A batalha de Commanvall

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Hanyel


O frio estava ficando insuportável. O tempo nublado, as nuvens escuras e pesadas pareciam que a qualquer momento iriam desabar do céu. A neblina densa cobria a paisagem. Estávamos na cidade de Commanvall, uma cidade que um dia foi próspera e bela, hoje a população se sente recuada, a fumaça das minas de carvão se misturam com a neblina que aqui reside o ano todo desde a posse da Nova Ordem no governo mundial.
Estávamos andando pelas ruas da cidade, a procura de um lugar melhor para se esconder, o posto abandonado não era seguro.
- Minhas mãos estão congelando. – Disse Ariane.
Nossos passos ecoavam pelas ruas vazias, era difícil enxergar. Era possível ver algumas pessoas andando pela calçada, suas expressões faciais não eram das melhores, certamente aquela cidade estava envenenando a todos. Ouvimos o som de caminhões, nos escondemos atrás de latas de lixo. Eram caminhões que transportavam o carvão da cidade para a Capital. Eram caminhões imensos, deviam ter uns cinco metros de altura e quinze de comprimento. Passaram três caminhões completamente cheios. Quando tomaram uma boa distância, voltamos para a calçada.
- Não é seguro andar por aqui. – Ariane fala.
- Mas seria idiotice ficarmos em meio a mata fechada e acabar morrendo de fome. Perdemos toda nossa comida nessas fugas. – Bianca diz olhando para o chão.
- Achei que fosse eu que só pensasse em comida Bianca! – Falo rindo.
- Calado, hahaha, só você para fazer eu rir nesse momento de nossas vidas. – Bianca me abraça. 
Deito minha cabeça sobre a dela, abraço Ariane para não a deixar desconfortável.
- Somos somente nós três agora, talvez de certo modo, sempre fomos apenas nós, desde o início de nossa amizade. – Falei dando um beijo na testa de Bianca e acariciando a mão de Ariane.
As duas me olham com os olhos brilhantes, pareciam confortadas de algum modo. Mas aquele momento belo, estava prestes a acabar.
Primeiro ouço o som de hélices.
- Não pode ser verdade... – Falo.
- O que foi Hanyel? – Ariane pergunta assustada.
- Veja... – Falo apontando o dedo para algo no céu que cortava a neblina.
Não era apenas um ou dois helicópteros, mas sim dezenas. Sirenes das ruas ecoaram, era o aviso para os habitantes da cidade se recolherem.
- Corram! – Gritei.
O turbulento som das hélices e sirenes invadiam meu ouvido a ponto de me deixarem desnorteado.
- Ariane! – Eu grito. – Use o vento a nosso favor!
Ela acena a cabeça que sim. Saca sua varinha, balança ao redor do corpo em um giro e a aponta para os helicópteros soltando um grito de raiva. Um enorme tufão de vento passa sobre nós, quase me levando ao chão. Aquele brusco vento que foi levantando os carros do acostamento foi em direção a tropa aérea da N.O.M. que começaram a cambalear no ar, fazendo com que dois se chocassem e em uma explosão, caíram ao chão.
Aquilo só os irritou, começaram a atirar em nossa direção, me ponho a frente de Ariane e ergo uma parede de terra que bloqueia os tiros. - Corram, eu cuido daqui! – Falei.
Ariane e Bianca correram virando a esquina e imediatamente voltam afobadas pois batalhões de guardas avançavam sobre as ruas da cidade, com fortes armaduras e grandes armas.
- O que faremos? – Bianca diz.
- É hora de lutar! – Ariane fala confiante.
Meu corpo formiga de adrenalina, pois uma batalha era o que eu mais queria. Com um movimento de mãos ao ar, ergo aquele bloco de terra e lanço em direção aos helicópteros, Bianca sai correndo rua a cima, cruza suas mãos, parece puxar algo de dentro si e atira enormes labaredas de fogo. O barulho foi imenso, mas pouca coisa fez, as armaduras dos guardas eram fortes, o fogo não fizera nada.
