Recado

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Adriana

Passamos o dia na chuva em tributo as almas se foram e deixaram um recado para todos nós, bruxos. Mesmo diante da morte eles gritaram aos ventos que nunca renunciariam a magia. Meu coração doeu quando ouvi aquelas palavras.
Já era noite, estávamos no barracão. A chuva caia pesada, os ventos fortes rugiam no céu, raios partiam o ar a todo momento. Estava deitada no chão, olhava minha mãe conversando com Elisabeth, duas videntes se davam bem juntas. Fecho os olhos para tentar dormir um pouco, estava molhada e tremendo de frio. Ao meu lado ouvi uma canção, voz grave, mas ao mesmo tempo doce e melódica, era Hanyel que cantava ao fazer duas pedrinhas em sua mão dançarem entre seus dedos.
- Nunca o ouvi cantar! – Falei.
- Canto para mim esquecer das coisas da vida. – Ele responde.
- A música nos conforta...
- Nos dá colo quando estamos desamparados, músicas são poemas dos deuses que repousam na terra para alegrar os homens. Por isso canto, desafinado, mas canto, apenas para me alegrar, pois meu futuro, a luz pertence!
- Como podes pensar tanto em sua morte?
- Esta é a nossa única certeza da vida Adriana. – Ele diz abaixando a cabeça.
- Deveria pensar mais em sua vida, cada momento, cada segundo da sua vida é importante e contradizendo o que você disse... a morte não é a única certeza da vida não... a vida é cheia de certezas, uma que você sempre nasce com um propósito, outra é que você pode fazer alguém feliz e consequentemente mudar o mundo desta pessoa. Por fim, ao longo da vida você descobre a sua missão...
- Creio que descobri a minha... quer dizer... a nossa, vidas diferentes estão destinadas a um propósito em igual. Não devemos deixar esta nossa missão para última hora, devemos agir logo. Você deve saber do que eu estou falando.
- Nós devemos dar um basta nisto. O fim deles está próximo, jovem bruxo.
- Que assim seja... bom, vou tentar dormir. Eles estão a dizer coisas que não entendo...
- Eles quem?
- Os mortos...
- Você nunca me disse que podia ouvir...
- Às vezes acho que sou louco, vejo, ouço e faço mais do que pretendo, é inevitável... a única coisa que eu sei, é que você deve olhar para cá!
- Mas eu estou olhando para você Hanyel.
- Olhe para cá Dri...
- Mas...
- OLHE PARA CÁ!
Caio em meio ao escuro.
- Olhe para cá Dri! 
- Anderson? Como?
- Por que está demorando para começar a sua missão Dri? Algo em sua mente está a impedindo...
- Eu não sei, eu... insegurança talvez...
- Você? Insegura? Não... algo não está certo aí, conte a mim!
- Tudo bem... eu... eu estou com medo de perder mais pessoas Anderson, não quero ficar sozinha, sua morte fez um rombo enorme em minha vida, as vezes acho que não sou a mesma Adriana de antes.
- Você continua a mesma pessoa, não esqueça disso. Você sabe que a vida é feita de riscos, riscos que devem ser tomados.
- Todos irão morrer se não fizermos nada.
- Mesmo que o plano de vocês de errado, pelo menos vocês tentaram...
- Você devia me dar mais instruções do que fazer!
- Às vezes tento, mas sou impedido, você não se pergunta o porquê de que Abigail não aparecer em seus sonhos mais?
- Penso isso quase todo dia, sabe devido a que ela não me procura?
- O plano astral está sendo rompido, ela está presa em constelações distantes. A bruxa negra sabe que os mortos estão ajudando vocês e ela quer impedir isto, infelizmente ela é capaz de destruir o plano astral.
- Mas e o alto conselho das bruxas? Onde estão as bruxas do cosmos?
- Não consigo encontrar nenhuma Vledjamir, elas não se permitem serem encontradas, estamos à beira de uma catástrofe se elas não tomarem iniciativa.
- Anderson... continue a procurar, nós vamos fazer o possível aqui, mas não prometo que será o suficiente.
- Dri... eu... vocês... posso...
- Anderson? O que está havendo?
- Ela... destruir...
- Anderson? Me fala!!! O que está acontecendo? – Anderson estava evaporando, sua voz estava sendo interrompida, eu já não sentia mais sua presença.
- Dri... acorde! Acorde... acorde... ACORDE!
- Acorde Dri... – Alguém fala pegando em meu ombro.
Dou um pulo ao me assustar. Acordo ofegante.
- Pesadelo? – Minha mãe que estava a me acordar, perguntou.
- Quase isto mãe.
Olhei para as portas, elas estavam fechadas.
- Não abriram as portas ainda?
- Algo está estranho Dri, alguma coisa vai acontecer. – Minha mãe falou ao olhar para as paredes e para o teto.
Em instantes, ouvimos um som estranho vindo das tubulações do barracão.
- O que é isso? – Perguntou Ariane olhando para todos os cantos.
- GÁS!!! – Hanyel grita apontando para uma nuvem de gás esverdeado que saía dos canos.
Todos os bruxos e bruxas do barracão ficaram afobados, tapavam boca e nariz para não inalar o gás, mas era impossível. Logo começou a fazer efeito. Primeiro a vista ficou embaçada, comecei a tossir e não conseguia mais respirar, minha garganta se fechou, não podia nem falar. Rapidamente via pessoas caindo ao chão. O gás me deixou tonta, tudo rodou, caio ao chão... meus olhos vão se fechando, tudo se apaga.

                                     ...

- Acorda vadia! – Sinto uma descarga elétrica passar por meu corpo e ouço um homem gritar para mim.
Acordo, estou deitada sobre uma mesa, totalmente presa, com correntes. Estava em uma sala com azulejos cobrindo todas as paredes, paredes com marcas de lama, sangue e ferrugem.
- O que vão fazer comigo seus desgraçados?
- Vamos te preparar para o show meu bem! Hahaha! Mais choque nela!!! 
Um outro homem puxa uma alavanca na parede, faíscas explodem pelas correntes e pela mesa de ferro, sou eletrocutada mais uma vez, mas com uma carga maior agora.
Vejo tudo rodar... um homem aplica em meu braço algo que ardeu em minhas veias, sinto como se tudo estivesse chiando, minha visão começou a ficar turva.
- Ótimo, pegue o decorador ali da mesa, vamos arrancar o couro desta vadia!
Meus ouvidos só podiam estar me pregando uma peça, eles iriam me torturar ali e naquele momento. Sinto que pegam em meu braço, tento escapar, mas não consigo mover meu corpo, o homem coloca aquele aparelho de ferro em meu braço e começa a pressionar uma pequena alavanca. A pele do meu braço se rasga, grito de dor, ele continua a pressionar, vejo as tiras de couro que aquilo retirava de mim, lágrimas escorriam dos meus olhos, eu gritava de dor olhando meu braço que ficara lavado de sangue.

A inquisição de B.A.H.V.Onde histórias criam vida. Descubra agora