Santos e Demônios - Parte III

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Sob uma chuva intensa, com vento forte e visibilidade baixa, Pietra dirigiu. Ao lado do corpo uma escopeta, para além de uma série de armas menos expostas. Graças às dicas dele, a mulher conseguiu alcançar o carro dos alvos, e se esforçava para não perdê-lo de vista. Paul segurou a pistola que ela lhe deu: "Se a situação obrigá-lo, use isso", disse ela. "É uma pistola comum, porém a munição é de prata, uma fraqueza dos demônios".

O professor analisou a situação. Ela era forte, os muitos vampiros que matou em tão curto espaço de tempo deixavam isso claro. A grande questão era: o quão fortes aqueles dois seriam? E no fundo, era Adam quem realmente o preocupava. Os vampiros aumentaram a velocidade, mesmo em um terreno escuro e lamacento, o que obrigou a mulher a acelerar ainda mais num caminho já perigoso e escorregadio. Para piorar, apagaram os faróis do carro. Malditos vampiros e sua visão noturna, pensou ele. Mas a visão da caçadora não ficava muito atrás, pois ela continuou perseguindo mesmo sem óculos especiais como os que ele tinha na máscara do Golem.

E assim Paul ficou perdido nos próprios pensamentos, olhando fixamente para a pistola.

— Não tema, senhor Davis, será tudo conforme a vontade de Deus. Apenas me deixe enfrentá-los, e somente se for extremamente necessário, use a arma — disse ela, tentando tranquilizá-lo.

A distância dos carros pareceu aumentar, e Paul decidiu que era a hora de arriscar tudo.

— Conheço um atalho, hora de virar o jogo.

***

Á caminho do casarão, Jeanne Hilton dirigiu pela estrada chuvosa e lamacenta, com Adam olhando para o nada.

— Que previsível, a freira está vindo pegar os vampiros malvados. Aposto que seu amigo está com ela. — Ela olhou pelo retrovisor, acelerando o carro. — Mas era isso que você queria não é? Atraí-los, para então matá-los?

— Estou cansado de deixar assuntos inacabados. O que tiver que acontecer, que seja hoje.

— Só me inclua fora disso! Não estou morta há tempo o bastante para arriscar morrer de novo. Quando nos pegarem, você luta e eu fujo.

Adam apenas sorriu em resposta, desejoso por testar seus novos limites. E o inevitável logo ocorreu. Jeanne freou bruscamente, graças a uma picape saída do nada que fechou o caminho a sua frente. Diante dos inimigos, e sem escapatória que não exigisse abandonar o carro e fugir a pé, ela pegou uma arma dentro da bolsa, enquanto Adam saiu do carro com as mãos nos bolsos.

— Fique aqui enquanto dou um ponto final nesse jantar indigesto — disse ele, sob a chuva. — E haja o que houver, não se intrometa, ou ficarei bastante aborrecido com a senhorita.

O carro parou lateralmente e sem visão para o motorista. Adam perscrutava as sombras, seus olhos logo encontrando o alvo. O inimigo portava uma escopeta, avançando sob as poças quase sem fazer barulho, capaz de iludir mesmo homens bem treinados... Mas não alguém como ele. Adam o encarou, perdendo parte de seu interesse ao notar de quem se tratava.

— Parece que meu adversário é uma mulher — lamentou, tirando uma das mãos do bolso. — Uma pena, detesto bater em mulheres.

Pietra fez o sinal da cruz, avançando. Parada a poucos metros do arrogante vampiro, segurava sua arma.

— Vamos, madre. Estou aguardando seu discurso antes de duelarmos — provocou ele, vendo Paul escorado ao lado do veículo, guarda-chuva aberto. — E não se preocupe em explorar sua vantagem, pode se juntar a ela, mestre Davis.

— Desculpe, mas ainda não é minha hora — respondeu ele.

Vampiro e caçadora se estudaram antes do primeiro golpe, que por fim aconteceu, mas não contra o alvo principal. Adam se moveu por reflexo, recebendo o tiro em seu ombro no lugar da cabeça de sua parceira, ainda no volante. Pietra prosseguiu disparando ao avançar contra o casal.

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