Foi aí que resolvemos atacar juntos e em uma só direção. Em movimentos quase que sincronizados, lançamos nossos poderes, rochas estouraram em baixo do asfalto das ruas e voaram contra os helicópteros, juntamente com as ardentes bolas de fogo que das mãos de Bianca saiam e com as enormes rajadas de vento que lançavam carros em direção as tropas que vinham por ar.
Eu sorria de alegria ao ver cada explosão que se formava ao céu. Não se preocupava com os tiros que vinham em nossa direção, pois bloqueava todos com as rochas que eu lançara a todos os lados. O fogo que saía das mãos de Bianca fazia com que o ambiente que antes ali estava frio, ficasse morno e totalmente iluminado de amarelo e laranja. Os cabelos de Ariane, balançavam lentamente no ar, pareciam estar em câmera lenta. Meus olhos se viam encantados com tal demonstração de poderes, que até então duvidava muito que seríamos capazes de fazer.
Os batalhões por terra chegam na avenida que estávamos, sinto um frio na barriga e ouço um zunido no ar. Apenas ouvi Bianca gritar e me empurrar na calçada. Haviam lançado um míssil em nós, quando acertou o chão, explodiu com tanta força, que nos lançou contra a parede de um prédio. Pareço senti meus ossos estralarem, caio bruscamente no chão, com a roupa chamuscada, justamente meu sobretudo que amava muito. Levanto-me e solto um grito de raiva. Estendo minhas mãos ao chão, que começa a tremer, os postes de luz balançam como varas de bambu, os batalhões de guardas ficam paralisados procurando se instabilizar no chão que começava a ondular como uma serpente. Bianca aproveita a deixa e em movimentos circulares com as mãos faz os motores dos helicópteros restantes no ar explodirem e espalharem seus destroços em todas as direções.
Corro para a primeira fileira de guardas que tinham escudos, ergo minhas mãos para o alto e saem do chão várias rochas afiadas, que atravessaram o corpo dos guardas fazendo seu sangue pintarem a calçada de vermelho. Um guarda atira em Ariane, o tiro tira uma lasca de pele de seu braço. Ela grita de dor e com aquele grito saí um enorme tufão de vento de sua boca que lança os guardas da primeira fileira para os ares.
- Atirem as correntes! – Um capitão da guarda gritou.
O céu ficou prateado, centenas de correntes giratórias vinham em nossa direção, desta vez os ventos nem as pedras conseguiram as parar. Fomos golpeados em todas as direções, aquelas correntes cortaram minhas pernas, olho para o lado, vejo Bianca sufocada com uma em seu pescoço, havia trançado e não saia de modo algum.

Me ajuda! – Disse Bianca com a voz rouca.
- Bianca!! – Ariane gritou.
Os guardas avançavam mais ainda, os passos pesados nos amedrontavam. Não consegui tirar a corrente do pescoço de Bianca, que começou a tremer descontroladamente, parecia estar tendo um ataque epilético, seus olhos brilharam, uma chama se acendeu dentro deles, me afastei. As correntes começaram a ficar vermelhas. Tiros vem em nossa direção, os interrompo com outra parede de pedras, que foi partida ao meio com o tiro de um canhão.
Ariane corre até meu lado com Bianca ao chão, Bianca dá um suspiro, toma ar e com um feixe de luz vermelha saindo de seus olhos e boca uma explosão toma conta do lugar. Sinto o cheiro de roupas queimadas, quando vejo em meio a fumaça preta que saia onde estava Bianca, um ser humanoide de puro fogo me observava tirando a corrente que estava derretendo em seu pescoço.
- Bianca? – Pergunto!
- Hanyel, Ari, vamos destruir eles! – Bianca fala.
Seu corpo havia se tornado chamas puras, seus cabelos cacheados viraram labaredas extremamente quentes, o asfalto onde pisava derretia instantaneamente, levantei-me do chão, olhei para Ariane e avançamos contra os guardas.
