Desabando

82 15 0
                                    

Ariane

Era pôr do sol e eu estava indo para casa, tinha passado o dia com Victor Hugo, sabendo de alguma forma que discutiria com meus pais por causa dele, de alguma forma ele me dava conforto ao lembrar que Bianca estava sozinha com aquela mulher no colégio. Meus pais nunca aceitariam o fato de sua filha ser apaixonada por um garoto como ele. Estava nervosa, fora do comum, algo não estava certo. Estava próxima a minha casa, quando olho meu celular, havia inúmeras mensagens do Hanyel. Abri e comecei a ler cada uma.
“Ari, onde você está? ”
“Me ajuda Ari. ”
“Ela está morta, eles a mataram... A N.O.M. a matou”
“Cheguei em casa e encontrei minha mãe morta no chão”
“Ela se foi”
“Onde você está? ”
“Bianca encontrou todos mortos”
“Me responda por favor”
Não, aquilo não estava realmente acontecendo, não podia estar, Hanyel não estaria me pregando uma peça. Minhas mãos começaram a tremer e um nó se formou em minha garganta. Eu não sabia o porquê de tudo isso, de todas as coisas que eu ouvi neste dia até uns momentos antes, não se comparavam a isso, era trágico o bastante para me fazer chorar. Senti meus joelhos vacilarem. Deixei meu celular cair na calçada, aquilo tudo não passava de um maldito pesadelo. Tentava me convencer, precisava ir para casa urgentemente, peguei meu celular e sai correndo o mais rápido o possível, as pessoas que por mim passavam me olhavam com curiosidade, ” porque uma garota correria desse jeito? ” Uns até zombavam “brigou com o namorado aposto, coitada. Também, ninguém quer uma garota que se veste assim”. Ignorei esses comentários, minha família estava em risco, precisava chegar em casa.
Sentia-se pesada pela culpa. Um riso alto de mulher ecoou na rua, uma risada seca, horrível, maquiavélica, cheia de veneno. Olhei para trás, mas não havia mais ninguém atrás de mim, continuei correndo. Ao chegar em casa me deparo com o portão escancarado. O carro estava destruído, as janelas da casa estavam quebradas, a porta estava arrombada, senti que poderia desmaiar a qualquer momento com o que visse lá dentro, não sentia mais meu corpo, estava paralisada. A N.O.M. tinha revirado e destruído a casa. Fui até a cozinha, não tinha ninguém lá, nada além de vidro quebrado. Entrei no quarto dos meus pais, também nada, fui em todos os quartos e não encontrei nada além de móveis caídos e quebrados. Verifiquei o banheiro e não tinha nada, caí de joelhos. Sem forças para continuar. Onde estavam eles, me perguntei, lágrimas desciam pelo meu rosto.
Ouvi passos na sala. Alguém estava ali, olhei para o lado e vi uma arma, peguei-a, tinha o emblema da N.O.M, isso indicava que eles realmente estiveram ali, me coloquei em pé rapidamente, dei passos lentamente, minhas mãos tremiam, suava frio, lagrimas escorriam descontroladamente.
- Ariane, onde você está? – Ouvi a voz de Victor Hugo, seu tom estava cheio de tristeza e preocupação.
Saí correndo em direção a ele e o abracei.
- Eles destruíram tudo. Levaram minha família.
- Calma. – Victor pegou meu rosto entre as mãos, ergueu meu queixo para que eu pudesse olhar em seus olhos. – Minha casa também foi arrombada por eles. Precisa de acalmar, temos que sair daqui.
- Não. Não posso deixar tudo para trás assim.
- Ari, vamos acha-los. Hanyel e Bianca estão nos esperando. Vá pegar algumas coisas. Precisamos fugir. – Victor encostou sua cabeça na minha, seus olhos estavam escuros, o azul dos seus olhos tinha escurecido, quase preto. Seu olhar estava cheio de dor, seu cabelo estava desarrumado, sua franja cobria um dos seus olhos. Seu capuz estava cheio de poeira, sua jaqueta preta, estava rasgada na manga, havia sangue em sua camisa branca. Ele notou meu olhar avaliando.
- Eu perdi o controle quando vi minha casa destruída. As fotos de minha mãe estavam queimadas. As únicas lembranças que tinha dela. – Disse cabisbaixo – Não suportei a dor e me cortei com os cacos de vidro que estavam no chão. E a poeira é do porão, tive que sair por lá, olhei pela janela e eles tinham voltado, não entendo o porquê, mas voltaram. Acredito que eles queriam me pegar de surpresa, acho que fizeram o mesmo com Hanyel e Bianca. Eles voltarão aqui Ari, precisamos sair daqui o mais rápido. Uma lágrima brotou no canto de seus olhos,
- Eles acabarão com tudo.
A gravidade da situação tornou-se real para mim naquele momento, não havia nada a ser feito. Meu peito se apertava, a dor com o pânico era agonizante. Novamente aquela risada, ela estava me deixando louca. Victor olha para mim.
- Ari, você está pálida.
- Pre... Preciso de ar. – Comecei a me dirigir a porta, mas caí de joelhos, estava me sentindo asfixiada. Minha cabeça girava e aquela risada não parava, comecei a alucinar, parecia que estava em um labirinto.
Victor Hugo estava ao meu lado.
