Sombras

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Bianca

A fogueira aconchegante esquentava meu corpo enquanto assava os peixes em espetos improvisados de galhos. A madeira estralava nas chamas ardentes do fogo, grilos cantavam entre as folhas das árvores todas cobertas por neve.
Meu pai como um bom construtor, tentou fazer uma cabana com troncos e galhos. Não era a melhor, mas nos protegeria da neve que iria nos cobrir durante a noite.
- Ouça Bianca... – Minha vó diz.
- O que? – Falo.
- Ouça o som da matilha de lobos que sobe a montanha...
Começo a ouvir o uivo de lobos distantes de nós. Parecia uma orquestra sinfônica natural, quando misturado com o som dos grilos e do barulho do vento sobre as árvores. Logo ouço um som diferente, parecia o som magnético que pairava no ar criando uma melodia melancólica e assustadora ao mesmo tempo.
- Esse peixe está com um cheiro bom... será que já dá para comer? – Pergunto.
- Deve estar, vou tirar um para ver se ainda não continua cru. – Adriana disse.
Ela retira um peixe o abre com as mãos e fecha os olhos sentindo o aroma de sua carne. Nos olha sorrindo. Retira os outros peixes restantes e distribui para cada um de nós. Começo a comê-lo, meus olhos se fixam no núcleo da fogueira, o fogo parecia me dizer algo.

Vocês estão ouvindo este som? – Pergunto.
- Que som filha? 
- Este som magnético que corta o ar junto com o vento, as vezes até parece com gritos, sei lá.
Todos param por um instante para ouvir.
- Não ouvimos nada! – Diz Adriana.
- Talvez tenha sido a bordoada que você deu naquela pedra Bianca! – Meu pai diz rindo.
- Não... não é, há algo diferente no ar, posso sentir.
Resolvo esquecer o assunto e volto a comer o peixe, estava começando a esfriar. Poucos flocos de neve caíam, o vento do nada suavizou e quase que parou completamente, apenas algumas folhas das árvores se mexiam. Olho para o rio, a luz da fogueira chegava até sua borda.
Vejo uma sombra passar logo atrás de mim.
- Pai! Tem algo aqui! – Levanto-me rapidamente assustada, deixando cair ao chão o peixe.
- O que você viu? – Meu pai perguntou.
- Uma sombra, não sei, parecia um homem! – Digo com a voz trêmula.
- Calma, vou ir ver. Fique aqui com sua tia e sua vó. – Falou ele pegando seu cetro e indo para a floresta.
- Não pai! – Falei. – Fique aqui.
- Sei me cuidar Bianca, já volto.
Seja o que for que correu atrás de mim, certamente estaria nos observando ainda em meio a mata e o escuro. Meu pai adentra entre as árvores, aquele som estranho no ar parecia aumentar, eram como gritos de pessoas pedindo ajuda.
- Vou ir com meu pai! – Falei.
- Fique aqui Bianca! – Adriana falou. – Não mova um músculo.
Sento-me novamente ao chão.
- Seu pai é um homem feito. – Diz minha vó. – Não tem do que se preocupar.
- Anderson pode ser brincalhão, mas ele é um homem adulto e sabe o que está fazendo. – Disse Adriana jogando um espinho do peixe no chão. – Não demore muito tempo Anderson! – Gritou ela.
- Tudo bem Dri! – Meu pai responde.
- Estou achando é que ele foi fazer o número dois, isso sim! – Minha vó disse rindo, quase se engasgando com um pedaço de carne.
Todas rimos. 
Passaram-se mais ou menos uns vinte minutos e meu pai não tinha retornado. Estava com medo e apreensiva, deveria ter ido com ele. A todo momento percebia a presença de sombras ao meu redor, mas não eram sombras comuns, elas sussurravam coisas a mim. Tenho um calafrio e torço o pescoço para o lado.
- Está se sentindo bem Bianca? – Minha vó pergunta.
- Eles estão sussurrando... – Digo.
- Eles quem? – Retorna a perguntar minha vó.
Viro-me para trás e aponto para a floresta. Naquele tempo congelante, eu estava suando frio, minhas mãos molhadas eram enxugadas em minha perna que não parava de pular, estava ansiosa.
Eu... eu não ouço Bianca! – Disse Adriana. – O que está ouvindo?
- Pedidos... pedidos de socorro! Por favor, parem... eu não aguento mais ouvir... parem! – Eu disse pondo as mãos na cabeça.
- Mãe, fique aqui, preciso saber o que é isso... estou ouvindo também! 
- Não Adriana, não vá! – Falei.
Foi nisso que minha vó paralisou, pôs a mão no coração e com um suspiro forte e afobado.
- Mãe, o que houve?
- Anderson!!! – Ela gritou.

A inquisição de B.A.H.V.Onde histórias criam vida. Descubra agora