Irmãos e Irmãs

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Lá estava ela, sentada no chão de pedra com a cabeça baixa e abraçando o próprio corpo, por conta do frio. Usava um vestido de época, tão belo e cheio de adereços quanto ultrapassado. Claire vinha usando muito aquele tipo de roupa nas últimas semanas. Um agrado para o irmão. 

"Irmão". Era estranho para a jovem usar aquela palavra, mesmo em pensamento. Foi criada como filha única, e se o pai tinha outros filhos em seus muitos casos, nunca conheceu qualquer um deles. Vinte e um anos, para só então encontrar seu irmãozinho perdido. Claro, quando ela parava para refletir com calma, era estranho que um garoto surgido do nada simplesmente se apresentasse como seu irmão e ela acreditasse, sem exigir provas ou explicações. Mais do que isso, o deixasse morar com ela e largasse tudo apenas para cuidar dele. Que passassem horas conversando, ela lhe fazendo o cafuné que tanto gostava, até que o menino adormecesse ao amanhecer. Sim, quando parava para pensar, não fazia qualquer sentido.   

Tudo bem que os cabelos e olhos fossem como os dela, mas isso não era prova de nada. Ela não era estúpida, sabia disso. Mas a verdade era que toda vez que tentou questioná-lo sobre aquilo, se viu totalmente convencida sobre o elo entre eles. Era quase sobrenatural a forma como o garoto conseguia dobrá-la com poucas palavras, apenas reafirmando o que já fora dito. Thomas era seu irmão, seu irmãozinho amado de quem ela sentia enorme saudade, mesmo que nunca o houvesse conhecido antes. O que não fazia sentido! Aliás, o que fazia sentido em sua vida atualmente? Sua mente estava tão confusa, perdida, como se nada se encaixasse ou fosse real. 

O som de passos próximos a fizeram erguer os olhos. Eram eles, os estranhos amigos de Thomas que deviam protegê-la. Não fazia ideia de como seu irmão, um menino de dez anos, podia ter amigos tão incomuns. Homens e mulheres de idades variadas, portando armas e com um olhar que a fazia se arrepiar de cima a baixo. Talvez tivesse relação com os caninos protuberantes, o fato dos olhos as vezes ficarem rubros ou do cheiro de sangue que empesteava tudo. É, sem dúvidas o problema era aquele! Pareciam com Tom, sofriam da mesma "doença" que ele lhe confessara ter.  

Mas se seu irmão mandou confiar neles, se disse que aquilo era normal, não havia motivos para duvidar. Seu irmão a amava, e jamais mentiria para ela. Ele não era como seu pai, que por toda vida enganou sua mãe. Ele não era como Adam Turner. Sua voz era doce e gentil, cada palavra confortando seu coração e lhe trazendo paz e confiança. Estava longe dele há apenas uma hora, e mesmo assim sentia tanta falta! Como se atendendo a uma prece sequer pronunciada, ele estava diante dos seus olhos novamente. Claire se ergueu e correu até ele, o abraçando forte e sendo correspondida. 

— Irmãozinho, não aguentava mais esperar. — Sua mão acariciando o rosto dele. — Descobriu algo sobre minha amiga Evelyn?  

— É, eu descobri sim.  

Claire o encarava ansiosa, o silêncio que se seguiu a resposta a deixando ainda mais nervosa. 

— Então fala logo, estou ficando maluca já! 

Ela balançava o pequeno pelos ombros, todos os outros quinze indivíduos olhando admirados para aquela ousadia.  

— Tudo bem, desculpe o suspense — disse ele, com  uma expressão triste. — Sua amiga está morta.    

— Estou falando sério Tom, pare de brincar comigo, ainda mais com algo sério. — Apesar de tudo que ouviu pela linha, Claire não poderia acreditar naquelas palavras. Obviamente eram uma mentira. — Chega a ser de muito mau gosto. 

Ele então segurou nas mãos dela, fixando o olhar.  

— Evelyn foi morta, não houve tempo de ajudar. Sinto muito em te dizer isso, Alice. 

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