noite eu sai para caminhar perto do lago e me sentei um pouco, eu pensei que estava sozinho e acabei chorando. Eu sabia que não adiantaria ir para lugar nenhum, eu não conseguia me encaixar porque eu mesmo não permitia ser eu mesmo. Naquela noite um garoto me viu e foi até mim. O nome desse garoto é Arthur.

Alberto me encara e percebo que ele ainda não entendi onde quero chegar. Respiro e continuo.

_ Você quer mesmo me conter isso?

_ Sim, só assim você vai entender porque eu parei. Ainda parece que foi ontem.

_ Então continue, não vou te interromper mais.

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A história sobre Daniel e Arthur (flashback)

"Arthur me viu chorando e quis saber o que tinha acontecido, eu só dizia que estava bem e ele não acreditava. Ele percebendo que não iria me levar para onde os adultos estavam, apenas ficou sentado ao meu lado. E eu chorei em silêncio.

Naquela noite eu fiquei sentado em silêncio com um cara do meu lado, sem dizer nada. Quando as lágrimas pararam eu me levantei e me virei para voltar para a cabana onde eu estava. E o Arthur veio comigo.

Quando chegamos à luz das cabanas eu notei que ele era um dos monitores por conta da blusa dele ter uma faixa azul, a cor que definia quem eram os monitores.

Eu entrei para a cabana e não me despedi ou disse nenhuma palavra com ele.

Durante todos os dias daquele verão, ele me olhava e eu nada dizia. Porém, na última semana ele ficou responsável pelo grupo da minha cabana.

Na terça daquela semana eu acabei me machucando por conta de uma brincadeira de cabo de força e tive que ficar quieto na cabana o dia todo e ele ficou comigo.

Eu fiquei quieto, não me sentia a vontade com aquele menino, algo em mim dizia que era melhor ficar afastado, mas..."

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Não consigo continuar, aquele dia, aquela semana, foi tão perfeita mas tão terrível.

Alberto me puxa e eu o abraço e fico chorando em seu ombro.

_ Daniel, se você não quiser, não precisa me falar nada. Como lhe disse ontem, todos tempos segredos.

Eu o entendo, mas eu preciso contar. Algo que nunca contei para ninguém. Ele precisa saber, porque assim, ele vai poder perceber...

Encostado nele, eu continuo.
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A história sobre Daniel e Arthur (flashback)

Arthur cansado de me vê calado, pega sua toalha e vai tomar um banho e eu fico sozinho no quarto. Quando ele volta, está só de toalha e me olha. Eu o encaro e desvio o olhar.

Arthur tinha 16 anos e era aquele típico garoto que vivia praticando esportes, então quando o vi apenas de toalha fiquei sem jeito e ele percebeu meu desconforto.

Ele se aproximou de mim sorrindo, e encostou suas mãos em meu rosto que estava virado. Eu não reagi e ele entendeu que podia continuar. Arthur me deu um beijo no rosto e se afastou. Eu fiquei sem entender, algo em mim dizia que era para eu me afastar mas eu apenas fiquei sorrindo.

Naquele dia ele se trocou na minha frente e depois puxou conversa sobre o campo, e eu respondi. Ficamos aquela tarde toda conversando, e os dias que se seguiram também. Onde eu ia, ele ia atrás. Eu realmente achei que tinha encontrado alguém para quem pudesse me abrir.

Na sexta-feira saímos para caminhar e quando chegamos ao topo da montanha ele tirou uma foto minha sorrindo de algo que ele tinha me dito. E eu resolvi me abrir com ele, eu contei que nunca tinha sido eu mesmo, por medo e que isso não me fazia bem.

O Arthur me perguntou o que era e eu contei.

_ Arthur, eu acho que gosto de garotos. E isso é algo que eu sinto.

Arthur me olhou e sorriu, e quando isso aconteceu eu senti um calafrio nas costas.

Ele não disse nada, apenas ouviu e falou que tava na hora de voltarmos.

No sábado notei que ele estava estranho comigo, porém no fim da tarde ele me chamou e fomos caminhar na floresta. Ele me levou para um canto mais afastado e quando paramos me encostei em uma árvore. Arthur se aproximou de mim e me prensou.
A forma que ele me empurrou me deixou assustado.

_ Eu sei o que você quer, eu sempre soube e ontem você só me confirmou.

Arthur veio para me beijar, e eu não me afastei. Porém, ele empurrou minha cabeça para baixo e eu entendi o que ele queria.

E comecei a empurra-lo e ele não se afastava. Não tendo outra opção eu o chutei e ele caiu. E eu corri.

Quando voltei ao acampamento achei que tudo estava acabado, só queria ir embora.

A noite chegou e eu não tinha saído da cabana, não queria encontrar com ele pra nada ou com ninguém.

Fiquei escondido, até começar a ouvir risadas e risadas, a porta foi aberta e alguns garotos entraram me chamando de tudo. E eu não entendi até um gritar que eu tinha dado em cima do monitor que eu era um nojo.

Eu neguei, chamei de louco, mas aí ele pegou o celular e me mostrou, me mostrou uma foto minha daquele dia. Quem tirou a foto fez parecer que eu abaixava por querer e..."

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Não consigo continuar, as lembranças voltam e eu já molhei a blusa toda de Alberto de tanto chorar.

_ Chega Daniel, não precisa continuar.

_ Preciso.

Fecho os meus olhos e resolvo terminar de contar.

_ Alberto naquela noite eu apenas chorei em silêncio, ouvi todas as risadas e no fim, só restou o silêncio. Quando acordei fui o primeiro a levantar e liguei para meus pais. Eles iriam me buscar após o almoço, mas implorei para irem logo. E o fizeram. Meus pais estavam na mesma cidade que era o acampamento e chegaram rápido. Eu entrei no carro quieto, e ao abrir a mochila para tirar meu mp3 eu vi uma foto, uma foto minha sorrindo e atras a letra do Arthur. A mensagem me deixou pior, porque mesmo ele sendo um monstro. Foi a primeira vez que fui eu mesmo. A única vez até você aparecer.

Termino de contar e olho diretamente para Alberto. Eu me levanto, não consigo olhar para ele. Agora ele sabe.

Alberto me puxa e eu caio na cama, ele se aproxima do meu rosto e sussurra.

_ Meu nerd, pra mim, você é perfeito.

Ele se aproxima e nossos lábios se tocam. Eu estou beijando um anjo.

Livro I - O Nerd e o AventureiroOnde histórias criam vida. Descubra agora