O lugar era aconchegante, com boa mobília, empregados bem vestidos e uma banda de jazz tocando ao fundo. Das quinze mesas, treze estavam ocupadas, e felizmente a mulher estava justamente sentada ao lado de uma mesa vazia. Foi lá que Paul se sentou, pedindo para o garçom lhe trazer Uísque. Ao redor dos dois viam-se famílias e principalmente casais, Paul deduziu que o lugar estava cheio por conta das promoções de inauguração, e pela proximidade do aniversário da cidade, o que sempre trazia turistas.
A mulher tinha algo em torno de 1,80m, com ombros largos e porte atlético. Seus cabelos e olhos eram muito negros, e sua pele muito branca. Ela não tirou o sobretudo, mesmo molhado, e aos poucos ele percebeu que mesmo fingindo distração com o jornal local e o vinho, os olhos dela se fixaram em uma pessoa. Sentada à quatro mesas de distância, uma bela mulher de cabelos e olhos castanhos, vestido vermelho e joias falava ao celular, sozinha em uma mesa sutilmente mais bem posicionada que as outras. Ele se perguntava se ela seria uma vampira, e enquanto bebia, resolveu que era hora de agir.
— Posso me sentar? — perguntou, já sentando ao lado da caçadora. — É triste beber sozinho numa noite como essa, não acha?
Ela pareceu surpresa, e logo desconfiada. Era uma mulher grande e forte, não do tipo acostumada a ser assediada.
— Não pode não. E acho que será melhor para nós dois que volte para sua mesa — respondeu ela, com um olhar ameaçador que faria outros homens obedecerem sem pestanejar.
— Qual é? Nós dois aqui solitários, será que não podemos ao menos dividir uma garrafa aproveitando uma boa companhia? — Paul exibiu seu melhor sorriso conquistador, e percebeu que ela ficou sem jeito e levemente ruborizada.
Não parecia ser boa em lidar com homens, principalmente a serem gentis com ela, concluiu. Em um instante, a mulher de cabelos negros segurou e virou seu pulso, apertando-o enquanto pareceu procurar por algo. Nada encontrando, o soltou, sem jeito.
— Perdão, não foi minha intenção machucá-lo. — E ficou calada em seguida, olhando em volta.
Paul sabia bem o que ela queria. Procurava a tatuagem no pulso, a marca daqueles que serviam voluntariamente aos vampiros em troca da promessa de se tornarem um deles. Ao mesmo tempo, seus vários e grossos anéis de prata queimariam a pele de qualquer morto-vivo, eliminando duas dúvidas de uma única vez.
— Você é meio bruta, hein — brincou ele. — Agora que me machucou, será obrigada a jantar comigo. Garçom!
Ela pareceu sem saber o que fazer enquanto Paul fazia um pedido para si e estendia o cardápio para ela, prometendo pagar o que quisesse comer.
— Por que está fazendo isso? — questionou, desnorteada.
— E é preciso algum grande motivo para dividir um jantar com alguém?
Com essas palavras ele acabou finalmente quebrando o gelo, e arrancando um sutil sorriso daquela mulher.
— Se o senhor... digo — ela pigarreou, sem jeito —, sou uma madre da Igreja da Inglaterra, acho importante que saiba, antes de me pagar algo. — E desviou o olhar dele.
Paul tocou suavemente o pulso tenso da mulher, e afetou um sorriso compreensivo.
— Uma pena, realmente. Mas veja bem, sou judeu e mestre em Antropologia, acho que podemos ao menos ter uma boa conversa. — E estendeu a mão em cumprimento. — Paul Davis, e qual sua graça?
— Me chamo Pietra Ferdinari, e fico grata, senhor Davis.
Ela escolheu enfim o prato, sempre mantendo alguma vigilância sobre seu alvo. Eles começaram uma breve discussão sobre história da religião, as ações da Igreja Cristã e a ascensão do cristianismo no Ocidente, casa vez mais distante de suas origens judaicas. Ambos percebendo que o outro dominava bem o assunto, ainda que sob um viés diferente.
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Filhos da Noite
VampireAdam desperta! Trezentos anos após seus inimigos lhe arrancarem tudo, o vampiro tem finalmente um motivo para retornar: Claire Winnicot. Uma universitária de psicologia que se revela a reencarnação da sua esposa assassinada. O imortal fará qualquer...