Bolas de lava eram atiradas por Bianca, que derretiam vivos os guardas. Com movimentos de mãos e pés, eu levantava enormes blocos de pedra e atirava contra eles, que revidavam com tiros e balas de canhões, que instintivamente Ariane intercedia por meio de tufões de vento.
Houve um momento que não podia ouvir nem a própria voz, o som de explosões, tiros e gritos faziam meu ouvido ficar em êxtase.
Tudo parecia estar em câmera lenta, conseguia perfeitamente desviar dos tiros e granadas, até a segunda saraivada de correntes. Senti meu corpo ser lançado ao chão, juntamente com Ariane. Completamente amarrados com correntes. Bianca se manteve em pé, quando foi atingida com bombas de nitrogênio líquido. O fogo foi aos poucos se acabando, os gritos de dor que saiam dela me agonizaram.
- Bianca!!! – Gritei.
Ela me olha com um olhar triste e é jogada ao chão quando um tiro acerta sua perna esquerda.
Ali estávamos nós, caídos ao chão, sem poder se defender, rodeados de guardas com as armas engatilhadas prontas para atirar.
- Atirem ao meu sinal. – Disse o comandante da guarda. – Um, dois, três...
Um alto som de moto ecoou pela avenida e o que pode se ouvir além disso foi um enorme estrondo de luz azul, que veio arrebentando todos os guardas que nos rodeavam. Era Adriana, tia de Bianca e seu pai, que havia batido ao chão seu cetro.
- Nem sabia que isso aqui ainda funcionava. – Disse Anderson.
Um grito tremido com a língua se estende pelo ar, Adriana avança com frascos em sua mão.
- Sintam o poder da fera! – Disse ela lançando francos de líquido verde em direção ao guardas.
Uma explosão é seguida da quebra dos frascos no chão, uma fumaça verde se estende pelo ar, produzindo um enorme rugido. Eles veem até nós caídos amarrados na rua.
- O que é isso? – Pergunto. 
Bafo de dragão, uma das minhas poções preferidas.- Disse Adriana passando a mão em cima das correntes que me prendiam fazendo-as se quebrarem.
- Levante-se menino! – Disse Anderson. – Você vai lutar comigo!
Ergo-me do chão o mais rápido possível e corro junto a Anderson.
- Sabe fazer terremotos? – Ele pergunta.
- Fiz uma vez, mas...
- Ótimo! – Ele me interrompe. – Faça um agora!
Anderson sai correndo, em meio os guardas que estavam tremendo ao chão devido a poção de Adriana. 
- Agora garoto! – Ele diz girando o cetro no ar.
Estico minhas mãos ao chão e puxo toda a força que pude tirar de dentro da alma naquele momento. Meus dedos começaram a tremer juntamente com o asfalto, que começou a se partir e a ondular novamente. Eu estava fazendo um terremoto, podia ouvir o som de rochas batendo umas nas outras, o som dos prédios trincando ao meu redor, poderiam desabar a qualquer momento. Anderson batia com seu cetro no chão fazendo com que o tremor de terra que eu produzia se intensificasse.
- Olhem para o leste! – Ariane gritou.
Centenas de tanques de guerra vinham destruindo tudo o que tinha pela frente.
- Merda! – Adriana falou, moendo os dedos em sua mão. – Deixem comigo e com minha sobrinha. – Disse. – Ariane, tente produzir o máximo de neblina que conseguir, não sei por que diabos essa neblina sumiu justo agora.

Renda-se bruxa! Ou não sobrará nem um fio de cabelo seu para contar história! – Uma voz veio de um dos tanques de guerra.
Adriana se pôs bem diante dos tanques que se aproximavam, Bianca a acompanhou.
- Bruxa, este é meu último aviso! 
- Atirem seus merdas! – Adriana gritou sorrindo, seus cabelos negros e ondulados, cobriram sua pele branca.
E com as mãos levantadas em direção aos tanques ela repetiu.
- Atirem, seus m-e-r-d-a-s!
Uma explosão atrás da outra se sucederam, pude ver Bianca se encolher. 
