Som de sirene de polícia, um som que o garoto conhecia bem. Quando olhou adiante, viu uma viatura andando devagar, com uma oficial ruiva ao volante e um barbudo ao lado.
— Parado ai, rapazinho — ela ordenou, parando igualmente a viatura.
Não faltava mais nada acontecer, pensou ele.
— Algum problema?
— Documento, por favor — pediu a policial, de dentro do veículo.
Andy abriu a carteira e entregou a identidade, ainda que muito a contragosto. A policial mostrou o documento ao seu parceiro, depois o devolvendo ao dono.
— Você é de onde, "Valentine"? Nunca te vi por essas bandas antes.
— De longe — respondeu, seco.
A dupla se olhou, sorrindo.
— E o que o rapazinho fazia no quintal dos Winnicott, posso saber? — a mulher perguntou.
Andy sentiu um frio lhe subir a espinha quando percebeu que foi visto saindo de lá, mas fez o máximo para não demonstrar nervosismo.
— Eu estava procurando a casa de um tal de Duncan, mas pelo jeito confundi o sobrenome.
O policial ao seu lado começou a rir, a ruiva fazendo sinal para que ele se controlasse, e Andy sem entender nada.
— Acho que podemos fazer uma boa ação e deixar o rapazinho lá, o que acha? — a policial perguntou para o parceiro, que deu de ombros. — Entra ai forasteiro, aproveite a carona.
Andy apenas sorriu, o sorriso amarelo de quem não sabia como em tão pouco tempo já estava dentro de uma viatura policial. E tudo aquilo por nada mais que vinte libras, lembrou.
— Valeu pela carona — disse ele ao chegarem ao destino, pronto para sair do carro.
— Não tão rápido, meu trabalho não acabou ainda — e dito isso, a policial ligou a sirene em frente à casa dos irmãos.
Em um minuto Mandy saiu pela porta, sorrindo ao ver a policial lado a lado com o Andy, diante da viatura. Os adolescentes se encararam, o sorriso dela aumentando na mesma medida que a cara dele fechava.
— Encontramos esse rapazinho aqui procurando pelo Jimmy bem no quintal da Winnicott, acredita? — Batidinhas nas costas dadas pela policial. — Conhece ele, Mandy? Se não, teremos que ver com o Jimmy.
Andy começava a criar uma desculpa, quando foi interrompido pela garota.
— Pior que sim, Emma. O mané é da minha turma. Sem falar que meu irmão prometeu doar umas coisas pra ele, já que o coitado é sem teto e tá passando fome.
Andy a fulminou com o olhar, enquanto ela pareceu se divertir muito com tudo aquilo. Ao que os policias não se preocuparam em disfarçar a risada.
— Então tá entregue, só cuidado pra não se perder de novo, viu, rapazinho?
Andy ignorou o comentário e entrou, batendo a porta com força. Parecia que sua sorte não poderia piorar. Obviamente, ele estava enganado.
Noite atual.
Em troca da estadia e treinamento, Andy ajudava na limpeza do bar. E era o que fazia naquele momento, passando pano nas mesas e recolhendo os restos de comida. Jimmy resmungou ao ouvir o noticiário esportivo, até outra coisa lhes chamar a atenção. O garoto não pôde deixar de notar como a expressão do balconista mudou drasticamente quando o grupo entrou no pub.
Eram dois homens e uma mulher: o primeiro, um sujeito alto e musculoso, de cabelos longos, encaracolados e escuros, com um camisão aberto e de mangas dobradas, sobre outra blusa. No braço esquerdo, exibia uma grande tatuagem, com símbolos de jogos de azar, dados e cartas. Agarrada a ele, uma jovem de pele negra, longos cabelos cacheados e belas curvas em uma calça de couro, botas e blusa com decote. Os dois rindo bastante.
O terceiro usava um casaco largo, era magro e de cabeça raspada. Sua face exibia uma coleção de piercings entre nariz, língua, boca, orelha e sobrancelhas, tudo combinado a uma cara de poucos amigos.
