Memories

8.6K 137 10
                                    

-Tu tens é medo, Tris!- desafio a minha melhor amiga na brincadeira pois quero muito surfar mais umas ondas com ela.

-Olha lá, achas que eu, uma rapariga de quinze anos tem medo de ti pá?- ela indaga pelo meio de gargalhadas.

-Não te esqueças que eu tenho a mesma idade que tu, Benson!- respondo sentindo as pingas de água que outrora estavam no meu cabelo a escorregar para os meus ombros.

-Só desta vez, Li. Apanhamos mais algumas ondas e saímos imediatamente!- exclama a Tris, começando logo a correr para o mar.

O mar, a praia, sempre fizeram parte de mim. Desde pequenina que sei surfar, o meu pai ensinou-me antes de ter aquele acidente super chato de carro. Mesmo que não soubesse, o sangue da família Holt corre-me nas veias. Eu fui destinada para ser uma campeã no surf. Viver no Havai também é um grande privilégio, temos altas praias para surfar, é brutal!

Entro na água e logo me deito de barriga para baixo na minha prancha branca e esmeralda. Começo a nadar até encontrar a onda perfeita, que não tarda a aparecer. Faço vários truques mas nem dou conta: quando entro no mar, perco todos os sentidos e tanto as minhas pernas como os meus braços parecem ganhar vida própria e tudo o que eu tenho de fazer é deixar-me levar. O mesmo já não se pode dizer da minha melhor amiga, Tris Benson.

Sejamos sinceros, ela quase não sabe surfar, o lugar dela não é na praia, só pratica este desporto porque eu quase a obriguei. Ela gosta é realmente de hóquei no gelo. É a capitã de uma equipa feminina que raramente perde. Eu já as vi treinar. Todas elas têm cara de que levam aquilo bastante a sério e não têm medo de nada. Eu realmente admiro-as por isso.

-Li, temos de ir! A equipa já deve estar à minha espera, não posso chegar atrasada!-Tris exclama um pouco irritada. Os seus cabelos lisos e castanhos escuros estão completamente molhados e a sua pele morena tem gotas de água por todos os lados.

Contrariada, saio da água com a prancha por baixo do meu braço direito. Mal me deito na toalha, ponho os phones e fico a ouvir música. Não penso em nada, apenas na música que ecoa dentro dos meus ouvidos.

Música também faz parte da minha vida. Eu não sei tocar instrumento algum, ou cantar, ou compor letras. Apenas aprecio-a a partir dos meus phones. Gosto de a ouvir apenas. 

O meu namorado sim, ele realmente vive da música. Eu podia ficar a falar aqui o dia todo do meu namorado que não iria conseguir dizer-vos tudo. Ele é um às em futebol e música. Ele vive para isso. Participa agora num programa bastante interessante de música, e eu acho que ele se está a sair bastante bem.

-Lindsay Holt? És tu? -pergunta uma voz grossa, interrompendo o meu tempo de música e banhos de sol. A voz só podia pertencer a um homem. Continuo de olhos fechados após responder com um "sim".

-Importas-te de nos acompanhar?-pergunta outra voz, pertencente também a um homem, porém, esta última referida é um pouco mais aguda.

É aí que eu me levanto oficialmente. Ao meu lado estão dois homens completamente diferentes. O mais alto usa uma t-shirt azul e umas calças bege e tem uma tatuagem no braço direito. Os seus cabelos são escuros, do mesmo tom dos da Tris, e os seus olhos são verdes. O outro homem é um pouco mais pequeno e traja uma camisa às riscas e uma gravata. Tem cabelos loiros e olhos azuis. Ambos parecem ser tipos daqueles bem brutos, mas não dão indícios de os serem.

-Ok, veste-te e segue-nos- ordena o loiro, dirigindo-se a um carro prateado que está estacionado ali perto.

A curiosidade invade o meu corpo, e, por essa razão, visto-me o mais depressa que posso. O meu cabelo continua molhado mas que se lixe. Eu preciso de saber o que se passa.

-Vemos-nos à tarde?- grita Tris por já estar bem longe de mim. Eu viro-me para a olhar nos olhos e logo abano a cabeça afirmativamente.

Os dois homens mandam-me entrar no carro prateado e eu começo a ficar assustada. Eles podem ser assaltantes bem disfarçados e podem querer me raptar e assassinar! Logo que penso nisso, reparo que o homem mais alto, o que vai a conduzir, tem uma pistola amarrada ao cinto.

Contenho-me para não soltar um gritinho, mas como o medo é mais forte que eu solto um suspiro, o que não parece ser ouvido por os outros dois passageiros do autocarro. Quando reparo, eles estão a discutir.

-Era suposto andarmos atrás do suspeito, Steve. Roy Parker. ROY PARKER. Soa-te a nome de rapariga? É porque a mim não me soa! Para que foste buscá-la, hã?- resmunga o homem mais pequeno. Surpreendo-me quando ele diz que tinha de ir atrás de um tal suspeito, e começo a pensar se cometi algum crime. Teria cometido? Não me lembrava de ter feito algo merecedor de ser escoltada pela polícia.

-Quanta mais informação tivermos do rapaz, mais provas teremos contra o assassino.- retorquiu o tal Steve, fazendo uma brusca viragem para a esquerda. Depois disso, ele murmura algo ao seu companheiro que eu não consigo ouvir, e então volto-me a debater no que estou a fazer aqui.

Por fim, Steve pára de conduzir. Nós os três saímos do carro praticamente ao mesmo tempo e à minha frente vejo um edifício que nunca vi antes. É alto e castanho, bastante largo e no seu centro lá no cimo tem um relógio a marcar as horas. A decorar o lugar, a seis metros aproximadamente da porta, encontra-se uma estátua preta e dourada de um homem com uma coisa qualquer na cabeça. Que foi? Não lhe prestei atenção!

Começo a andar lado-a-lado com os meus "amigos". Eles não falam muito para mim, nem me explicam porque raio de razão estou eu ali, o que me enfurece. O que me enfurece muito.

Pouco depois de já estarmos dentro do edifício, o homem loiro abre uma porta de vidro e manda-me entrar. A partir daí, começo a seguir o Steve e o loiro um pouco mais atrás deles. Eu vou olhando para tudo o que me rodeia. São pessoas, pessoas e mais pessoas a trabalhar em máquinas esquisitas, ou então estão em secretárias com papelada em cima das mesas, ou então apenas passam pelos corredores.

Já no fim do corredor, com uma porta já aberta que, supostamente, é para eu atravessar, está Steve e o loiro. Continuam a sua discussão, aos sussurros. Pelo que consigo entender, eles dizem: "Ela vai vê-lo e não sei se já reparaste que ela é apenas uma adolescente!". Presumo que estejam a falar de mim e então mais baralhada fico.

Chego à beira de ambos já cansada de estar ali, eu preciso tanto de surfar mais. O campeonato aproxima-se e eu quero desfrutar muito mas muito dele.

-Podes entrar- diz o loiro abrindo passagem.

Já tenho um pé dentro do cubículo para onde me mandam ir quando vejo do que eles falavam. A razão porque estou aqui. Eu não vim para este sítio aleatoriamente. Isto não é um sítio qualquer.

-Eu disse-te que ela o ia ver!- grita agora o loiro para o Steve e eu começo a correr para o local onde ele está. Sinto lágrimas a formarem-se nos meus olhos mas percebo que paro de correr quando Steve me fala.

-Não podes ir lá.- ele diz e eu entendo que foi ele que me parou, que não me deixa ir lá.

-Que é que vocês lhe fizeram,seus idiotas!- grito com todas as minhas forças até a garganta me doer.

-Deixa-a ir Steve.- alguém fala com uma voz suave e calma. Viro-me por momentos e vejo que é uma mulher de pele morena e olhos castanhos. Usa uma camisola cor-de-rosa que combina perfeitamente com o tom do seu cabelo castanho e umas calças da mesma cor que as do Steve. Agradeço-lhe mentalmente, e corro para dentro da salinha onde ele está, lavada em lágrimas.

Memories |Ross LynchOnde histórias criam vida. Descubra agora