- Nebrom exmiah nut sabla! – Disse Adriana, fazendo todas as balas atiradas dos canhões pararem ao ar. – Bianca... sua vez!
Ela lançou as balas em direção aos tanques, Bianca entrou em combustão e lançou gigantes labaredas ardentes de fogo, que se fundiram as balas e atingiram em cheio os tanques, que começaram a explodir seguidamente.
Ariane estava parada em meio a rua, seus cabelos flutuavam no ar, um círculo de neblina extremamente densa se formava em sua volta, logo foi se espalhando e tomando conta de toda a cidade novamente.
Eu e Anderson havíamos acabado com aquele grupo de guardas, fomos juntos a Adriana, Bianca e Ariane. Tanques e mais tanques surgiam além da linha do horizonte da cidade.
- Somos fortes, mas não vamos conseguir com todos. Já devem tem chamado mais reforços! – Anderson falou para Adriana.
- Tem razão, eles querem nos pegar a qualquer custo agora. – Falei.
Já sabe o que fazer não é Anderson? – Adriana fala.
- Já estou começando a fazer aqui. – Anderson levanta seu cajado e começa a proferir palavras estranhas. Um círculo de luz azul se forma em sua volta. – Venham, entrem no círculo. – Ele falou.
- Espere um momento, preciso saber se meu pó vai funcionar. Ariane, faça o vento mais forte que conseguir. – Adriana falou, tirando de seu bolso um pequeno saquinho marrom, despejou o pó em sua mão e disse. – Agora!!
Ariane ergueu as mãos ao céu e fortes ventos avançaram sobre nossas cabeças, indo em direção aos tanques que davam aviso para atirar. Adriana sopra aquele pó e diz:
- Sintam o gosto das areias do velho Egito! Hahahaha! – Solta uma gargalhada.
Aquele pó dourado, gira ao ar e começa a se expandir. Aquele pequeno pó, começa a virar areia e se torna cada vez mais volumoso, chegando ao ponto de se tornar um furacão, que começou a ir em direção aos tanques de guerra, deixando enormes dunas de areia por onde passara.
- Ótimo! Funcionou! – Adriana disse, entrando no círculo de luz.
A luz azul ficou cada vez mais intensa e nos cobriu completamente. Sentimos um forte puxão para cima e vagamos por alguns instantes sobre o tempo e o espaço. Aquilo seria maravilhoso, se o portal que Anderson havia aberto, não nos levasse bem um lugar extremamente cheio de gente.
Com outro puxão, somos lançados em direção a mesas de uma praça de alimentação de um shopping. Senti meu corpo ser esmagado, quando todos eles caíram sobre mim, juntamente com batatinhas, hambúrgueres e milk-shakes!
Anderson!!! – Adriana grita com raiva. – Porra! Não sabe abrir portais?
- Você quer o que em hein? A anos eu não faço nada disso! – Ele retruca.
- Por favor, eu... estou... meio que esmagado! – Falei ofegante.
Levantaram correndo. As pessoas nos observavam com os olhos arregalados, todas com o rosto com expressão de surpresa. Ariane tira batatas fritas de seu cabelo e puxa meu braço. Pego minha mochila que havia caído e saímos correndo em direção a escada rolante. Adriana pega um frasco e joga no chão.
- Vocês não viram nada! – Ela disse, para as pessoas que começaram a inalar a fumaça que saía do líquido que havia no frasco.
- O que é isso? – Bianca pergunta.
- É para não sermos presos. Ninguém vai lembrar do que viu ali!
Corremos escada a baixo, saímos pela porta da frente do shopping e fomos correndo o mais rápido possível nas ruas da Capital.
- Não me diga que nós estamos na... – Bianca pergunta para Adriana enquanto corre.
- Bem-vindos a Capital! – Disse ela.
Aos poucos, adentramos em meio aqueles enormes prédios cinzentos, estávamos indo para um lugar mais seguro, a casa de Anderson e Adriana.

A inquisição de B.A.H.V.Onde histórias criam vida. Descubra agora