Correntes e Prisões

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O ex-detetive estava sentado na cadeira à frente do xerife, resmungando sobre as péssimas condições da delegacia em que sua cliente estava sendo mantida, enquanto o oficial terminava de trocar as pilhas da lanterna, sob a luz do celular. Era a segunda vez que o homem tentava contato pelo rádio com o policial de fora, sem resposta. Foi quando se olharam por um momento, Roger sentindo que algo no ar havia mudado. Ele juntou as peças, percebeu a farsa. Advogado, falta de luz: Jeanne.

Em um instante os dois homens sacaram suas armas, o cano da arma de Roger apontando para o xerife, bem na hora em que o mesmo alcançou a própria arma na cintura.

—... devo estar mesmo um bagaço pra ser mais lerdo que você — resmungou o xerife, roxo de raiva.

Roger o algemou a mesa, após tirar as armas e celular do seu alcance.

— Não se preocupe, xerife Corlson. Ninguém precisa se machucar hoje, só preciso levar minha cliente para casa — disse Roger, ambivalente. Pois ao mesmo tempo em que se sentia mal por infringir as leis e apontar uma arma para um companheiro de trabalho, se sentia empolgado por ter reagido antes dele.

***

Emma avançou, com sua velha pistola pouco utilizada em mãos. Na outra mão a lanterna, iluminando o caminho que conhecia tão bem, mas que agora parecia tão sinistro quanto qualquer casa mal-assombrada. Ela estava tensa, até mesmo um pouco ofegante. Em uma cidade como aquela, Emma não teve lá tantas oportunidades de usar a arma. Ela tentou se convencer que foi pra situações como essa que conquistou o distintivo, mas não seria verdade. Ela se tornou policial para proteger sua cidade, não para encarar monstros saídos de lendas.

Assim que a luz apagou, soube que tinha algo errado. Bateu o rádio para falar com o xerife, pedindo que ele estivesse preparado. Mas logo o xerife deixou de responder ao contato. Um péssimo sinal. Os invasores eram silenciosos, pois até aquele momento não ouvira sequer um tiro, o que só aumentou sua tensão. Ela respirou fundo, temerosa de que seus companheiros tivessem sofrido o pior. Pensou se deveria ou não ligar para o Jimmy... E então o susto! Com a luz revelando um vulto à apenas dois metros de si! Emma disparou de forma descontrolada, criando um inferno de sombras e tiros. Quando cessou o ataque, um arrepio lhe subiu por todo o corpo, sentindo a presença do invasor bem atrás de si.

Está atirando no monstro errado — sussurrou a voz.

Ela virou a arma na direção do som, só que não rápido o bastante. Não antes de ter a perna quebrada por uma pesada violenta que a fez gritar, cair de joelhos e deixar a arma cair ao chão. Os olhos da policial se encheram de lágrimas, rilhando os dentes de dor e sentindo a humilhação e medo da morte, talvez tão próxima.

O estranho recolheu a arma dela lentamente, quando em meio à dor, Emma teve espírito para sacar uma pistola escondida, rolando e atirando na direção do homem a sua frente. Emma o viu recuar, apontando a arma para a direção dela, que sequer conseguiu se mover... Mas estranhamente hesitando em disparar. Quando percebeu, ele já estava ao seu lado. O homem de preto simplesmente tirou a arma das suas mãos, depois atingindo seu rosto com a coronha da mesma. Foi um golpe duro, e Emma se perguntou se continuou consciente por ser muito durona ou muito teimosa.

— Maldito... malditos todos vocês, vampiros desgraçados! — berrou ela, lutando contra as lágrimas e a dor.

Em meio a escuridão, aquela face inexpressiva pareceu observá-la com interesse, algemando-a a mesa.

Então você sabe o que ela é — sussurrou ele. — Mas se engana sobre o que sou.

Emma o encarou, ciente de que ele podia matá-la quando bem quisesse.

Filhos da NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora