Aquilo que se esconde

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Claire estava diante dos livros, tentando inutilmente estudar para as provas de fim de período. A verdade era que sua mente ia longe, voando por lembranças recentes, sonhos fantásticos e fragmentos de memórias. Em comum, todos se ligavam a um homem em específico, o mesmo por quem estava perdidamente apaixonada: Adam Turner.

Ela fez anotações em uma folha de caderno, tentando chegar até alguma conclusão, coisa que pareceu ainda muito distante de acontecer.

— Irmãos Fremman. — Ela circulou os nomes dos dois irmãos desaparecidos, ligando esse círculo ao nome de Adam. — Não pode ser coincidência, é óbvio demais!

Os dois sumiram na mesma noite em que Adam surgiu na cidade, e foram vistos pela última vez na casa dele. Disso a cidade toda sabia. O que nem todos sabiam, é que eles a doparam para abusarem dela. Só de lembrar daquilo, a garota sentiu um embrulho no estômago. Seus próprios colegas de faculdade e vizinhos de tantos anos, capazes de algo tão desumano e sujo, e justo com ela!

Por um tempo, Claire não teve certeza, mas aos poucos a mente foi clareando, e logo tudo se tornou um fato. Depois, flashes de memórias com Adam em meio a uma luta com eles. Barulho de tiros, palavras desconexas, gritos de dor... Tudo ficou confuso demais, mas indicava que ao contrário do que o homem disse a ela, a estudante precisou sim de um salvador naquela noite. E esse salvador foi ele mesmo.

— Ele matou vocês dois... de verdade? Seria capaz de cometer um duplo-homicídio, algo assim tão drástico, e por uma desconhecida? — ela pensou alto, olhando para o caderno. — E qual sua relação com ele, afinal?

A loira se fez essa pergunta ao circular o nome de Jeanne, o ligando ao de Adam. Aquela femme fatale fez questão de falar com ele na festa, e talvez não fosse só por conta de uma paquera, refletiu. Claire ouviu um boato sobre eles terem discutido nos fundos, e independentemente disso, a mulher confessou o assassinato dos irmãos, segundo saiu na internet.

— Se for verdade, então foi ela que matou eles, e não o Adam. Ou no mínimo são cúmplices no crime! — ela bebeu um chá bem quente, tentando aquecer os neurônios. — Mas por que droga ela confessaria isso assim pra polícia? Segundo o site, ela confessou ainda no hospital, e inocentando o Adam.

Claire tinha certeza de que a fonte anônima era a policial Emma, logo, confiável. Era esse tipo de coisa que nublava tudo. Turner era rico, herdeiro de um casarão histórico em uma cidade em que nunca pisou, mas da qual sabia muita coisa sobre a fundação. Não tinha redes sociais, se negava a dar detalhes sobre a família, viagens ou negócios, e tinha aquele jeito excêntrico de falar e se portar sobre tudo que fosse moderno. O próprio homem não fazia muito sentido, como compreender suas ações sem sequer compreendê-lo minimamente? E isso vinha de uma mulher que quase fez amor com ele.

Ela mastigou uma salsicha empanada, enquanto circulou outro nome: Paul Davis.

— Por que tanto interesse no homem, professor? Você inventou que a motivação era o casarão, mas mal focou a conversa nele, parecia mais querer encurralar o Adam em algum assunto que o denunciasse como um impostor. Ficou pressionando, além de ter algumas atitudes no mínimo estranhas, mesmo para um nativo dessa cidade.

Suspirando profundamente, moveu de forma lenta e preguiçosa a caneta para circular a última palavra: "EU".

— Não entendo o que você sente por mim... Não entendo o que sinto por você. É só "química"? Mas por qual motivo esses sonhos malucos não me deixam?

"Não se pode fugir de um amor que transcende o tempo". De novo aquele pensamento, de novo aquele sensação invasiva de que havia uma outra voz soprando essas palavras ao seu coração. Claire se ergueu, jogando o caderno na parede.

Filhos da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora