Em nome do pai - Parte II

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Adam se virou em direção a voz. Lá, um homem descia os degraus de madeira com passos firmes, até parar diante dele.

— "Filho do Drácula"... — sorriu Adam, ironia forçada e braços abertos. — Após assistir ao espetáculo de horrores lá fora, não sei se é assim motivo de tanto orgulho ter seu sangue em minhas veias.

Com um olhar que pareceu examinar as profundezas do coração do filho, ele o encarou. Estendeu a mão em que segurava o colar jogado pelo rapaz e então disse, quase sem mover os lábios:

— Rebeldes, traidores, criminosos... Há de todos os tipos lá. A estaca não poupa a ninguém — disse o senhor do castelo ao jovem, com um brilho mórbido no olhar. — Governar é saber impôr medo e respeito. Saber a quem, quando e como matar. Tudo que nasce, morre, não há motivos para lamentações.

— Foi assim que resumiu a morte da minha mãe? A noite em que ela pulou da torre por medo do que nossos inimigos fariam se a pegassem? Das ameaças de meu tio Radu, após cercar o castelo, sobre empalar-nos como o senhor faz aos seus inimigos?

A face daquele homem demonstrou um sinal de emoção genuína, de desconforto e tristeza. Um sinal de humanidade, enfim.

— Sua mãe teve medo, sentimento natural de toda mulher. Jogou fora a própria vida, temendo por ela e por você. — E silenciou, punhos cerrados. — Naquela noite seu tio me tomou o trono, a esposa e dignidade. Me arrastando por túneis escuros e então montanhas, para salvar-nos. O enviei para onde estivesse seguro, pois eu não seria mais um pai. A partir daquela noite minha existência teria apenas um propósito, apenas uma motivação: recuperar o trono que era meu por direito! E não descansei até conquistar o poder para vingar-me e sentar-me nele.

No salão escuro, apenas os guardas testemunhavam a conversa entre os dois.

— Fiquei aqui ouvindo suas reclamações, sir Adam da Moldávia... e sobre elas tenho o seguinte a dizer: um homem de coragem exige valer seus direitos, não choraminga como uma donzela sobre as injustiças contra si. Ainda assim, sepultaremos toda essa mágoa no momento em que herdar o que possuo. — E dito aquilo, estendeu o cordão de volta ao filho.

Adam fitou o pai, ciente do que aquilo poderia representar. O momento pelo qual sempre esperou, sua chance de viver novamente ao lado dele, de reinar ao lado do príncipe. Não mais ser um cavaleiro servindo em terra distante, mas ser um líder guerreiro de seu próprio povo, lutando sob sua bandeira, por sua própria casa, por sua própria vontade.

— O homem que esperou seu emissário na Moldávia ficaria feliz com essa proposta. Mas eu não sou mais esse homem. Creio que ouviu minhas palavras, e não sou de voltar atrás no que digo. — E ignorando o objeto estendido, deu as costas ao monarca pela segunda vez naquela noite. — Adeus alteza, adeus pai.

Após apenas alguns passos, Adam sentiu uma dor terrível em seu ombro esquerdo. Um golpe rápido que cortou a pele e encharcou sua roupa de sangue quente, como se as garras de uma fera o tivessem acertado! Instintivamente recuou levando a mão à espada, seu coração lutando contra um medo irracional que tomava conta dele. Como se fosse uma presa diante do predador.

E enquanto tentava entender o que ocorrera e recuperar a tranquilidade, viu o pai. Seus olhos, vermelhos como sangue, uma face pétrea em um homem grande e imponente. O olhar de um guerreiro, de um conquistador. De um assassino.

— Muito se pode saber sobre um homem através dos olhos, das palavras e dos atos, mas todos esses podem enganar — disse Vlad Tepes, mão erguida, da qual escorria o sangue do filho. — Mas o sangue, esse não mente.

Dito isso, provou do sangue do jovem. Olhos fechados, enquanto Adam tinha os seus arregalados.

— Sinto honra, orgulho, espírito! — disse ele, com presas a mostra. — Mas também sinto sua fraqueza, e o quanto herdou da fragilidade de sua mãe. Sinto que ainda não foi endurecido pelo mundo.

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