Damas em Xeque - parte I

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O professor desceu as escadas de seu porão, levando nas costas uma adolescente nua, acorrentada e inconsciente. Jeanne, a vampira que ele sequestrou de dentro da prisão, assistindo a cena.

— É pra mim? — perguntou Jeane. — Eu até que prefiro os ratinhos, mas ela quebra um galho.

Apesar das humilhações, privações e tortura a que a vampira foi submetida, ela não perdeu totalmente o espírito. Paul estava com a armadura, mas sem máscara. Logo tratou de prender Mandy Duncan em correntes de prata ainda mais grossas que as que prendiam Jeanne, reservadas para momentos como aquele.

— Que foi, Paulzinho, deu em cima da menina e ela te deu o fora? Então cansou da sua obsessão pela ex-vampira e agora está indo atrás de lobinhas adolescentes? — Ele sabia que ela tinha como única arma restante tentar afetá-lo de alguma forma, da menor que fosse. Por isso se esforçou para ignorá-la. — É cada tara estranha.

Jeanne saber sobre Mandy não era novidade. A identidade dos licantropos de Bleak Hill fez parte das informações que arrancou dela. A família Duncan estava já em seu radar, Jeanne só não falou sobre o tal Andy que invadiu a igreja. Ou não sabia, ou quis guardar para si.

— Achei que você estava muito solitária aqui, então trouxe uma amiguinha para brincar contigo. Agora as meninas vão poder fofocar, e claro, ajudar a expandir minhas pesquisas. — ele respondeu.

Ela se calou, vendo Paul levar a mão ao ombro, reprimindo um gemido de dor. As avarias na proteção e as manchas de sangue eram visíveis para qualquer um.

— Isso foi o irmão dela te batendo?

— Espero que trate bem sua colega de canil — disse ele, ignorando a pergunta.

E subiu, trancando a porta que levava ao sinistro porão.

Paul estava exausto, física e mentalmente. Tirou a roupagem e lavou o corpo, para logo cuidar dos ferimentos, coisa que teve que aprender para sobreviver nesse tipo de vida sem levantar suspeitas demais.

— O que pretende com a loba? — questionou Kellen, acorrentada com prata a pesada cama de casal.

— Apesar de ser antropólogo, esses anos de caçador despertaram em mim o gosto pela pesquisa experimental, os testes empíricos — disse ele, costurando a ferida na coxa, já adequadamente limpa. — Aprendi muito com vampiros, agora é hora de começar a entender os licantropos. Imagino que alguém que mata pessoas para se alimentar não tenha restrições morais sobre isso.

— E é isso que eu serei a partir de agora: seu rato de laboratório?

Paul continuou concentrado no trabalho, por fim respondendo:

— Kellen, você é minha esposa. Um monstro parasita que se alimenta de sangue humano, mas ainda assim, minha esposa. Meu trabalho com você consistirá apenas em fazê-la lembrar-se disso.

— O fato de eu ser uma vampira vai mesmo ser sua desculpa para me fazer prisioneira, então? Seja honesto consigo mesmo por um momento, Davis, e assuma que tudo que quer é me obrigar a ser sua, de uma forma ou de outra.

— Sou um homem paciente, meu amor. Levou anos para chegar até você, posso esperar mais alguns para que volte a ser a Kellen Davis que eu amo — ele riu, terminando a coxa e bebendo da garrafa de vodka que usou para desinfeccionar o corte. — Veja só, já estamos até brigando como antigamente. A verdade é que cedo ou tarde vai reconhecer que ainda me ama, Kellen. E eu vou aguardar, não tenho nenhuma pressa.

***

O lobo correu.

Cortando a cidade, sem sequer dar tempo para as poucas pessoas que o notaram perceberem que não se tratava de um cão fugitivo. Andy sempre se orgulhou de ter fôlego de atleta, e ele testou isso ao máximo naquela noite. Correu, só parando para garantir que não perdeu o cheiro, ou quando a exaustão se tornou insuportável.

Filhos da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora