Novos erros

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O casarão estava magnífico! Sua fachada era majestosa, erguendo-se novamente como a mais imponente e bela obra que aquela cidade já viu. Toda a estrada que levava até ele foi refeita e até mesmo ampliada, mato e terra deram lugar ao chão asfaltado em um raio de centenas de metros a partir da entrada. Quanto ao interior dele, grossas colunas sustentavam aquela enorme estrutura, seus ricos adornos em consonância com aqueles esculpidos no teto e paredes, tudo restaurado. Era uma verdadeira obra de arte, com grandes lustres a iluminar seus principais espaços, e luzes menores pelos corredores e pequenas repartições. Tapetes e cortinas combinando com móveis de madeira de lei nos locais em que eram necessários, com destaque para as obras de arte espalhadas por toda sua vastidão. E em todo ele, apenas um punhado de empregados escolhidos a dedo para executar tarefas específicas. Um motorista, duas faxineiras que se revezavam, um jardineiro e um vigia. Todos experientes nas funções, e todos imigrantes. Não queriam gente da própria cidade por lá, fofocando cada coisa estranha que vissem.

Adam sabia bem o quanto devia tudo aquilo a Teresa. A mulher há tempos não sabia o que era dormir, trabalhando dia e noite para que tudo ficasse perfeito para o vampiro. Após uma vida de preparação seguida de tédio, a rotina dela se tornou acelerada e sem descanso, testando todo o conhecimento e experiência acumulados naqueles vários anos. Ele cuidava das finanças, dos cuidados pessoais de seu mestre, e tudo sem levantar suspeitas, o que não devia ser fácil quando se trabalhava para alguém que se levanta ao pôr do sol, e se alimenta de sangue humano. Mas Mendes jamais reclamava, pelo contrário, dizia que aquilo para ela era um sonho que se realizou. Ainda assim, ele pediu que ela se ausentasse enquanto sua hóspede estivesse por lá.

— Nossa, você não tem mesmo quase nada de útil nessa cozinha — voz da Claire, que tomou para si a missão de fazer um prato especial para os dois. — Você não come em casa não?

Eu não como em lugar algum, ele gostaria de dizer, mas o que saiu da sua boca foi:

— Geralmente como fora, ou Teresa encomenda algo por telefone.

... vergonhoso — disse ela, voz zombeteira. — Digo isso, mas na verdade eu só cozinho duas ou três vezes por semana. Mas em minha defesa, eu ao menos tenho as coisas, usando ou não.

— Teresa te mostrou a casa?

— Ela é um amorzinho, falou super bem de você enquanto me mostrava como esse lugar ficou bonito. Se eu fosse você, dava um bônus pra ela.

Ter Claire por perto era algo que mexia demais com ele, transformando sua mente em um vendaval de lembranças do tempo em que Alice morreu, e da vida que teve com ela antes disso.

— Tem certeza que não quer ajuda? Posso ao menos cortar os legumes — perguntou, tentando relaxar.

— Já mandei ficar quietinho aí, senhor Turner. A cozinha é minha agora.

***

Claire estava usando um vestido simples, para além de sapatilhas confortáveis. E claro, o colar que ele lhe deu. Adam a convidou para jantar em sua casa, agora reformada, e ela se ofereceu para cozinhar ao invés de simplesmente encomendar algo ou dar trabalho a senhora Mendes ou outro empregado. A vida corrida não lhe deixava tempo ou energia para cozinhar sempre, mas ela gostava de temperar certos momentos com seus próprios pratos. E sem dúvida, aquela noite era um desses momentos.

Jantar em casa... era lógico que ela sabia o que isso poderia significar. Não existiam regras sobre quando se devia ou não fazer sexo com uma pessoa, por mais que alguns tentassem colocar dessa forma. E Claire já teve mais que um namorado, para além de algumas paqueras ocasionais, e embora não tratasse sexo de forma leviana, também não o via como nenhum tabu. Mas a verdade é que estava tensa. Sentia que ninguém antes foi como Adam, por quem sentia uma atração realmente forte. Ela ainda tentava entender por que raios se sentia atraída por ele como uma mariposa pela luz, quando o viu na cozinha... e corou.

Filhos da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora