Sonhos

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Ariane

Victor começou a me visitar em meus sonhos. Em alguns, seu rosto parecia vagamente em meio a uma multidão e desaparecia, mas nesse sonho recente, eu estava com meus amigos fugindo dos agentes da Nova Ordem Mundial, Victor ficara para trás.
Os agentes atiravam em todas as direções, bombas eram jogadas contra nós. Mas de repente me vejo só, correndo em direção a Victor que está caído no chão.
- Ari me perdoe. – Me ajoelho ao seu lado. Sangue jorrava de dentro dele. – Não...quis te magoar. – Lágrimas caiam. – Por favor.... Por favor me perdoe!
- Está tudo bem Victor. – Falei. – Não é culpa sua, ser filho de quem é. – Eu disse. – O que passou, passou. – Sua pele estava gelada.
- Sim. – Olhava fixamente para a escuridão. Evitando olhar para mim. – Ari, não aguento mais tudo isso. Não posso mais continuar nessa vida.
- Por favor, Victor! Você está fe... – Meus olhos lacrimejaram.
- Ari sei o que estou dizendo. Quero que me ajude a se livras dessa dor. Sabia exatamente onde ele queria chegar.
- Não posso. É um pedido... não pode me deixar aqui com essa dor, não me peça para mata-lo. – E a única escapatória para esquecer o que me atormenta a anos. O abandono de um pai, a mãe assassinada em sua frente quando ainda era criança, rejeição... Só uma coisa poderia fazer tudo isso desaparecer.
- Você tem que fazer isso, será mais rápido, não sofrerei mais. – Falava suavemente. – Não posso mais continuar. Eu sei que é uma coisa terrível de lhe pedir. Não queria ter que pedir desse jeito, mas não dá para voltar atrás.
Ele esticou o braço e arrastou a mão até pegar uma adaga que estava caída ao seu lado. Era a única coisa a disposição, era uma arma violenta e ele queria que usasse nele. Queria morrer.
- Não posso fazer isso comigo, Victor. Eu te amo. – Mas ele me deu um motivo incontestável. Notei que estava chorando, minha face estava molhada. Ele ergueu sua mão e tocou minhas lágrimas.
Perdoe-me! Por ter chegado a esse ponto. Por ter te machucado com minhas mentiras.
Senti que uma barreira fria se formava entre nós dois.
- Eu te amo, sempre te amarei. – Falou. 
Não conseguia dizer mais nada.
Mas agora precisa acabar com isso. Vá em frente e me mate.
Ergui a adaga em direção a seu coração, lágrimas corriam pelo meu rosto.
- Não consigo. – Falei.
- Consegue sim.
Então não consegui olha-lo, me empurrei contra ele, sabendo que a adaga se encarregaria do resto. A ponta se afundou em sua carne, um círculo perfeito.
Entrou profundamente e o sangue de Victor Hugo escorreu por meus dedos. Arfou silenciosamente. Ele estava engasgando e cuspindo sangue, mas sua expressão não era de tristeza. Ele estava sorrindo. Risadas ecoavam na escuridão, o corpo de Victor havia sumido, no lugar havia uma mulher ensanguentada, seu rosto estava podre, suas mãos eram garras afiadas. Havia só alguns fios de cabelo em sua cabeça. Ela me atacou, primeiramente tentava me enforcar, depois começou a enfiar suas garras na minha pele, arrancando pedaços de carne, uma poça de sangue se formava em meus pés. Sua risada aumentava, o som era horrível. Logo vejo Hanyel e Bianca sendo queimados vivos, suplicando pela vida.
Tapei os ouvidos e fechei os olhos, não suportava mais ver aquilo. Acordei sufocando um grito para não assustar Bianca e Hanyel.
- Ariane? Você está bem? – Hanyel me segurando no colo pergunta.
- Acho que estou... – Respondi.
- Você desmaiou enquanto nós estávamos correndo. – Bianca disse. – Conseguimos chegar até aqui próximos a cidade de Commanvall.
- Por sorte tem este posto de gasolina que foi abandonado a poucos dias pelo que vejo. Achei água e uns salgadinhos. – Hanyel fala.
- Você desmaiou umas três vezes até chegarmos aqui... tem certeza de que está bem? – Bianca insiste em saber meu estado.
- Juro, estou bem, apenas tive alguns sonhos que me deixaram meio assustada, mas estou bem.
- Coma! Temos que achar um lugar melhor para nós nos escondermos, o pai de Victor já deve ter mandado centenas de tropas atrás de nós. E quando eles aparecerem, você Bianca e você Ariane, vão usar a maior quantidade de poder possível, não queremos ser mortos por aquele homem, pelo menos hoje não.
Naquele momento não me passava nada na cabeça além daquele sonho horrível, seria um sinal de que Victor precisava de mim ou era apenas um pesadelo? 
Terminei de comer os salgadinhos que haviam me dado. Bianca olhava para a palma de suas mãos sem parar, as esfregavam em sua perna e em seu corpo. O vento gelado e cortante vindo do Sul, dominava todo o ambiente. O inverno estava chegando e pelo que tinha acontecido conosco até agora, pude sentir que iríamos pintar a neve com o tom vermelho de sangue.

                                     ...

Adriana


- Anderson! Rápido! Você não quer que sua filha morra na mão daqueles miseráveis, não é?
- Claro que não Dri, agora me ajuda a achar meu cetro!
- Realmente viu... não sei porque você ainda não perdeu sua cabeça ainda.
- Você sabe que eu abandonei a magia, não é? Então! Não iria mais precisar do meu cetro para nada mais. – Disse Anderson vasculhando o sótão enquanto bebia uma latinha de cerveja. – Achei!
- Rápido! Já peguei algumas poções, creio que serão úteis. Ande logo, tire a moto da garagem!
Meu corpo tremia de nervosismo, minha sobrinha e seus amigos corriam risco de morte, mesmo eu tendo enviado itens mágicos para os três, aquilo não seria suficiente para defenderem suas vidas.
- Cadê a moto!! – Dou um grito.
- Calma! Já está aqui!
Subo na moto rapidamente, coloco o capacete e seguro na cintura de Anderson, que sai em disparada na rua, minhas mãos tremiam de vontade de uma boa luta, a anos eu não sabia o que era matar opressores, meu único medo, era de estar um pouco enferrujada. Mas em matéria de magia, ah! Eu sempre treino, nunca se sabe quando vai precisar explodir algo ou invocar a luz para sua proteção.
Desviávamos dos carros como um foguete, a adrenalina tomava conta do meu corpo, solto um sorriso espontâneo, minha vida voltaria a ter mais ação e não somente atender clientes no shopping. Estava com saudades de minha sobrinha Bianca, tão doce, tão fria, tão querida. Me mataria se não fosse capaz de salvar a vida dela em qualquer circunstância.
- Acelera!!! – Eu solto mais um grito, olho para o guidão da moto e faço ela acelerar profundamente apenas olhando para ele.
Na rodovia, em extrema velocidade, me atrevo a tentar buscar contato com Bianca. Obtenho sucesso.
- Bianca, onde vocês estão? – Pergunto em pensamento.
- Adriana, estamos na cidade de Commanvall, em um posto de gasolina abandonado, na rodovia 51, não sabemos quanto tempo temos enquanto os guardas não aparecem.
- Estamos indo aí salvar vocês, não se preocupem. – A nossa conexão mental cai. 
- Descobriu onde estão? – Pergunta Anderson.
- Em Commanvall, esses malandrinhos não estão muito longe.
Meu medo era de não chegar a tempo. Mas estava fazendo o possível para dar certo. 
- Me esperem meus amigos, eu estou chegando! – Falo em tom baixo comigo mesma.

A inquisição de B.A.H.V.Onde histórias criam vida. Descubra agora