Filho Pródigo - Parte II

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Adam sacou sua espada, ciente que aqueles inimigos seriam bem diferentes dos anteriores. Ele sentia a emoção do combate, e ainda que estivesse inconformado com o que se tornara, não conseguia deixar de sentir-se animado pelo poder que tinha agora. Pela facilidade com que venceu aqueles homens, mesmo sem usar sua arma.

Uma lâmina passou raspando pelo seu rosto, o obrigando a desviar na direção do adversário que o aguardava com uma estocada na altura do ventre. Ele cerrou os dentes, sentindo a dor da lâmina penetrando a carne. Antes que pensasse em atacar, se viu pressionado pelo avanço do cavaleiro com escudo na frente e espada em punho, revezando entre golpes de espada e pancadas com o escudo. Adam se viu surpreso diante da velocidade dos ataques daqueles dois. Velocidade e técnica, pois eram a elite da Valáquia, e isso mesmo antes de serem vampiros. Seu ódio crescia, e junto dele o poder que carregava dentro de si. Adam saltou sobre aqueles homens, golpeando com violência! Sua velocidade surpreendendo os dois, que ao tentar bloquear o ataque aéreo, foram empurrados contra a porta de madeira.

— Só precisam me deixar passar — disse ele, apontando a espada para os inimigos.

Em meio ao combate dos três, outros homens entravam no cômodo, atraídos pelo barulho. A proximidade do príncipe era o provável motivo de não usarem pólvora, mas os soldados logo o cercaram com suas bestas prontas para serem disparadas. Vários virotes atingiram o corpo do predador, que sentiu as lâminas dos vampiros ferirem sua pele, se aproveitando da distração criada pelos ataques a longa distância. Vendo que o número de inimigos apenas crescia, e notando que não seria fácil passar pelos vampiros, Adam dobrou as pernas, concentrando suas forças sobre-humanas em fazer o impossível.

Com um salto espantoso ele atravessou o teto de palha e chegou ao telhado do outro cômodo. Adam refletia sobre como seu corpo resistia ao poder dos virotes e espadas. Não apenas isso, mas lentamente se recuperava de seus efeitos nocivos e mortais, como se o homem estivesse proibido, por Deus ou pelo Diabo, de morrer. Ele ouvia os gritos de ordens saindo das bocas dos soldados, enquanto caminhava como um gato sobre aquelas madeiras, avançando rumo à presença que sentia tão perto de si.

E então ele o viu. Sentado sozinho em uma mesa, bebendo um cálice de vinho enquanto observava o mar de corpos empalados que lhe serviam de cenário. Ao seu lado, outros três homens da guarda real, todos vampiros, algo no jovem dizia. Assim que tocou o solo, Adam pôde ver os três homens assumirem uma posição defensiva, ao mesmo tempo em que os dois primeiros se aproximavam pela porta agora aberta.

Vlad apenas balançou sua taça, sem dar qualquer atenção ao invasor que buscava vingança.

— Por que fez isso comigo? — perguntou ele, olhos vermelhos de raiva. — Por que me transformou nessa coisa?

Sua ira e revolta se manifestaram na forma de um golpe rápido, que separou a cabeça de cima dos ombros de um dos soldados surpresos. Agora eram quatro cavaleiros da guarda real, e o pai finalmente lhe deu atenção.

— Pare de matar meus homens, Adam — disse o príncipe, fazendo um gesto para que aqueles vampiros enfurecidos não atacassem. — Nenhum deles é como você, mas todos tem seu valor.

— Então responda minha pergunta! — Adam ordenou, o sangue dentro de si fervendo de ódio ao ver aquele homem o tratando como criança.

— E caso eu me recuse a responder, o que fará? — Vlad perguntou, sorrindo.

A resposta veio na forma de um ataque direto do filho contra o pai, a espada parando a poucos centímetros da face daquele homem terrível. Adam tremia, sem conseguir entender o motivo de não conseguir terminar o golpe. Seu corpo simplesmente não obedecia a sua vontade... Como se uma força invisível o imobilizasse.

— Covarde maldito, o que fez comigo? — questionou ele, se vendo incapaz de atacar.

Os guardas reais apenas assistiam, obedecendo a ordem de não interferir.

— Sou seu pai, garoto. Como ousa levantar a mão contra o próprio pai?

Adam não entendia, mas algo naquelas palavras parecia ter relação com sua incapacidade de ferir ao pai. Ele era de fato seu filho, mas isso não o impediu de feri-lo anteriormente. O que poderia ter mudado?

— Você me transformou... é isso, não é? — perguntou ele.

— Sou seu mestre e criador, você não pode me ferir, minha criança rebelde. — E olhando fixamente nos olhos do filho, com sua íris assumindo um vermelho intenso, ordenou com autoridade. — Chega de luta por hoje. Entregue a espada.

Adam não entendeu o motivo, mas não conseguiu de forma alguma desviar o olhar do pai, daqueles olhos severos a lhe repreenderem e dominarem, como quando ainda era uma criança dócil e servil. Ele tentou lutar contra o impulso de erguer a espada a frente, resistiu o mais que pôde, até se ver vencido. Com mãos trêmulas se inclinou, oferecendo o cabo da espada ao cavaleiro real e chefe da guarda, o mesmo a quem entregara quando ainda humano e inocente das trevas que envolviam seu antigo lar.

O cavaleiro se limitou a sorrir enquanto a tomava, divertindo-se com a humilhação imposta ao vampiro novato.

— Bom garoto, é assim que se faz. Um bom filho obedece ao pai, um bom cavaleiro obedece ao seu príncipe, e um bom vampiro obedece a seu criador. Sou seu pai, príncipe e criador, garoto. E você aprenderá a me obedecer, mesmo que leve toda uma vida humana para isso.

Em posição de reverência, Adam se limitava a enfiar as unhas no chão, liberando um fragmento da raiva que o consumia. Ele era impotente diante do pai, nem por força bruta e nem pela força de sua vontade conseguia enfrentá-lo, e isso o enlouquecia em um frenesi de fúria assassina.

— Isso não vai durar — jurou, encarando o pai com olhos vermelhos e incendiários. — Vou aprender a resistir ao seu poder. Tornar-me mais forte... forte o bastante para matá-lo!

Vlad se limitou a beber da taça com o sangue de seus inimigos.

— Tragam as correntes de prata — ordenou a seus cavaleiros, sem tirar os olhos do filho. — Você era um bom garoto quando nos despedimos, Adam. Um menino obediente e respeitador, mas vejo que os anos longe de mim lhe contaminaram com essa língua respondona e maldizente.

O soldado já voltava com o que foi solicitado, como se desde o início o príncipe soubesse da necessidade de usá-la contra um de sua espécie. Como se o aguardasse chegar. Acorrentaram as mãos e pés de um vampiro derrotado, sem mais forças para travar sua luta perdida. A dor do contato da pele com a prata sagrada, sendo resistida com bravura.

— Quinze anos, não foi mesmo? Foi esse o tempo que levou para que se transformasse em um filho rebelde?

Adam o encarava, ódio no olhar, a ansiedade e tensão de um filho que aguardava pelo castigo.

— Nada que alguns anos de clausura e disciplina não resolvam. Lealdade, respeito e temor; é isso que espero de você, meu amado filhote. Sei que isso não virá hoje, amanhã ou daqui a um mês. Mas talvez com o tempo certo...

Adam não conseguiu evitar a boca pendendo em surpresa, as correntes em volta de si parecendo agora muito mais apertadas, sentindo-se enfim como um prisioneiro de fato.

—... Quem sabe em quinze anos?

***

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E vamos ao próximo! 

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