2003

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Giovanni


Estava sentado na poltrona olhando meu império pela janela de vidro e tomando uma boa dose de um velho whisky escocês. Se meu pai estivesse vivo para ver tudo o que construí, certamente me daria valor. O que a raiva não faz com um ser humano, o que uma traição não pode gerar?
- Creio que deve começar a torturar os bruxos meu bem... – Disse uma voz vinda das sombras.
- Ainda não é o momento querida.
Esta bruxa estava começando a querer interferir em meus planos. Não deveria dar ouvidos a ela.
- Você me parece tenso, me deixe alegra-lo... – Disse ela por trás de mim, passando suas mãos por meu ombro e descendo por meu corpo.
- Me deixe só, estou pensando sobre o próximo passo que devo tomar.
- Tudo bem então... caso queira que eu lhe faça companhia, sabe muito bem onde me encontrar. – Falou caminhando diretamente ao quarto.
Bruxas... vadias nojentas que seduzem homens em troca de poder, não me deixaria ser enganado outra vez, muito menos por esta que não tem nem a metade dos poderes que deveria ter.
Levanto-me da poltrona, vou até o balcão de bebidas e pego mais uma dose de whisky. Madeira estralava no fogo da lareira, o fogo iluminava a cabeça dos animais que um dia cacei. Estava nevando, os prisioneiros caminhavam nas ruas cobertas por neve, nos rostos deles expressavam o sentimento que eu queria deixar neles... tristeza!
Caminho até em frente a lareira, sento-me ao sofá e pego um charuto da charuteira. Acendo-o e começo a saboreá-lo. Algo em minha mente me atormentava desde a hora que acordei, sou levado para esta lembrança mais uma vez e viajo em minha mente, para o passado.

                                       ...

Era o ano de 2003, época onde as guerras mundiais estavam no auge. O mundo estava sendo devastado enquanto eu e minha família se mantínhamos no luxo, longe de qualquer tipo crise na sociedade. Minha esposa Rosângela, acabara de dar à luz o meu primogênito, Victor Hugo. Meu pequeno garoto, parecia um príncipe de contos de fada, olhos azuis, pele clara e cabelos negros iguais do pai. Ah, meu filho adorado, presente que a vida me deu.
Eu estava chegando em casa com meu pai, nós dois havíamos ido para uma reunião na cede da nossa ordem. Meu pai ainda vivo na época, era o chefe da nova sociedade. A liderança da sociedade que vem passando de geração em geração aos homens de minha família em breve seria minha.
- Estou com saudade de meu neto, Giovanni, a semanas não o vejo.
- Sabe que pode vir a hora que quiser ver Victor, pai. Rosângela e eu sempre estamos com a porta de nossa casa abertas para o senhor.
- Rosângela não gosta de mim Giovanni, ela sabe que eu sou o descendente dos grandes inquisidores da antiga Europa e que guardo e mantenho a mesma opinião sobre pessoas como ela. Se eu tivesse oportunidade... acabaria com ela.
Ela é diferente pai, nunca machucaria alguém com sua magia, o senhor deveria ter mais consideração com a mulher de seu filho e mãe do seu querido neto.
Meu pai não sabia o valor que Rosângela tinha para mim. Mesmo sendo uma bruxa, ela era a mulher da minha vida.
Chegamos em casa, abro a porta de casa, estava em completo silêncio, caminho pela casa e não encontro ninguém.
- Devem estar na estufa, sente-se pai, logo volto.
Rosângela passava quase o dia todo na estufa cuidando de suas plantas, ela era conhecida como a bruxa das sementes maduras. Saio pela porta dos fundos e vou até a estufa. Vejo ela cheirando uma folha de capim-limão.
- Oi querida, como está Victor?
- Oi amor, ele está bem, como foi a reunião?
- Muito bem, daqui a alguns dias meu pai passará a liderança da Nova Ordem para mim e nós poderemos ajudar todas as pessoas deste mundo!
- Isso é maravilhoso! – Ela me abraça e me dá um doce beijo.
- Meu pai está nos esperando na sala, veio para almoçar.
- Seu pai me odeia.
- Não, ele não te odeia, ele foi criado daquele jeito, a opinião dele sobre pessoas diferentes como você é apenas um detalhe.
- Seu pai é um assassino da minha raça Giovanni, acha que eu não sei que ele ainda tortura e mata meus irmãos de magia?
- Isso não é verdade querida, ele não faz isso. – Vou até o carrinho onde Victor estava dormindo. – O que é isto na mão de Victor?

