Coração partido

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Ariane

Victor havia me salvado de ser baleada por um dos guardas. Olho para o chão, pelo canto do meu olho e vejo em seu pescoço o mesmo pingente que eu havia devolvido a ele. Aquele que tinha uma serpente e uma espada. Não sei, mas aquele pingente me dava uma sensação estranha. Não ruim e nem boa. Me ajoelho ao seu lado, ele estava se afogando com o próprio sangue. Os tiros haviam o perfurado inteiro. Ele não aguentaria por muito tempo. Uma poça de sangue havia se formado a sua volta. Ele gemia de dor.
Ele ergue sua mão e arranca a corrente do pescoço e a coloca em minhas mãos.
- Fique com isso. – Ele diz com dor e voz falha.
Ele me olha com seus olhos azuis, ele estava chorando, mas no fundo podia ver que ele estava feliz por estar morrendo. Sua franja não estava muito em seus olhos agora, podia vê-los perfeitamente.
- Sei que nessa guerra não sobrará ninguém... – Ele se esforça para prosseguir falando. – Mas... quero que fique com ele...
Minhas lágrimas se chocam ao seu redor.
- Victor... – Não sabia o que falar. 
– Estarei com você sempre. – Fala. – Eu te amo... sempre amarei... não haverá outra garota... eu...
Victor não termina a frase, mas sabia o que ele diria. Que nunca quis me machucar.
Ele morrera sem meu perdão, aquilo estava me corroendo por dentro. Queria gritar que estava doendo muito a sua perda. Sinto mãos me tocarem em meus ombros.
- Sentimos muito querida. – Era Adriana.
Ela e Hanyel me abraçam forte.
- Ele... ele se foi. – Falo soluçando.
- Ele te salvou. – Adriana fala acariciando meu cabelo.
- Ele era um idiota. Mas morreu para salvar você Ari. Ele salvou a garota que amava. – Hanyel diz, o ódio que ele sentia por Victor, havia sumido de seu olhar.
Aperto o pingente em minha mão.
- Todos nós morreremos nessa guerra.
- Sim, mas livraremos esse mundo desses malditos. – Adriana fala. 
O corpo de Victor estava pálido, sua camisa xadrez encharcada de sangue vermelho escuro.
- Ele não morreu em vão.
Ouço passos vindo rapidamente, Giovanni aparece correndo, nunca o tinha visto chorando.
Adriana e Victor se afastam do corpo de Victor, os guardas ali, pareciam ter esquecido de nós.
- Meu filho... filho, fale comigo. – Diz chorando, ele acaricia o cabelo do filho com ternura. – Não posso ter perdido você também meu filho. – Não me deixe, por favor... não me deixe.
O guarda que havia atirado em Victor sem intenção, acabou matando o filho do chefe, ele estava petrificado, medo percorria por seu rosto. - Meu senhor... me desculpe... não quis machucá-lo senhor.
- De nada adianta suas desculpas Rogers. Você matou meu filho... você matou MEU FILHO! Seu desgraçado. – Giovanni olha para o guarda com raiva.
Nós três parados a sua frente, estávamos invisíveis para ele.
- Guardas!!! – Grita com ódio.
Os guardas se aproximam correndo.
- O matem agora! Matem este desgraçado! 
Os guardas tristes, não sabia o porquê da tristeza estampada em seus rostos. Talvez por terem que matar um de seus colegas. Mas mesmo assim eles obedeceram às ordens de Giovanni.
Tiros de fuzis perfuraram o assassino de Victor. Ele cai ao chão sem vida. Adriana me abraça. Hanyel estava boquiaberto com o que acabara de ver.
Giovanni se levanta e vai até o corpo caído do homem e o chuta com força.
- Vá para o inferno seu maldito. Sua casa será lá a partir de hoje.
Mesma sabendo que ele havia morrido, ele saca sua Glock e atira na cabeça do homem várias vezes, explodindo seu cérebro, partes voaram com sangue para todos os lados. Não aguentava ver aquilo.
Adriana me apertava ainda mais. Hanyel estava quase vomitando.
- Ai meus deuses. Vou vomitar. – Diz.
Ele se inclina atrás de um latão de ferro e começa a vomitar.
Adriana e eu apertamos o nariz.
- Cruzes Hanyel. – Falo.
Ele ri.
- Caramba, nunca me senti tão bem.
Adriana o olha.
- Pensei que você fosse forte o suficiente para aguentar isso. – Ela ri.
- Eu sou. Mas não como nada a dias. Meu estômago não é de ferro.
Nossa atenção a voltada novamente para Giovanni.
- Joguem o corpo deste miserável na fornalha. – Diz para um dos comandantes dos guardas. – E levem o corpo de meu filho para o quarto.
O que ele faria com o corpo de Victor? Aquele homem tinha ficado mais louco do que já era. A dor da perda de Victor estava doendo. Mas não podia deixar que essa emoção estragasse tudo. Estava tentando ser forte, mas não era tão fácil assim.
Quando se perde uma pessoa que ama, seu coração se parte em vários pedaços. Virando fragmentos. A dor da perda seria superada algum dia, mas não esquecida. Ele me escolheu com todos os meus defeitos e loucuras, foi ao meu inferno, sorriu e ainda decidiu ficar. Estava chorando silenciosamente.
Hanyel estava ao meu lado.
- O que esse louco vai fazer com o corpo do próprio filho?
- Também queria saber. – Digo.
- Ele irá congelá-lo talvez, manterá seu filho para o resto de sua vida, manterá seu filho.... Ele não terá coragem de enterra-lo, nenhum pai deveria enterrar seu filho.
Adriana tinha razão, mas de qualquer forma não saberíamos qual seria o destino final do corpo de Victor Hugo. Os guardas o colocaram em uma maca e entram no prédio que Giovanni morava. Restará só aquele pingente em minhas mãos e nada mais. A guerra começará, o caos estava presente naquele lugar. Estávamos prontos para destruir esse lugar, nem que isso significasse nosso fim.

A inquisição de B.A.H.V.Onde histórias criam vida. Descubra agora