Marionete

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Victor

- Bom trabalho garoto! – Ouvi uma voz de mulher vinda atrás de mim. – Foram mortos como porcos em um abatedouro. – Ela põe a mão em meu ombro e começa a rir.
Antes disso, meu pai havia mandado guardas para buscar-me na cela. Achei que iria ser morto ou ser torturado por meu pai outra vez. Mas não. Levaram-me a uma sala escura, com apenas uma lâmpada de luz fraca pendurada para iluminar a sala. Fui acorrentado e preso em uma cadeira de ferro, que tinha cheiro de sangue podre.
A início não sabia do que se tratava, mas logo descobri, quando meu pai entrou na sala com alguém a seu lado. Não pude reconhecer quem era, pois via apenas um ser de sombras ao lado dele. Perguntei a ele o que iria fazer comigo, ele riu e disse que eu iria ser o mapa dele.
Fiquei nervoso, tentei escapar, mas as correntes me seguravam fortemente. Aquela pessoa que estava com meu pai se aproximou e posicionou-se atrás de mim. Senti suas mãos próximas a minha cabeça. Comecei a gritar por ajuda, meu pai apenas ria, deu meia volta e saiu da sala.
Aquelas mãos que pareciam emanar uma energia fria encostaram em minha cabeça e eu sinto uma forte ferroada em meu cérebro. A dor foi intensa que cheguei a fechas os olhos. 
Tudo escuro. Uma enorme porta de ferro em minha frente com uma fechadura. Ariane aparece em meu lado.
- Ari...
Ela sorri.
- Como você veio parar aqui? – Pergunto.
- Depois lhe conto, temos que sair daqui. Tome, pegue esta chave, abra a porta. – Disse ela me entregando uma chave escura e fria.
- Que lugar é este? 
- Rápido, não temos tempo! Abra a porta.
Caminhei até a porta, lentamente coloquei a chave na fechadura e a girei. Ouço o som de ferro sendo torcido. Aporta range e um risco de luz escura a rompe ao meio, fazendo com que ela se abra.
Do outro lado havia névoa e ventava bastante. Ariane se aproxima de mim. Olha em meus olhos. Seguro as mãos dela. Nossos lábios se unem em um doce beijo. Senti que Ariane havia segurado meus braços, não conseguia tirar minha boca da dela, estávamos conectados, algo saía dela e começava a tomar meu corpo.
Abro os olhos assustado, ela me olha.
- Você é mais tolo do que eu pensava. – Disse Ariane com uma voz grossa e assustadora.
Tremi de medo, quando vi seus olhos se tornarem completamente negros. Seu corpo começou a tremer e a saltar veias escuras de sua pele. Aos poucos foi se deformando e ficando totalmente irreconhecível. Seu corpo estava preto completamente.
- Agora vamos! – Ela falou.
Aquilo não poderia ser Ariane e não era! Aquela coisa enfiou a mão em minha boca, seu corpo estava se introduzindo ao meu. Caio ao chão, me afogando com o corpo daquele monstro entrando no meu. Parecia estar me rasgando completamente por dentro. Sua cabeça já havia entrado, seus braços e corpo também. Tentei gritar por socorro, quando o monstro entrou por inteiro dentro de mim.
Fico tremendo ao chão, meus nervos se contorcem, tinha alguém dentro de mim querendo tomar o controle. E esse alguém conseguiu.
Acordo na cadeira ainda amarrado. Uma mulher colocava a mão em meu ombro. Em seguida meu pai entra naquela sala.
- Serviço completo! – Diz ele.
- Agradeça ao seu filho. – Disse a mulher.
Meu pai vem até mim e se abaixa. 
- Acabou filho! Sua namorada agora conhece sua mãe! – Disse ele sorrindo diabolicamente.
- Seu desgraçado! – Gritei.
- Não fui eu que entreguei meus amigos para a morte... foi? – Ele se levanta e começa a andar até a porta. – Guardas, levem ele de volta a cela. Moça... por favor me acompanhe.
Aquela mulher sai de trás de mim e caminha junto a ele. Seu vestido preto e longo esbarrava no sapato de salto alto também preto. Ela engancha o braço no do meu pai e caminham para fora.
Dois guardas com trajes novos entram na sala e me retiram da cadeira. Não tinha forças para caminhar, de algum modo aquela mulher sugou toda minha energia. Arrastaram-me até minha cela, junto com os cinco prisioneiros.
Abrem e jogam-me com toda força. Gregório me segura, para mim não cair ao chão.
