Enjaulado

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Victor

Já estava trancado a mais de uma semana naquela cela. Bebia somente uma água que escorria no canto daquela sala. Uma vez por dia, um guarda vinha e deixava um pão para mim comer. Todos os dias meu pai vinha conversar comigo, mesmo eu não respondendo nenhuma sequer palavra a ele, ainda sim hesitava em estar lá. Não fazia ideia do que ele estava planejando fazer comigo. Seja o que for... está começando a dar certo.
Não consigo sentir a mesma raiva que sentia dele a uns dias atrás. As vezes lhe olho com pena, talvez a vida dele nunca tenha sida regada a leite e mel como de alguns. Ele era um homem horrível, sim, não posso negar, mas é meu pai. A única pessoa de minha família que ainda está viva. Mesmo matando minha mãe, ele nunca me deixou faltar nada. Me ofereceu sempre as melhores roupas, as mais caras comidas e me deu um lar confortável durante os anos que fiquei sem minha mãe querida.
Minhas feridas já estavam quase todas fechadas, sentia fortes dores nos ossos, mas era devido à baixa temperatura que estava fazendo. Já devia ser véspera do inverno, o vento cortante passava pelas grades e batia em meu corpo. Não tenho sequer uma coberta para me esquentar.
Durante todos estes dias, não fiquei um momento sem pensar em Ariane. Se estava bem, se havia se machucado ou se sentia minha falta. Um breve momento achei que ela poderia estar morta, mas sei que ela não iria se entregar tão facilmente aos capachos de meu pai, pelo menos não enquanto estiver com Hanyel e Bianca ao seu lado. Querendo ou não, a amizade deles é forte demais para se romper devido minha causa.
Ouvi dois guardas comentarem que tentaram capturar Ariane e seus amigos na cidade de Commanvall, mas não tiveram sucesso. Apanharam tanto deles, que nos primeiros dez minutos de peleja, todos os helicópteros enviados já haviam sido exterminados.
Passos ecoam pelo corredor escuro, provavelmente era meu pai, podia reconhecer o som do sapato inglês que ele adorava tanto.
- Olá filho! – Ele diz. – Creio que já deve ter ouvido tudo sobre a caçada que fizemos em Commanvall?
Tentei ficar calado, mas a vontade de saber o que tinha acontecido com Ariane falou mais alto.
- Apenas o começo...perdeu mais de seus helicópteros Geovani? – Falo com tom irônico.
- Giovanni? Onde está o respeito que eu lhe dei? Me chame de pai se quiser continuar vivo.
Calo-me. Ele pega um molho de chaves e abre a cela, entra e se senta próximo a mim na confortável cama de concreto que ele oferecia a seus prisioneiros Vips.
- Vou lhe contar a bela história, que me custou mais alguns bilhões de dólares...
Sentado ao lado dele, olho em seu rosto, não estava com os óculos, aquilo me deixou surpreso.
- Bom... como você deve saber, eles conseguiram chegar até Commanvall. Os guardas conseguiram localiza-los, foram helicópteros e mais ou menos uns dois mil guardas armados e com armaduras especiais, por que descobrimos que aquela vaziazinha de cabelos encaracolados domina o fogo. Bom... eles estavam sedentos pelo sangue deles. É claro que eu não iria deixar que matasse os bruxos, pois isso é tarefa minha.
Mudei meu olhar para o chão.
- Primeiro meus helicópteros explodiram em pedaços, logo mais quinhentos guardas. Até que... foram surpreendidos por mais bruxos... dois para ser exato. – Ele disse com a voz cheia de raiva.
- Conhece os bruxos? – Perguntei.
- Não..., mas em breve vou ter a sorte em conhece-los. Continuando a história, dos meus dois mil guardas, apenas trezentos ficaram vivos, pois correram. Ah! Ia esquecendo. Enviei tanques de guerra. Dez foram destroçados, o restante foi subterrado por toneladas de areia.
- Areia?
- Sim, esses miseráveis têm mais truques na manga do que pensei. Agora estão foragidos novamente, estamos a caça deles ainda. Espero que me ajude a encontra-los. – Meu pai falou, batendo levemente em minhas costas.
Levantou e foi em direção a porta da cela. 
- Tenho que ir para a Alsfurt resolver umas questões com o regente de lá. Volto daqui a dois dias, fique bem meu filho. – Disse saindo e trancando a cela.
Me olhou sorrindo, esperando que eu lhe retribuísse o ato de falsidade também, mas não expressei nada a ele.
Esperei ele se retirar, para soltar um sorriso de alegria. O amor da minha vida estava bem! E havia dado uma surra nos guardas da N.O.M.
Não pude controlar meus sentimentos, lágrimas de felicidade escorreram sobre minha face. Eu amava muito Ariane, tanto que visitei ela em seus sonhos todas as vezes que pude.
Meu amor por ela seria ainda maior, se ela expressasse mais sentimentos. Mas o que ela me dava, já preenchia meu ser de paixão. Faz alguns dias que não consigo encontra-la em sonhos, parece que algo bloqueou nossa conexão, algo ou alguém...
