Cada segundo que passa é um tic-tac a menos na minha vida.
O barulho do relógio tira minha paz. Para um ansioso esperar as horas passar chega a ser desesperador.
Estou com saudade de casa, estou com saudade de tudo.
Quero de novo tudo que passou tão rápido que mal pude aproveitar: sinto falta do cheiro da chuva na terra, de comer gelatina com leite assistindo sessão da tarde, estou com saudade dos dias que não aproveitei o suficiente.
Saudade do dia na praia com meu irmão e meu pai, a água estava tão boa e o balancear do mar me deixava cada vez mais leve, mais firme, mais feliz.
Quero voltar a ser criança, quero poder pedir benção a minha mãe.
Me encontro em um presente tão cruel que me arrasta severamente para o futuro, me fazendo debulhar em lágrimas por não ter aquilo que tanto almejo.
Tudo que queria agora era o cheiro da Bahia, tudo que eu não queria agora é ser adulta, trabalhar, limpar, correr, existir, fazer, fazer e fazer.
Preciso de colo e isso me dói, cansei das incontáveis vezes que já chorei com saudade de tudo que não vivi, que não viverei.
Queria me sentir amada. Queria saber amar. Acho que nunca amei, e quem me dera se isso fosse por querer, eu já tentei amar inúmeras vezes, mas amar te deixa frágil, como pode alguém se acostumar com a fragilidade?
O que me faltou? pergunto incansavelmente a mim mesma, o que me fez ser uma pessoa tão diferente? digo, vazia. E se eu tivesse tudo que penso, será que assim realmente seria feliz? O que é a felicidade? Ser feliz é uma opção? Ser feliz é uma escolha? E como que a tomo?
Não chorar é uma opção? Passar dias sem se sentir vazio, é de fato possível? E se parar de me sentir vazia, como saberei se estou sentindo? Se tudo e mim é intenso...
É preciso saber ser pequeno pra ser enorme?
... e se por um descuido o que pensamos se tornasse realidade, isso seria o suficiente? E se tudo que tive foi o bastante e tenho perdido tempo com pensamentos em coisas que são prolixas?
O que é a felicidade?
Para mim, agora, felicidade seria cheiro de mar, olhar o pôr do sol, o balançar das pernas tortas vendo minha irmã correr, responder as incontáveis perguntas do meu irmão, um gatinho na varanda, ter de volta a garota que amei. Felicidade hoje seria um pedido de desculpas da minha família, acompanhada por um "tudo bem, eu te perdoo' - e realmente ficar bem.
E amanhã? Bem, o amanhã é incerto.
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LIMÍTROFE: para você que sente demais.
No Ficción"Poesia não é a chuva, é o barulho da chuva." Isso não é um diário. neste livro, relato vários textos não fictícios, sentidos por mim ou por maior parte das pessoas, além de poemas e poesias. Alguns tive o imenso prazer/desprazer de viver. talvez...