Santos e Demônios - parte II

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Paul ainda estava digerindo as últimas palavras da mulher, de modo que não percebeu a aproximação até ouvir a voz:

— Professor? — Voz de Adam Turner, arrancando Paul de seus devaneios.

Ele olhou para o vampiro, surpreso. Só então se deu conta da postura da caçadora, de quem estava a ponto de fazer uma bobagem, e instantaneamente voltou ao seu papel.

— Senhor Turner, não esperava vê-lo de novo tão cedo — disse ele, em seguida olhando para a madre. — Pietra, esse é Adam, Adam, essa é Pietra.

Ela fez um aceno com a cabeça, o rosto sério, estendendo a mão firme para que o vampiro apertasse. Em uma sutil demonstração de agilidade, força e graça, o homem virou e beijou a mão da mulher, desviando dessa forma dos anéis de prata e afastando os lábios antes que ela pudesse tocá-lo.

— Me sinto honrado em conhecê-la.

Olhando aquele encontro inusitado, de caçadora e monstro, Paul conseguiu sentir a tensão pairando no ar. Adam, um vampiro lendário com no mínimo trezentos anos. Pietra, uma caçadora com uma intensidade e obstinação como ele nunca viu.

A arma dela embaixo da mesa apontava para o vampiro, que se sentou ao lado dos dois, as mãos sobre o queixo.

— Eu queria mesmo encontrá-lo, mestre Davis. O que acha de marcarmos uma hora para ir a minha casa ainda essa semana?

Paul analisou a situação, o vampiro que lhe convidava, a provável vampira tão perto, e a caçadora, o encarando. Então respondeu:

— Pode ser uma boa ideia, mas nada nos impede de conversarmos agora mesmo. — E se levantou, juntando a mesa ao lado com a sua. — Peça para sua amiga se juntar a nós, vamos nos divertir um pouco.

Pietra olhou para ele, o encarando com ar de surpresa. Quanto ao vampiro, apenas riu daquela cena inesperada, em seguida fazendo um gesto para a vampira: um convite para "o circo". Ela ficou sem ação por alguns instantes, depois desfilou em direção a eles, garrafa de vinho em mãos. Por fim, parou diante do grupo, encarando friamente a caçadora.

— Mestre Davis insiste para que nos juntemos a ele e sua amiga — disse Adam, sorridente.

— Me chamo Pietra, e é um prazer conhecê-la, senhora... ? — perguntou a madre, mão estendida devidamente ignorada pela vampira.

— Jeanne Hilton — respondeu ela, olhar altivo. — Dispenso essas formalidades, queridinha.

— Mas eu insisto — disse a caçadora, segurando com força a mão dela, seus três anéis de prata queimando a pele da mulher.

A vampira soltou um leve gemido de dor, e se afastou, escondendo a queimadura. Paul apenas observou o trio incomum, formado por uma caçadora nada sutil, uma vampira misteriosa e um outro que parecia querer ver o circo pegar fogo, assim como ele.

— Quem é esse mesmo? — Jeanne perguntou para Adam sobre o professor, enquanto se sentava. A mão dentro da bolsa empunhando uma arma escondida, como Paul logo notou.

— Mestre Davis é Antropólogo, para além de um cavalheiro bastante interessante — respondeu o vampiro.

— Sou só um professor, alguém que busca a verdade e deseja ver o sol do conhecimento nascendo sobre todos — disse ele, estendendo uma porção de seu peixe para Adam. — Aliás, devia comer um pouco, homem. Parece que só sabe beber, nunca o vejo comer nada! Mas caso o peixe não seja do seu agrado, podemos pedir algo mais ao seu gosto: quem sabe uma carne mal passada... pingando sangue.

As duas mulheres se encaravam, a cada provocação do professor, mais perto de abraçar a violência. Adam e Paul igualmente se olhavam, mas diferente delas, sorriam, se divertindo com tudo aquilo.

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