hoje faz 23° graus em São Paulo. mas tá frio. não consigo respirar direito porque o ar tá pesado. parece que tudo está triste. os passarinhos do vizinho não estão cantando, como de costume. as folhas das plantas do jardim estão para baixo, balançando-se triste. a rede que estou deitada range nos ferros onde à segura. o barulho das gotas que estão caindo do chuveiro entram na minha mente como se fossem marteladas. o ar parece que ficou mais pesado toda vez que o puxo para dentro de mim. tá tudo acontecendo devagar.
desde uns dias atrás o mundo parou. desde ontem não sei como andar, comer, falar, seguir, reagir, aceitar. penso sobre o que pensou antes de morrer, penso como realmente estava cansado.
pai. você estava me esperando para te dar adeus. apesar de tudo. de todos os problemas e coisas ruins que me causou. nunca deixei de te amar. como seguir sabendo que não esta aqui. estou tentando me lembrar do seu rosto. da sua voz, do seu cheiro, das suas roupas. não quero esquecer nada disso. hoje não vou ver você. por favor não fique zangado. como acontece quando morremos. será que vai olhar que não estou lá.
ainda tenho fiapos de cabelo seu atrás da capa do meu celular. meu coração tá com você e sempre esteve. foi o melhor. pai porque me deixou tão cedo. ainda sou uma criança. minha depressão não consegue lidar com isso. estou dentro de uma crise. como que vou sorrir agora. será que não tinha mais forças para ficar aqui. pai diz que lembrou de mim durante esses dias. que não me esqueceu.
madrugada não conseguir dormir. faz 16 horas chorando. minha mãe veio dormir comigo. a princípio não queria aceitar aquilo. mas ela me colocou entre as pernas. como você fazia pai. lembra. mas lembrei.
quem vai me ligar para falar coisas sem importância apenas para ter minutos de conversas. nunca mais vou comer suas comidas. nem abstrair suas palavras ruins. não vou mais ouvir você me pedindo para fazer café. forte e sem açúcar. quem vai jogar o seu milhar agora. quem vai continuar sendo você, já que se foi. não vai morrer dentro do meu coração. mas. o que vou fazer agora se tudo tá acontecendo triste.
porque faz 23° graus em são paulo. mas dentro de mim não sei quanto está.
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LIMÍTROFE: para você que sente demais.
Phi Hư Cấu"Poesia não é a chuva, é o barulho da chuva." Isso não é um diário. neste livro, relato vários textos não fictícios, sentidos por mim ou por maior parte das pessoas, além de poemas e poesias. Alguns tive o imenso prazer/desprazer de viver. talvez...