último olhar

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madrugada passada arrumei as bagagens em silêncio, dobrei cada peça de roupa cuidadosamente enquanto pensava no que poderíamos ter sido, pensei nos planos vindouros, nos nomes que escolhemos para os nossos filhos, com todos aqueles animais e quintal gigante para lazer.
ah! como queria te levar comigo... como queria que nessa mala tivesse roupas suas e juntos poderíamos sair pelo mundo afora em busca de novos rumos.
mas dessa vez você iria ficar, não porque desejava aquilo, muito pelo contrário, tu que fez essa escolha tão cruel. não pensou nos nossos planos quando enfiou uma espada nos meus sentimentos, perfurando cada momento mágico, em cada "eu te amo" dito, em cada abraço apertado, nem muito menos em mim.
levantei-me com o coração triste, olhei em volta e despedi-me saudosamente, revi as fotos dos albúns, passei o dedos sobre aquela manchinha de café que caiu sobre o sofá enquanto brincavamos de ser criança, lembra? aquele dia foi incrivél. andei por cada cômodo e revivi cada momento feliz, relembrei os tristes, como naquele dia em que você chorava no banheiro porque seu amigo havia falecido, te abraçei e foi aconchegante, gravei cada detalhe das nossas xícaras de café e por fim te olhei sobre a cama, passeei com meus dedos sobre suas costas suavemente pra não te acordar, encostei nos seus cabelos e pude sentir meu corpo estremecendo, te olhei fixamente como nunca havia olhado antes. peguei a minha mala e atravassei a porta, deixei a chave embaixo do tapete, saí na decisão de nunca mais voltar, porque ficar com você me machucava mais do que o necessário. antes era ponto de paz, agora é de confusão.
estou te deixando sobre a cama e isso é a prova de amor mais linda do universo. tenho eternamente gratidão por ter te chamado de "meu amor". saí pela porta como alguém que vai comprar cigarros e não volta nunca mais.

(10 de Dezembro de 2017)

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