Emboscada

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Bianca

Eu estava limpando os ferimentos de Hanyel na beira do riacho, sua boca estava cortada e sangrava muito, seu braço havia sido levemente lesionado, estava um tanto inchado.
- Mesmo achando sua atitude meio agressiva, adorei a ideia de você dar uns sopapos em Victor!
- Pois eu poderia fazer isso o dia todo... Ai! – Diz Hanyel afastando minha mão da boca dele. – Está ardendo!
- Pare de frescura, estou passando apenas água!
- Pois bem... deveria cursar enfermagem! – Disse sorrindo.
- Quem sabe um dia....
Eu não tinha a mínima esperança de poder voltar a estudar, pois algo dizia que não conseguiria viver por muito tempo, aliás, nenhum de nós viveria muito tempo. Victor havia se revelado e isso aumentaria e muito as chances de mortos pela N.O.M. 
- Será que Victor está por perto? – Pergunto. 
- Creio que não, talvez ele tenha voltado para a cidade avisar seu pai sobre nossa localização.
- Não é de duvidar, aquele garoto não me cheira bem! Pronto... – Falei torcendo o pano todo ensanguentado. – Agora cuide para não infeccionar.
- Cuidar como Bianca? Não temos sequer um curativo!
- Tenho uma ideia! – Levantei e peguei minha varinha. – Vai doer, mas vai impedir que o ferimento piore.
Coloquei minha varinha sobre o corte no canto da boca de Hanyel e usei a magia do fogo para esterilizar o local. Hanyel se contorceu de dor, mas foi rápido, já havia feito o que podia.
- Adriana teria orgulho de mim se soubesse o que posso fazer!
- Sua tia?
- Sim, mas não a chamo de tia. – Dei um sorriso com o canto da boca. – Ela poderia curar seu ferimento, é uma bruxa muito hábil e poderosa, espero que não tenha acontecido nada de ruim com ela e com meu pai.
- Bruxo também?
- Também, mas largou a bruxaria a um tempo atrás, não estava trazendo muitos benefícios a ele.
- Que pena. – Disse Hanyel olhando para o chão. – Sua tia... ela... Bianca!! Sua tia pode nos ajudar!
- Como assim?
- Se ela nos ajudar com a magia, poderemos ficar mais fortes e sobreviver mais tempo para lutar contra a Nova Ordem!
Fico pensando por alguns instantes, uma ótima ideia, pois veria meu pai, mas por outro lado, nós levaríamos a morte até eles. Nesse momento não tínhamos escolha, toda ajuda é bem-vinda.
- Eles moram na Capital, seríamos capazes de chegar lá com vida?
- E você duvida da nossa capacidade? – Hanyel falou enquanto pega seu livro de feitiços. – Eu tenho a solução bem aqui!
Ele abriu o livro, foleou algumas páginas e apontou com o dedo, uma em especial. Era um feitiço de projeção astral, poderia falar com Adriana mesmo distante. Não devíamos perder tempo, lemos as instruções, deitei-me ao chão, esvaziei minha mente, senti que Hanyel aproximou sua mão sobre minha cabeça, e logo disse:
- Concentre- se em sua tia, seja rápida e clara, especifique que estamos indo junto a ela, ok?
- Ok...
Fechei os olhos, respirei profundamente, relaxei... senti que meu corpo estava leve, então comecei a mentalizar Adriana. Minha mente vasculhava ela por todos os cantos, até que a encontrei deitada em sua cama tirando um cochilo, parecia que o universo estava a nosso favor. Chamei-a, não deu resultado, a chamei outra vez, ela acordou assuntada.
- Bianca? – Ela falou duvidosa.
- Adriana, vou ser breve, estamos sendo caçados, eu meus amigos, estamos indo até você, precisamos da sua aju... – Fui interrompida por gritos desesperados.
Abri os olhos rapidamente, ofegando e muito assustada.
- O que houve? – Perguntei assustada.
- Parece ser Ariane, precisa da nossa ajuda!
Pegamos nossas varinhas e saímos correndo em direção aos gritos, quando nos deparamos com Ariane vindo em nossa direção assustada.
- Você está bem? – Pergunto.
- Estou! Você está? Ouvi-la gritar!
- Achamos que fosse você! – Hanyel falou.
O clima em nossa volta sobrecarregou, sentimos um arrepio, algo ruim parecia estar próximo. Ouço passos ao redor, mais passos. Um batalhão de guardas da Nova Ordem nos cerca de todos os lados, Hanyel saca a varinha levanta um bloco de terra e lança a nossa frente, logo ouvimos aplausos.
“Clap, clap, clap”
- Até que para um bruxo jovem, você tem habilidade! – Um homem de terno com óculos escuros, passa por cima do corpo de um guarda que havia sido morto pelo bloco de terra.
- Quem é você? – Ariane pergunta.
- Eu quem faço as perguntas por aqui bruxinha! Onde está meu filho?
Na hora não pude acreditar, mas quando caiu a fixa, notei que aquele homem, era o homem dos outdoors, panfletos e propagandas na TV, era o chefe da N.O.M. e pai de Victor Hugo.
- Vou repetir apenas mais uma vez ou vamos atirar seu dó! Onde está meu filho? – Disse aquele homem, serrando os dentes uns nos outros.
- Ele não está aqui, Victor se mandou! – Hanyel fala e Ariane abaixa a cabeça.
- Mentira!!! – Grita o homem. – Victor não sobreviveria em uma mata como essa sozinho. É fraco igual a mãe dele, é fraco igual àquela vadia em que eu preguei uma barra de ferro em sua testa!! – Ele grita novamente.
Logo atrás dele uma voz surge em meio as árvores, era Victor apontando a arma para seu pai.
- Estou aqui... – Disse Victor.
- Filho! Hahaha, papai estava preocupado, porque não estava em casa?
- Não me chame de filho!
- Você é fruto da minha relação com aquela vadia! Você é sim meu filho! Levem-no para casa!
Um guarda dá uma coronhada na nuca de Victor que cai rapidamente ao chão.
- E vocês... eu darei mais algumas horas de vida, pois preciso tirar a limpo algumas coisas com meu filho!
Os guardas ficaram em posição de sentido, guardaram suas armas, alinharam-se e foram andando em fila indiana. Dois guardas pegaram Victor e o levaram, o homem de terno, óculos escuros e sapatos extremamente brilhantes, deu um leve sorriso e saiu logo em seguida.
Aos poucos os passos foram sumindo e os guardas adentraram na floresta. Olhei para os outros assustada, era hora de irmos embora e tentar salvar nossas vidas enquanto tínhamos tempo. Pegamos as mochilas e saímos correndo floresta a dentro.
- Corram!! – Eu gritava para Ariane e Hanyel.
O medo havia tomado conta de mim, não sabia quanto tempo ainda tínhamos de vida, certamente era muito pouco. Não olhava para o lado com medo de ver algum guarda, apenas corria em frente, rebatendo galhos de árvores com as mãos e ouvindo os passos pesados de Hanyel e a respiração ofegante de Ariane.

A inquisição de B.A.H.V.Onde histórias criam vida. Descubra agora