o vazio me destroe

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me olhei no espelho e prendi o choro.
aquieta. acalma. não chore. se entope. se cala.
chorei baixinho, até ver meus olhos cansados no espelho. doeu, aliviou, martirizou, quase preencheu o vazio.
ninguém nunca nota, não enxergam o obscuro que tenho.
então me dopei, fumei, me cortei, me automultilei, bebi, sofri, chorei, gritei, senti, corri, me abalei. depois sorri e disse "estou bem e você?".
me deitei e tapei a boca, soquei panos em meu ser, pra não ouvirem me desvaziar, me despreencher em lágrimas, estava doendo tanto, só queria um abraço ou alguém que se importasse tanto ao ponto de perceber a tristeza me arrastando pro mais escuro abismo.
me mato, não me mato. vai passar, não passar. é fase, não é fase. aguento, não aguento. não está doendo, está doendo. fujo, não fujo. sim ou não. fico ou saio. esse joguinho contorna minha mente, como quem ranca pétalas de uma flor para soletrar bem-me-quer.
cabeça doendo, corpo tremendo, me pego arfando no chão, segurando os joelhos e pensando em acabar, em um motivo, uma solução, querendo que o dia acabe, que o amanhã não chegue até a mim, porque vai ser igual. você passa o dia sorrindo e brincando com seus amigos, todas aquelas conversas, coisas boas, mas ao final do dia se sente no vazio, no deserto, machuca. estou falando de dor que mata e destroi.
fui dormir sem esperança, sem fé, sem rumo e sem planos, não dava pra suportar, então disse "não é nada kkkk", "tô com dor de cabeça", "estou com sono", ninguém notou, chorei devagar, na esperança de fugir de mim mesma, me martirizei na mente até dormir. lá se foi mais um dia, porque grito por ajuda em um mundo de surdos.

(23 de Outubro de 2017)

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