Uma pedra com uma runa entalhada para protege-lo, não me sinto segura nesta ilha onde moramos Giovanni, a qualquer momento podem localizar esta ilha e nos atacar.
- Não temos inimigos.
- Nós não, mas seu pai sim!
Tiro a pedra da mão de Victor que estava dormindo.
- Você sabe que eu não quero que você use magia com Victor!
- Ele é meu filho, é filho de uma bruxa, deve estar entre a magia. O desejo de seu pai é de me matar por isso e eu não negaria o fato de que também mataria ele se for preciso.
- Mas ele também é meu filho, deve e vai ser uma pessoa normal!
Meu pai não faria isto e você também não vai fazer isto. Me promete?  A partir de agora eu a proíbo de usar magia com meu filho!
- Nosso, Giovanni... nosso filho! – Uma lágrima corre por seu rosto. - Eu prometo...
- Me desculpa querida. – Abraço Rosângela, amava tanto ela que não conseguia deixa-la magoada sem poder ampara-la. – Vamos, meu pai quer ver Victor. – Coloco a pedra sobre um vaso de planta, pego o carrinho de bebê e vou com Rosângela para casa.
Chegamos na sala, meu pai observava o quadro na parede.
- Este quadro pertenceu a meu pai, se cuidarem bem, passará para Victor Hugo, meu grande neto! – Meu pai disse ao se levantar e pegar Victor do carrinho de bebê, já havia acordado.
Rosângela foi a cozinha e preparou uma bela macarronada, estávamos com fome, pois a reunião foi longa e bem burocrática. Nos sentamos ao redor da mesa para almoçarmos, meu pai começa a comer e consequentemente começa a falar sobre o trabalho.
Creio que não devo interferir em nenhuma guerra atual... – Diz meu pai.
- Como chegou a esta opinião pai?
- Sabe... as pessoas quando estão quase desistindo da vida, são mais propícias para serem mandadas e é isto que eu quero, pessoas obedientes perante minhas ordens, não quero partir para a violência, pelo menos não agora! – Ele ri enquanto colocava uma garfada de macarrão na boca.
- Mas... o senhor não acha que muitas pessoas irão morrer se não interferir na guerra agora? – Disse Rosângela.
- Sim! Muitas irão morrer, mas se você pensar por um lado... sobrará mais terras para nós nos apossarmos, não é? – Meu pai disse.
O telefone celular de meu pai toca. Alguém da cede da Nova Ordem havia ligado para dar a notícia que helicópteros estavam próximos a ilha onde nós morávamos.
- Filho... temos que retornar a cede e ver de qual país são estes helicópteros.
- Querida, tenho que ir. Cuide de Victor, me ligue se acontecer algo, proteja nosso filho se alguém atacar a ilha, prometo que volto em meia hora com guardas para protegerem vocês.
- Giovanni...
- Volto em meia hora meu bem!
Levanto-me rapidamente, pego meu paletó, dou um beijo em Rosângela e outro em Victor.
- Tchau querida, tchau meu pequeno, papai vai voltar daqui a pouco, não tenha medo.
Meu pai olha com um olhar estranho para Rosângela e sorri. Até mais tarde minha nora.
Ele pega seu chapéu e sai para fora, vou junto. Nos encaminhamos ao helicóptero que nos esperava no heliporto da ilha. Voavam para a cede da N.O.M.
- Você devia se desfazer daquela mulher, ela trará problemas.
- Você ainda continua com essa sua raiva por Rosângela.
- Não quero que meu neto se torne um deles, não quero que você seja dominado por uma mulher assim, não será o chefe da Nova Ordem, enquanto aquela mulher estiver viva.
Não falo nada, apenas abaixo minha cabeça e ouço o que ele dizia.
- Sei que seu desejo por liderar a Nova Ordem é maior que seu amor por aquela bruxa, não adianta negar, você já me disse isto uma vez.
- Eu quero deixar minha marca no mundo pai...
- E vai deixar, apenas deve se desfazer daquela bruxa. Um dia meu neto será seu sucessor e você não vai querer que seu filho tenha vergonha de um homem que não moldou o mundo a sua imagem devido a um sentimento banal a uma bruxa nojenta.
- Pare de dizer isto!
Meu pai pega o telefone.
- General... pode atacar!
- O que? – Falo assustado.
- O dia da sua posse chegou Giovanni.
- Você não foi capaz disso, diga que...

