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Bianca

Não pensamos outra coisa a não ser ir trás de meu pai.
- PAI! – Eu gritava adentrando a floresta.
Estava muito escuro, aquele som no ar me atormentava. Galhos de árvores batiam em meu rosto, senti que deixei Adriana e minha vó para trás, não poderia voltar sem meu pai junto a mim.
Não pensei na questão de um caminho de volta apenas fui entrando na mata fechada, meus pés afundavam na neve espessa. Já devia ter se passado uns dez minutos, não ouvia a voz de ninguém, apenas minha respiração que aos poucos ia ficando mais ofegante.
Paro ao lado de uma árvore, apoio-me nela, tiro os cabelos do rosto e quando olho para frente vejo um pequeno ponto de luz que brilhava a alguns metros a frente.
- Pai?
Corri até lá. 
- Pai! – Fali entusiasmada.
Apenas o cetro de meu pai estava ali, a luz dele pulsava com um coração, aos poucos estava se apagando.
- Pai, onde você está?
- Bi... Bianca... – Uma voz cansada me faz olhar para o lado.
Meus olhos se encheram de horrores e de lágrimas ao ver aquilo... meu pai todo perfurado, com uma lança enfiada em sua virilha, a ponta dela brilhava na lateral de seu pescoço.
- Pai... – Falo em lágrimas.
- Filha... fuja... tire sua tia e sua vó desta floresta enquanto a tempo. – Disse meu pai expelindo sangue coagulado pela boca.
- Quem fez isso com você pai? Me diga!
- Fuja Bianca! Vingue minha morte, não deixe aqueles filhos da puta te pegarem... não deixe eles... filha... eu... te... am.... – A voz dele parou.
O cetro que ilumina o corpo do meu pai pulsou por uma última vez a luz azul.
Caio de joelhos ao chão.
- PAAAIII! – Solto um grito de dor e de tristeza.
Estava na vasta escuridão, tremia sem parar. Minhas mãos ao chão tingiram-se com o sangue do meu pai. Abraço o cadáver dele.
- Não pai... não... – Disse aos prantos.
A dor que saía de minha alma queimava meu ser, grito em desespero. Pedia mais do que tudo a vida de meu pai.... Eu estava sozinha agora, era mais uma órfã no mundo. Em mais um grito de dor que soltei, meu corpo explodiu em chamas. De nada fui capaz de fazer a não ser ficar ali abraçada ao corpo de meu pai que junto comigo ia queimando.
- Que o fogo te leve para um lugar melhor pai... – Falei.
O corpo de meu pai incendiado brilhava entre as árvores cobertas de neve. Caio ao chão, o gelo abaixo de mim derrete e evapora imediatamente, me fazendo assim ficar deitada encolhida na terra.
- Pai... – Chamei-o por mais uma vez.
- AGORA! – Um grito surge em meio aos pinheiros.
Fiquei imóvel ao ser bombardeada com dezenas de granadas de hidrogênio. Gritava de dor mas permaneci ao lado do corpo do meu pai. Eu não iria ser uma assassina assim como os que mataram meus pais... não seria!
Da mata surgem mais guardas, pude ver o rosto de minha vó desacordada algemada e com uma coleira em seu pescoço. Ao seu lado um globo de contenção com Adriana dentro também desacordada.
O nitrogênio começou a apagar minhas chamas. Meu corpo começa a ficar anestesiado. Meus nervos se contraem e paralisam-se, estou completamente imóvel. O fogo de mim é extinguido naquele momento. Guardas se aproximam de mim, erguem meu corpo congelado. Olho pela última vez o corpo do meu pai que ainda queimava.
Meus olhos se enchem de lágrimas, as últimas lágrimas que meus olhos derramariam daqui por diante. Eles estão vindo... estão vindo com uma caixa de ferro, vestem em minha cabeça. Apenas sinto os cristais de gelo tomarem meu cérebro...
...
“Treck”...
“Creck”...
“Tlinck”...
Ouço som de gelo estralando. Não sinto meu corpo. Meu coração pulsa uma vez a cada minuto. Parecem que em minhas veias correm agulhas. Tento abrir os olhos... não consigo. Onde estaria? Será que estou morta? Meus deuses me ajudem!
“Treck”...
Ouço novamente. Consigo sentir meus olhos, os abro lentamente, parecia que algo os segurava na posição que estavam.
A visão embaçada apenas enxergava vapores brancos gelados ao meu redor. Aos poucos ela vai melhorando, consigo enxergar onde estava. Era como um grande freezer, onde dezenas de tubos de ferro expeliam gases congelantes. Com a cabeça imóvel, movo apenas meus olhos por todo salão azul congelado.
Havia pessoas acorrentadas nas paredes e penduradas, todas azuis... todas congeladas. Olho para minhas pernas e as vejo acorrentadas, meus braços também. Não os sentia, estavam completamente cobertos de gelo.
Ouço o som de travas se abrindo, logo uma grande porta redonda de ferro é aberta. Duas pessoas vestidas com roupas brancas que cobriam todo seu corpo em apenas um tecido, entraram. 
Carregavam pranchetas em suas mãos, deviam estar fazendo um controle das pessoas congeladas ali ou até mesmo da temperatura.
- Uma está com os olhos abertos. – Disse um dos homens.
- Estas pragas... diminua para -126 C°.
- Estou indo Rick...
Um deles fica me observando e anotando tudo em sua prancheta enquanto o outro foi abaixar a temperatura. 
- Agora não vai acordar tão fácil assim. – Um deles diz.
Continuam verificando as pessoas, as tocam e medem a espessura do gelo que cobria o corpo delas.
Sinto meus olhos amortecerem, piquei e eles se mantiveram fechados. Um tufo de ar gelado vem em minha cabeça. Congelo...

A inquisição de B.A.H.V.Onde histórias criam vida. Descubra agora