Feridas Abertas

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De volta a praça, Andy Valentine e Mandy Duncan assistiam a Jimmy vomitar pela segunda vez seguida. Após uma briga de casal, o sujeito decidiu beber para esquecer. Mas esqueceu demais.

— Eu até agradeceria se carregar ele até em casa, mas sabendo que brincou e comeu graças à ele, não faz mais que obrigação — disse a garota, segurando a cabeça do irmão.

— A tira que ele tá pegando, ela sabe sobre o lance com lobos? — Andy perguntou, após testemunhar a policial ao lado de uma provável vampira na viatura.

— A Emma sabe de tudo, pelo menos sobre o Jimmy e eu — respondeu ela, se afastando do vômito que começou a escorrer em sua direção. — Só não sei se já sabe sobre você.

Ele fez sinal para que a garota se aproximasse, para que o irmão não ouvisse.

— O negócio é que vi ela levando um casal todo fudido na viatura. Só que na mulher, senti cheiro de vampiro.

— Tem certeza disso?

— Tô dizendo. E a matilha do Malcom estava envolvida, a coisa deve ser séria — disse Andy, para uma garota surpresa e tensa.

— Vou confiar em você e ligar pra avisar, hein. Mas só porque se trata da Emma.

***

A policial Emma Watson estava ao lado da porta que levava a enfermaria. Mão sobre o cabo da arma e postura atenta, bem ciente do risco que o casal poderia representar, caso a mulher fosse realmente vampira, como a ligação da cunhada alertou. E Emma apostava que era! A mesma intuição que teve sobre Jammes, de que havia algo de muito errado nele. Emma se perguntou como uma cidade tão pequena ficou infestada de gente esquisita. A vampira ao lado, o garoto novo...

— Emma? — Tão perdida ela estava em seus pensamentos, que não notou a aproximação da jovem de voz familiar.

— Senhorita Winnicott, como um dos grandes e fortes braços da Lei pode ajudar? — perguntou ela, já ciente do motivo da garota estar lá. Fofocas corriam rápido naquela cidade.

— Ouvi que o senhor Adam Turner foi levado a enfermaria. Como profissional de psicologia, e sabendo que ele acabou de passar por algo grave, preciso vê-lo. — Claire pareceu tentar disfarçar a preocupação na voz, tocando no crachá na altura do peito para enfatizar sua função.

— Olha, Claire, desculpa, mas isso não vai rolar. Você tem que esperar a médica terminar o trabalho dela — disse a loira, firmemente, enquanto analisava a estagiária que batia o pé nervosamente no chão.

Claire mordeu o lábio, nervosa, apertando forte os próprios braços ao encarar a policial, com olhos brilhantes.

— Emma, por favor... — pediu, abrindo mão da compostura. — Eu preciso mesmo vê-lo.

A policial olhou para cima e sorriu, desfazendo a fachada séria diante da garota de quem tomou conta em fins de semana por tantos anos.

— Tá bom! Não resisto quando você faz essa carinha de menina chorona — respondeu, apertando as bochechas de uma Claire envergonhada.

***

Claire Winnicott se viu diante da porta que levaria ao primeiro homem que já amou na vida, e o único que pôde machucá-la como ninguém mais poderia. Ela se lembrou da noite no casarão, da decepção, da raiva e da dor. Mas também se lembrou do primeiro beijo, do colar dourado e do que viu nos olhos dele. Por fim, se lembrou da mãe em seus últimos momentos com ela.

Ela estava doente, tão doente quanto a mãe, refletiu. Escrava de um sentimento que destruiria seu coração. E então abriu a porta.

***

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