- Eu sou capaz de qualquer coisa filho, ou não me chamo Adolfo Miodenttor, chefe da Nova Ordem Mundial.
Meu corpo paralisa, minhas mãos tremem. Não tinha o que fazer, Rosângela iria ser atacada, meu filho estava correndo risco de vida! Dou um soco na cara de meu pai que bate na parede de ferro do helicóptero e desmaia.
- Volte agora para a ilha! – Digo para o piloto.
Ele faz uma manobra no ar e retorna. Meu coração palpitava, meu pai me traiu, teria dado ordem a matar a mulher de seu filho.
Pousamos na ilha, abro a porta e saio correndo, ouço os gritos do meu pai que acordava no helicóptero, veio correndo atrás de mim, me xingando de todos os nomes possíveis.
A porte de casa estava escancarada, havia pegadas de lama pela varanda que iam para dentro da casa.
- Rosângela! – Chamo ela ao entrar na casa. – Onde você está?
Olho na cozinha, o carrinho de bebê caído ao chão, marcas de sangue no chão e nos móveis. Talheres ao chão, marcas de bala na parede.
- Rosângela!! – Chamo outra vez indo ao corredor.
Homens trajados com a armadura da N.O.M. mortos grudados na parede. Um rio de sangue havia se formado no corredor, sigo em direção a escada que dava aos quartos, havia sangue em cada degrau. Subo correndo, ouço som de passos, meu pai havia entrado na casa também. Vou até meu quarto, a porta estava trancada.
- Rosângela, estou aqui, por favor... – Digo chorando. – Me diga que está bem...
O som da chave girando soa na porta, ela abre... 
- Giovanni! – Falou chorando, segurando uma faca em sua mão.
- Onde está Victor?
- Ali na cama... eles... eles quase me mataram! – Rosângela falou chorando, olhando para a roupa rasgada com marcas de sangue.
- Meu pai, ele quer matar você, temos que...
- Não vão fazer merda nenhuma! – Meu pai apareceu na porta segurando uma arma apontando para nós.
- Pai! Pare com isto.
Ele entra no quarto e vai em direção a Victor e aponta a arma para Rosângela.
- Não vou ter um neto que cresça em meio a pessoas como esta vadia. Eu tenho sangue de inquisidor nas veias, não vou negar minhas origens e como bom cristão, não deixarei a feiticeira viver. – Falou com um ar diabólico.
Rosângela segura firme a faca em sua mão, ela tremia, não de medo, mas sim de raiva.
- Se tentar algo a mim bruxa, atiro em sua cabeça e como seus miolos no jantar!
- Cala sua boca seu velho imundo! Não vou ser submissa a você! – Disse ela erguendo a faca ao ar usando sua magia.
- Rosângela, não faça isso! – Fali.
- Ele não vai me matar! – Rosângela falou. – Tenho que proteger meu filho, você vai deixar que seu pai mate a mãe de seu filho?
- Você me prometeu que não usaria mais magia!
- Eu sou uma bruxa Giovanni, não devo renunciar a magia! Nunca! – Ela olha para meu pai e lança a faca sobre o peito dele.
A faca voa ao ar rodeada de uma luz verde e crava rapidamente no peito do meu pai que atira.
- Dance pelada com o diabo no inferno sua vadia! – Disse cuspindo sangue.
- NÃO!!! – Gritei desesperado, o tiro acerta o coração de Rosângela.
Ela cai ao chão, Victor começa a chorar, corro em direção a meu pai, que estava morto ao chão.
- Como pode fazer isso comigo? – Falei chorando ao tirar a faca do peito dele. – Como pode me trair?

A inquisição de B.A.H.V.Onde histórias criam vida. Descubra agora