A hora do adeus - parte I

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Capítulo final. Deu trabalho mas ai está, cheio de sangue, lágrimas e tudo aquilo que vocês já esperam do meu texto. Espero que gostem do fim tanto ou mais do que gostaram da jornada até ele.

Boa leitura.  

***

Lá estava ele novamente, lutando para preservar aquilo que lhe era importante: sua liberdade e amada. Ambas, a um passo de serem perdidas para sempre. 

 René o fitava a distância, ou melhor, o pai o fitava através dos olhos do francês. O homem que o abandonou quando ele era ainda um menino que acabara de perder a mãe. Que o entregou nas mãos de estranhos por quinze longos anos, sem dar qualquer sinal de vida ou preocupação enquanto aquele menino assustado se tornava um homem. O monstro que o transformou em monstro semelhante, contra sua vontade, e que o manteve sempre como servo submisso e sem poder de decisão.  

Ao lado de Vlad, o Padre Nicolae manteve-se apoiado na bengala, fraco como todos ali estavam, além de cego. Outrora um homem da Igreja, bom mestre e ser humano, posteriormente transformado em um demônio fanático e cruel, líder de uma seita de imortais bebedores de sangue. O homem que dobrou Adam, que o adestrou até torná-lo um cão leal. Era hora de livrar-se deles, para sempre. 

Adam avançou contra o homem de pele escura, e ao ter seu ataque bloqueado, aproveitou a proximidade para focar no verdadeiro alvo. Sua espada atingindo superficialmente o pescoço do velho vampiro, a potência do ataque diminuída por uma mão que o puxou pela canela em pleno ar. 

— Mas que vergonhoso, Adam. Onde está a honra em atacar um velho cego? — zombou o pai, o jogando contra uma coluna. 

Nicolae afastou-se, levando a mão ao pescoço ferido e dizendo: 

— Não é chegada ainda minha hora, jovem Adam.  

Adam sentiu a frustração de falhar novamente. Falhou por duas vezes em matar René, o que teria impedido essa última cartada do Padre. Agora falhou em matá-lo, e sabia, não teria outra chance. Mas mesmo em meio a decepção, ele não pôde evitar sorrir com o que viu erguer-se em seguida, logo atrás do velho padre. Algo novo, forte... e faminto! 

— Mas que cheiro gostoso é esse, hein, vozinho? — perguntou Elisabeth, abraçando o velho vampiro pelas costas. — Não vai negar bebida a essa pecadora sedenta, né?   

E dito aquilo, encravou as presas no pescoço ferido do velho vampiro.  

— Então meu filho finalmente gerou uma cria das trevas? — disse Vlad, vendo a cena inusitada. — Nicolae, subjugue-a sem matá-la. Afinal, ela será útil para ensinar meu filho a ter responsabilidade. 

Adam olhou para uma Alice que pareceu concentrada, enquanto o vampirinho se colocava a frente da irmã, tanto a protegendo quanto tapando o campo de visão do Drácula até ela.  

— Elisabeth foi o preço para impedir seu retorno completo. E assim como eu quando despertei, é uma criança forte. 

Nicolae gemeu de dor quando caiu de joelhos, parecia totalmente dominado pela vampira que dele sugava com sofreguidão. René fechou o semblante, parecendo dar-se conta de que o velho sucumbiria nas mãos da vampira recém desperta. Como única cria de Adam em séculos, ela herdou grande força. 

— Sua criança parece esfomeada, Adam. Mas precisa aprender a se comportar, como boa menina — afirmou, indo em direção ao Padre que lhe estendia a mão, em súplica muda. 

E foi quando a voz da bruxa se fez ouvir. 

— VladDraculea, eu, AliceWinnicott, lhe ordeno que deixe esse corpo!

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