Cães do Inferno - parte II

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O vampiro levantou uma sobrancelha.

— "Recompensa"?

— Pode parando com isso, senhor Macho-Alfa — ordenou a vampira, já fora do carro. — Eu sei que seu bando dá passagem livre para vampiros que possam pagar por isso. Pois eu posso pagar e, como deve saber, ele pode pagar mais que qualquer outro nessa cidadezinha.

Adam encarou a vampira, aborrecido por ela não ter lhe revelado aquilo. Enquanto o monstro coçou seu focinho com a garra, antes de responder:

— Nada feito, gostosa. A cabeça desse aí vale ouro, e não sou eu quem vai desapontar o Padre.

Adam não teve como disfarçar a mudança de expressão ao ouvir falar em "padre", mas antes que pudesse falar, sua atenção foi tomada pelo som de algo pesado avançando em direção a eles, ladeira abaixo. Brutal como uma locomotiva desgovernada, um grande e gordo lobo se chocou contra o carro! Jeanne levou as mãos à cabeça enquanto o vampiro usava de toda sua força para deter o impacto. Músculos doendo, quase de joelhos, Adam se pôs entre o carro e a vampira, impedindo o pior ao preço de ficar vulnerável.

— Pelo jeito, estou te devendo de novo — disse ela.

Então, a dor! Adam foi retalhado nas costas pelas garras do lobo de piercings, ao mesmo tempo em que teve sua perna mordida violentamente pela loba que arremessou antes. Eles recuaram, a loba cinzenta com carne de morto-vivo entre os dentes. O carro foi empurrado para o lado pelo vampiro, caindo sobre o grande lobisomem que por duas vezes naquela noite se chocou contra o veículo da vampira. Seus pelos eram escuros e grossos, e presas inferiores se revelavam mesmo de boca fechada.

Adam levou a mão a perna destroçada, de onde sangue escorreu farto. Seu corpo tremia pela violência do impacto, e suas costas ardiam pelas feridas recentes. Ao seu lado, Jeanne, ainda abaixada, de arma em punho, jogou no chão um celular destruído pelo acidente. Nada de pedir ajuda, percebeu Adam.

Em volta deles, seis vultos sinistros, uma matilha inteira rodeando seus alvos. Dois em forma de lobos comuns, o castanho e a preta. E os outros quatro em forma de licantropos completos.

— Tirei só um pedacinho dele, chefe — disse a fera cinzenta, cuspindo uma grossa tira de carne. — Acho que nem dá problema, né?

O líder encarou o casal de vampiros ameaçadoramente.

— Sem neura, gata, eles são sanguessugas! — afirmou, com as garras expostas. — Os malditos também regeneram.

Naquele instante, um enxame de morcegos surgiu sobre os lobos, confundindo, cegando e criando a brecha que os vampiros precisavam. Adam percebeu que esse era um dos truques da Jeanne, uma simples ilusão, e em um piscar de olhos derrubou dois dos inimigos menores, atrapalhados pelas falsas criaturas da noite. O vampiro se moveu muito rápido, a puxando pela mão, revelando assim as diferentes formas de utilizar o poder do sangue.

O casal entrou no matagal, tentando colocar o máximo de distância entre si e a matilha. O bando uivou em uníssono, e Adam pôde sentir a vampira arrepiada e tensa.

— O celular quebrou — Jeanne sussurrou —, não dá pra contar com ninguém.

Adam não respondeu, apenas se focou em colocar toda a energia em correr rumo ao casarão, rápido como um guepardo, saltando sobre os obstáculos como se não fossem nada.

— Eu sabia sobre os lobos dessa cidade, mas não pensei que dispensariam grana fácil — continuou ela, mais sendo puxada que contribuindo com a fuga. — Os desgraçados podem nos farejar! Fugir de malditos lobos no meio do mato não vai dar certo.

— Fique quieta! Eles já tem o cheiro para nos encontrar, não precisam da ajuda do som.

— Não seja bruto! Lembre-se que sou mulher: tagarelo quando fico nervosa.

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