- Ari, fala comigo. O que... acontecendo? Por favor fa... – Não conseguia entender o que ele falava, as palavras se tornaram confusas. Senti ele me tocar no ombro, estava quase ficando inconsciente quando comecei a me sentir melhor. Estava deitada no colo de Victor, ele acariciava meus cabelos, seu toque era reconfortante.
- Victor, temos que sair daqui. – Falei lembrando de que não estávamos seguros ali.
- Sim, temos. Mas você não está nada bem. - Diz.
- Estou... me sentindo melhor. - Uma parte sim, a outra não.
- Está bem, vamos pegar suas coisas e sair daqui.
Ele me ajudou a ficar em pé, minha cabeça já não girava mais. Fui até meu quarto, peguei algumas coisas e coloquei em uma mochila, notei que havia um embrulho marrom em cima da cama, abri e dentro tinha uma varinha de madeira com ponta de cristal. Era magnífica, fiquei a observando por um momento. Me dei conta de que o tempo estava passando e precisávamos sair dali. Voltei para a sala, Victor Hugo estava andando de um lado para outro, tinha colocado sua mochila nas costas e estava muito aflito.
- Podemos ir. – Falei.
Ele me olhou e deu um passo em minha direção, segurou minha mão e com a outra guiou meu queixo mais perto dele, fechei meus olhos, nossos lábios se uniram no mais doce dos beijos, pude sentir ele sorrindo.
- Te amo. - Falou.
Sorri novamente para ele, apesar de ama-lo. Não conseguia dizer que também o amava, as palavras ficavam presas dentro de mim, mas de qualquer forma ele sabia.
- Vamos, aposto que os dois estão preocupados conosco. – Falei.
- Vamos. – Ele pegou minha mão e saímos de casa. Isso doía demais, o meu passado, tudo o que eu tinha vivido ali, já não passava de memórias. Assim que saímos na rua, olhei em direção a casa, Victor Hugo apertou minha mão com carinho.
- Te prometo que tudo se resolverá.
- Não acredito nessa possibilidade. – Continuamos a caminhar, até encontrar Bianca e Hanyel,
Bianca estava sentada ao lado de Hanyel no meio fio, a mão dele pousava no ombro dela, estava cabisbaixa, as expressões de ambos era de eterna solidão.
- Sinto muito gente. – Falei ao me aproximar deles, foi a única coisa que saiu naquele momento.
Hanyel levantou-se e veio me abraçar. Seus olhos estavam inchados, imaginei aquele garoto de uns dias atrás, bonito, alto, olhos claros, loiro, com seu cabelo espetacular, sentado na sala de aula fazendo brincadeiras com tudo. Fazendo com que me sentisse feliz com cada risada. Ele foi a única pessoa, que fez me sentir melhor depois de grandes desilusões, sofrimento e etc. Sempre esteve do meu lado, nunca me abandonou como os outros nas horas difíceis, sempre ali para me dar colo. Mas agora estava destruído, seu cabelo estava caído nos olhos, desarrumado com a roupa amassada.
- Que bom que você está bem, fiquei preocupado, você não respondeu minhas mensagens, Bianca ligou para o Victor para ir atrás de você. Estou feliz em te ver.
- Igualmente. – Abracei-o.
- Bando de ignorantes. – Ouvi Bianca sussurrar. – Vou queimar todos eles. – Bianca estava com os olhos vermelhos, sua camiseta do Bob Esponja estava toda suja de sangue.
- Sim, faremos isso. – Hanyel concordou. – Mas no momento certo. Vão pagar por tudo.
- Eles vão se arrepender. – Falei.
Bianca se levanta e aponta o dedo para Victor, que até o momento não havia dito sequer uma palavra.
- E você Victor... foi atacado?
- Não exatamente, eles destruíram minha casa e eu me descontrolei um pouco, digamos assim e acabei me cortando. Sem falar que eles voltaram lá e tive que sair pelo porão para não ser pego.
- Entendi. – Disse Bianca.
Hanyel estreitou os olhos e encarou Victor Hugo profundamente e sussurrou algo que não pude decifrar.
- Falando nisso, como estavam as coisas lá Ariane? – Bianca pergunta.
- Bem, tudo destruído e minha família... sumiu. Não estavam lá.
- Eles os levaram. – Hanyel concluiu.
Concordei. Victor passou seu braço por meu pescoço.
- Hanyel, tenho que falar com você depois, é importante.
Como se ele já soubesse do que se tratava falou.
- Sim.
- Hanyel, em cima da minha cama tinha um pacote marrom com uma varinha de madeira de carvalho com ponta de cristal, na de vocês havia algo?
- Aham, na minha estava uma varinha de ponta de esmeralda.
- E na sua Bianca? – Perguntei.
- Na minha havia uma varinha com ponta de rubi.
- Interessante! – Exclamei.
- Gente, temos que ir, com certeza eles mandaram exércitos de agentes para patrulhar as ruas atrás de nós. – Victor Hugo fala nervoso.
- Ele tem razão pessoal. – Bianca pega sua mochila do chão, Hanyel faz o mesmo.
- Então vamos rápido. – Hanyel suspira pesado.
- Não tem outra escolha mesmo. – Sussurro olhando para baixo.
- Para onde iremos agora? – Bianca fala com a voz melancólica.
- Não exatamente ainda, mas para um lugar distante, estão comigo? – Hanyel pergunta.
- Estamos!!! – Falamos em uníssono.

A inquisição de B.A.H.V.Onde histórias criam vida. Descubra agora