A Criança e o Padre - parte I

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A história avança para seu clímax, e espero que vocês gostem tanto de ler quanto eu de escrever. Meus leitores são poucos, mas amo cada um de vocês.

Grande abraço.

***

Ele caminhava com imponência. Seu porte físico, pistolas e sorriso cínico mantendo afastados quaisquer dos jovens delinquentes. Sanguessugas e seus escravos... como ele gostaria de matar um por um. Mas o dinheiro falava alto, um uivo difícil de ignorar. 

Havia uma boa quantidade de gente vigiando cada perímetro. Até Boris rondava, mas se havia uma coisa que a experiência ensinara ao lobo, foi nunca ignorar seus instintos. E eles lhe diziam que alguma coisa estava errada.  O primeiro sinal foi o silêncio sepulcral. Logo seguido do cheiro de sangue, próximo de entulhos e sucata. Ele sacou as armas e avançou temeroso... hesitante daquilo que o cheiro poderia significar. E para sua tristeza, deparou-se com uma cena que jamais desejou ver: um corpo grande e nu, com a parte de cima da mandíbula faltando, caída um metro a direita. Para além da decapitação parcial, outros ferimentos impressionantes. Boris. Um dos membros fundadores, o segundo mais poderoso do bando e o único com mais força física que ele próprio. 

— Quem foi o filho da puta que fez isso contigo, hein, parceiro? — Malcon perguntou, fechando os olhos do que restou da cabeça do velho companheiro. 

Não pôde evitar se perder na visão do amigo morto, respirando fundo para controlar a raiva e não sucumbir a selvageria. Não, ele não poderia perder o controle! Seu bando e família precisavam dele. Não era hora de lembrar dos lobos que morreram nessa mesma igreja, há anos atrás e pelas mãos do Padre. Ser o alfa cobrava seu preço, e ele tinha que mostrar que tinha com o que pagar. E após encontrar outros cadáveres humanos, decidiu agir.  

— Peg, tudo ok ai? — Ligou para a mulher que daria à luz seu filho e herdeiro. 

— Tudo um saco — resmungou ela. 

— Bota no viva-voz pra o Rickon  ouvir. — Após alguns instantes. — Temos companhia. O grandão tá morto e alguém está fazendo a festa aqui dentro, usando facas de prata e arma com silenciador. O vampirão foi lá pra baixo... sinal de que trouxe amigos. Quem sabe seja a sanguessuga que estava com ele naquela noite. Vocês dois, fiquem preparados. Eu vou a caça, mas logo passo aí. 

—... o Boris, morto? — Peg questionou. — Puta merda, Mal! Já perdemos o Jeff, e caso a vadia esteja viva, tá na mão dos tiras. E agora você diz que deitaram o Boris!? 

— Nada de choro. Todo mundo sabia dos riscos, não sabia? Então, papo encerrado. Com a grana que o Padre vai pagar a gente mete o pé daquela cidade e faz vida nova na América, princesa. A gente dá um jeito, isso é certo. E quanto a você, Rickon, cuida da minha mulher e do meu filho até eu voltar, ouviu bem? 

— Pode confiar, Malcom. O futuro mascote da matilha está seguro — o garoto afirmou, voz tensa. 

— Assumam forma de lobo por precaução. Qualquer coisa uivem pra mim e se escondam. Nada de risco desnecessário. 

Encerrada a ligação, o líder do bando se livrou daquelas roupas, armas e equipamentos humanos, abraçando sua animalidade e se transformando novamente em um monstro de pesadelos infantis. E uivou, alto o bastante para alertar os vampiros dentro da igreja. Alto o bastante para encher de confiança uma mulher grávida e seu jovem amigo. Alto o bastante para afastar a tristeza por aqueles que morreram sob seu comando. O esquentadinho, Jeff. O leal e comilão, Boris. E quem sabe até mesmo a deliciosa e divertida Evelyn. Seus lobos, amigos e irmãos de alcateia. 

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