Andy percebeu que as duas garçonetes arrumaram algo para fazer na cozinha assim que eles chegaram, e foi o próprio Jimmy quem se apresentou diante deles. Outros dois clientes deixaram as cervejas pela metade com o pagamento na mesa, saindo como quem não queria nada.
Os três conversaram, com o dono anotando o pedido, fingindo bom humor para o maior deles. O careca examinava tudo em volta, detendo o olhar em Andy, que para evitar confusão se concentrou no serviço. Afinal, já havia tido problemas demais por uma semana.
O casal se beijou de forma intensa, ela no colo dele, trocando carícias de modo lascivo. O outro começou a resmungar algo enquanto Jimmy voltava com as bebidas.
— Porra, meu chapa, tem algum motivo pra aquelas quengas que trabalham pra você ficarem se escondendo na cozinha? E a Mandy, tua irmãzinha, tá escondendo ela da gente? — questionou o cabeludo. — Que eu saiba, meus manos e eu sempre fomos clientes vips desse teu pub cheirando a bosta!
— Então já esqueceu da merda que vocês fizeram aqui da última vez, hein, Malcon? Do soco que o Jeff ai deu em uma das meninas? Elas ficaram assustadas, sem falar nos problemas de vocês com a polícia.
— Um bando de putinhas assustadas — zombou a garota. — Mas eu tô limpinha, Jimmy. Inclusive, meu trabalho é fazer esses bad–boys se comportarem.
E o tal Malcon caiu na gargalhada, dizendo:
— Que se fodam tuas vadias, esquece nossa irmãzinha também. Eu quero saber é da comida mesmo. Me traz uma porção ai no capricho, e a gente esquece isso, parceiro.
Percebendo o sinal do barman o chamando disfarçadamente, o garoto foi até o balcão.
— Acho melhor você meter o pé daqui, garoto. — sussurrou Jimmy, claramente tenso.
Andy apenas suspirou, e quando já estava a poucos passos da saída, sentiu uma mão segurar seu braço. Ele se virou e deu de cara com o tal Malcon.
— Você tá maluco? — perguntou o garoto, puxando o braço e percebendo que quem o segurava era mais forte que ele.
— Não, mas pelo visto vocês estão. Ou acharam mesmo que eu não ia perceber quem é você, garoto? — Malcon torceu o braço do Andy, sussurrando. — Que não ia sentir seu cheiro de cachorro encardido?
Andy enfim conseguiu desprender o braço, encarando o sujeito:
— Não sei do que você tá falando, cara, mas uma coisa que eu não tolero é gente me segurando ou dando ordem!
Jimmy se aproximou da mesa, tentando acalmar o grupo:
— O que houve ai, Malcon? O garoto não quer confusão, ninguém aqui quer. Deixe o moleque ir embora e eu deixo vocês levarem o dobro de bebidas, o que acha?
— Esquece a história de bebida extra, parceiro — Malcon disse, se levantando. Os outros repetindo o gesto. — Aliás, esquece a comida também. Jeff, carrega ai a bebida que a gente tem direito e vamos nessa.
Nesse instante, o garoto sentiu a jovem o abraçando por traz, um cano de arma pressionando sua costela.
— Desculpa, gatinho, mas quando o macho alfa rosna, os lobinhos obedecem — Ela sussurrou no ouvido dele, com uma pistola dando ênfase a frase.
Andy não se abalou, permanecendo com ares de desafio para o grupo, que apenas riu dele. Quando saíram do pub, sob o olhar impotente do dono, o garoto viu Malcon se dirigindo até uma caminhonete:
— Seguinte, parceirinho. Você vem com a gente quietinho, ou vamos ter que fazer do jeito difícil?
Andy sorriu para ele, e então respondeu:
— Vão todos pra o inferno.
Malcon fez um gesto para alguém atrás do garoto, e o jovem sentiu uma forte dor na nuca. E então ficou tudo escuro, quieto e distante.
***
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E vamos ao próximo!
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Filhos da Noite
VampirosAdam desperta! Trezentos anos após seus inimigos lhe arrancarem tudo, o vampiro tem finalmente um motivo para retornar: Claire Winnicot. Uma universitária de psicologia que se revela a reencarnação da sua esposa assassinada. O imortal fará qualquer...