Poderia ser Hanyel, nunca soube qual era o nível de suas habilidades, nunca apresentou próximo a mim ou a de ninguém o que era capaz de fazer. Fico pensativo, seria mesmo ele que tinha feito tal coisa, apenas para me manter longe de Ariane? Ele era extremamente protetor quando se tratava dela e de Bianca, protegia mais elas do que a sigo mesmo. Bom... talvez não seja ele. Nunca ficou sabendo que eu procuro Ari nos sonhos dela diariamente, a não ser que ela tenha contado.
Resolvo dormir um pouco e aliviar a mente, já estava noite, pude ver pela pequena janela que tinha em minha cela. Deito-me e encolho meu corpo, estava frio, eu tremia e estava completamente arrepiado. Fecho meus olhos e apago.
Sou acordado por gritos de pessoas. Imediatamente levanto e olho pela janela, estava de manhã, o sol começava a subir as colinas. Um camburão havia chegado e dentro dele estavam cinco pessoas, com coleiras de choque e com as mãos algemadas.
São encaminhados para dentro do prédio, isso era estranho, pois os prisioneiros eram todos levados para os barracões, onde ficavam ali até o dia de suas mortes.
A porta de ferro do fim do corredor é aberta, guardas vem trazendo os novos prisioneiros. Havia apenas uma cela em meu corredor, justamente a que eu estava. Um deles abre a porta, e coloca os cinco junto comigo. 
- Não vai mais ficar sozinho agora patrãozinho! – Um deles debochou da minha cara.
Dos cinco, estavam ali comigo, duas garotas e três garotos.
- Oi...qual o nome de vocês? – Pergunto. 
A início ninguém responde, mas uma garota quebra o silêncio e se pronuncia.
- Sou Blanca...Blanca Severo! – Disse a garota de cabelos prateados, olhos cinzentos com formato amendoado, boca rosada, pele pálida e vestida apenas com um pequeno short, tênis e uma blusa de moletom largo.
Fico admirando sua beleza. Mas minha atenção é desviada, quando um garoto estrala os dedos próximo a mim.
- Tire os olhos de minha irmã! – Um rapaz alto falou.
- Perdão... eu tenho namorada! – Falei.
- Me desculpe. Sou Tom Severo, irmão de Blanca! – Disse o rapaz de cabelos compridos, totalmente branco. Olhos verdes e com roupas totalmente pretas, desde o coturno até a camiseta.
- Prazer! Sou Victor Hugo! – Disse para tentar encorajar os olhos a falarem também.
- Me chamo Elisabeth Margon! – A garota de cabelos ruivos ondulados, olhos azuis e sardas no rosto falou. Vestia uma saia xadrez até seu joelho, uma camiseta branca e um casaco de pele.
- Meu nome é Gregório Adlans! – O rapaz entroncado, musculoso e com cabelo bem curto se põe em pé, estava com roupas militares.
Faltava apenas um, era o mais calado de todos, quando fui perguntar o nome dele, ele lambeu os lábios e se pôs a falar.
- Eu sou Ignio Devon Campos! – Disse o garoto, que parecia ter uns doze anos, era o mais novo de todos ali. Cabelos castanhos, usava boné, estava de calção e regata. 
- Olá Ignio... vamos passar muito frio aqui! – Falo sorrindo.
Todos olham para Ignio e começam a rir, até mesmo ele olha para suas pernas finas e ri.
- Bom... queimaremos em breve em uma quente e desconfortável fogueira! – Fala Ignio.
Imediatamente todos ficam quietos, Gregório vai até a grade.
- Não morrerei aqui neste lugar e muito menos queimado em uma fogueira! – Diz Gregório.
- Concordo com você! Os dias de guerra estão chegando novamente. E nós estaremos nela para lutar por nossas vidas! – Diz Tom abraçado a irmã.
Faço um sinal com a cabeça em concordância com que Tom havia dito, somos muito jovens para morrer, ainda mais com tal crueldade. Quando eu falo somos, não me incluo, pois sei que meu destino será diferente do deles.
Ouvimos um barulho vindo das algemas dos cinco prisioneiros. Elas destravam e caem ao chão.
- Eles não creem que vocês são fortes ameaças, desativaram as algemas! – Falei.
- Eles não deviam duvidar dos irmãos Severo! – Blanca e Tom falaram juntos, olhando um para o outro.
Gregório e Elisabeth sorriram em concordância. Ignio se manteve calado.
- Você acredita que esses dois mataram dez guardas apenas olhando para eles? – Disse Gregório com os braços cruzados.
- Se refere a? – Pergunto.
- Aos dois de cabelos estranhos! Cara... foi sensacional! Tentei ajudar, mas também fui capturado. – Disse ele.
- Vocês vêm de onde? – Pergunto.
- Nós três aqui viemos da cidade de Dorian! Elisabeth veio de Riverland e Ignio veio da cidade de Sete-Montes! 
- Todos acusados de bruxaria?
- Não somos apenas acusados, somos praticantes mesmo! – Diz Elisabeth. – E você emo?
- Eu... estou aqui, porque sou filho do chefe de tudo isso...
Todos olham assustados para mim, não sabia dizer o que se passava na cabeça deles, mas com certeza não era nada bom em relação a minha familiaridade com o opressor que queria dar fim na vida deles.
Mas de qualquer jeito, eu não poderia negar que era filho de Giovanni Miodenttor, o líder da Nova Ordem Mundial.

A inquisição de B.A.H.V.Onde histórias criam vida. Descubra agora