- O que fizeram com você? - Pergunta Elisabeth. 
Fico em silêncio, a única coisa que fiz foi começar a chorar sentado no canto da cela.
- Não fica assim emo, seja o que for, vai passar! – Disse Elisabeth.
- Não vai passar... eles mataram o amor da minha vida – Falei em lágrimas.
Ficaram em silêncio. Sinto o toque no rosto pela mão de Elisabeth, ela fecha os olhos por uns instantes, os abre dá um leve sorriso. Não entendi do que se tratava aquilo. Não queria pensar também. Deitome no chão, encolhido e virado a parede fria. Permaneço quieto por alguns minutos, não conseguia dormir. Ouço os outros conversando.
- O pessoal da N.O.M. está tendo a ajuda de uma bruxa! – Elisabeth fala.
- Mas... como alguém trairia a própria raça? – Diz Tom.
- Alguém poderoso, com o dom do caos. Alguém que é dominado pelo mau. – Elisabeth complementa.
- Não me diga que... – Blanca entra na conversa.
- Sim, eles têm o apoio de uma das Negras! – Diz Elisabeth.
Continuei fingindo que dormia, apenas para ouvir a conversa.
- Estamos ferrados. – Tom falou.
- Quem são essas Negras? – Pergunta Gregório.
- As mais poderosas, avassaladoras e cruéis bruxas de todas as classes. – Blanca explica com a voz baixa. – Realmente, estamos condenados a morte certeira, assim como a namorada do Victor que foi morta.
Meus olhos inchados de tanto chorar, já não derramavam mais lágrimas. Ouvir novamente que Ariane estava morta me cortou o coração ainda mais.
- A única coisa a fazer neste momento é pedir aos deuses para que nos pretejam. – Tom disse.
- Deuses.... Vocês são tão ignorantes, em achar que deuses existem. Deuses não existem! – Ignio falou rindo.
- Estou por aqui com você garoto! Você devia respeitar a crença alheia! – Blanca ergue a voz.
- Mas eles não existem mesmo! – Continua a rir.
- Seu moleque abusado. Respeito sua opinião, deveria respeitar a nossa! – Tom exclama irritado.
- Eu não respeito ninguém cara. Quero que todos vocês se fodam!
Apenas ouvi o som de um forte bater nas grades. Viro-me rapidamente.
- Greg, solte esta merda! Não vale a pena sujar suas mãos. – Blanca fala.
Gregório havia pegado a garganta de Ignio e o batido bruscamente na grade. O garoto começou a chorar. 
- Cala sua boca criança! – Gregório repetiu até Ignio calar-se.
Ele o solta, Ignio cai ao chão com o pescoço roxo com manchas de sangue que subiram a pele. -- Se você quiser continuar vivo, vai ter que saber respeitar as pessoas a sua volta. Eu não creio em deuses, nem por isso abuso da crença dos outros. Você ainda é um moleque, deve aprender que não se deve ficar falando tudo o que pensa, seu merda. – Gregório fala exaltado, batendo com força a mão na parede para aliviar a raiva.
- Senta aqui grandão! – Tom falou para Gregório.
- Acordou emo? Está melhor? – Elisabeth pergunta.
- Ainda não... – Respondo cabisbaixo.
- Nada de ruim aconteceu, acredite nisso. – Ela fala.
Concordo com a cabeça e sento-me ao lado de Tom, que estava abraçado com Blanca.
- Está frio não? – Falo.
- Para os filhos do frio, esta temperatura está perfeitamente agradável. – Tom falou rindo e olhando para Blanca.
- Ele quis dizer que eu sou uma bruxa do inverno Victor e ele é um bruxo Aquaris, bruxo da água. Não sentimos frio como os outros, pelo contrário. O frio nos agrada. – Diz Blanca
Estava começando a gostar de cada um ali de dentro, exceto Ignio, agora sei o que Hanyel sentia quando estava perto de mim, era justamente o que eu sentia por Ignio... absolutamente nada.
Talvez existam pessoas que não nasceram para ser amigas de todas, este era meu caso. Mas a amizade que eu estava a cultivar ali dentro, iria cobrir um pouco a falta que eu sentia de estar ao lado de Ariane.
Guardas vem pelo corredor, param em nossa cela e deixam algumas marmitas com comida. 
- Hm, olha... hoje a comida é comestível! – Tom fala brincando.
Todos riem, exceto Ignio. A comida estava com um cheiro bom, certamente queria tratar os prisioneiros bem, para não morrerem facilmente na hora da tortura antes da inquisição.

A inquisição de B.A.H.V.Onde histórias criam vida. Descubra agora