Santos e Demônios - parte final

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O trio se encontrou na sala de visitas, com a lareira acessa, cercados por grandes cortinas e quadros da Renascença que decoravam o lugar. Molhados e com sapatos sujos de lama, Adam e Jeanne se secaram com as toalhas depositadas sobre o pequeno móvel no chão, enquanto o vampiro consumia sacos de sangue de transfusão. Ao lado do jogo de sofás em que seu patrão se sentou, visivelmente tensa, Teresa Mendes, a última representante de uma linhagem de pessoas dedicadas a Adam. E a primeira em três séculos a vê-lo.

Adam não diria, mas foi realmente surpreendente para ele encontrar uma mulher como sucessora atual de Connors. Em seu tempo elas poderiam assumir certas funções, mas nunca uma de tal importância. Eram de fato tempos mais livres. Já a cor de pele ou preferências sexuais não lhe eram tão impactantes, ainda que inesperadas. Ele esteve por muitos lugares antes de se entregar ao sono, e viu o suficiente para aceitar que os mortais são extremamente diversos em suas características.

A vampira caminhou pelo salão, admirando a beleza e grandiosidade dele.

— É sério mesmo que com toda essa grana você não tem nem mesmo um segurança?

Ele deu de ombros, secando o último pacote, já visivelmente melhor.

— Não considerei necessário. É claro que essa noite mostrou que é algo a se considerar.

Ela riu, sarcástica. E ficando provocativamente próxima ao vampiro, disse:

— Não sei como era no seu tempo, querido, mas hoje em dia temos que manter os olhos bem abertos se quisermos sobreviver por mais umas noites.

Adam entregou então os pacotes vazios a Mendes, que aproveitou para lhe falar:

— O senhor não brincou mesmo quando falou sobre "uma mesa perante seus inimigos" — sussurrou para ele, que apenas sorriu em resposta.

Próximo a lareira estava Paul Davis. Encharcado, com sapatos sujos de lama e segurando a escopeta tomada de sua última vítima.

— Chega de enrolação! Hora de abrir a boca, vampiro — exigiu, visivelmente irritado. — Já sei que foi você o verdadeiro dono desse casarão, há trezentos anos atrás. Sei que ele foi atacado por influência dos Freemans, e que o tal Willian Connor o herdou de você... Então acho melhor me dizer algo novo.

Tanto Adam quanto Teresa se olharam, surpresos. Jeanne sem dúvidas notou pela expressão deles, que o professor deveria estar dizendo a verdade.

— Não imaginava ser possível para alguém de hoje descobrir essas coisas. Não vou negar, essa casa é minha, sempre foi e sempre será — confessou o vampiro.

Jeanne Hilton agora estava de pé na parede do salão, sobrenaturalmente à cerca de dois metros do chão. Com seu vestido vermelho e salto, apontou um tipo de revólver de grosso calibre que Adam não conseguiu identificar em direção ao professor.

— Por que exatamente matou sua amante, professorzinho?

— Meus motivos não são da sua conta — respondeu ele, apontando sua arma simultaneamente para ela —, e se fosse esperta, nunca apontaria essa coisa pra mim.

— Abaixem as armas! — ordenou Adam. — Exijo algum respeito na minha casa.

O casal se analisou por alguns momentos antes de abaixar lentamente as armas. Ela permaneceu onde estava, enquanto Paul caminhou em direção ao vampiro. Então apontou sua arma para a cabeça dele, perguntando:

— Não vim aqui a passeio, já disse para abrir a maldita boca!

Adam encarou seus olhos, ignorando a arma a poucos centímetros de sua nuca. O fitou como naquela noite em que se viram a distância, dois predadores se espreitando nas sombras, lendo a alma um do outro.

Filhos da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora