Depois de passar dois dias inteiros sem poder mover literalmente um músculo consegui levantar da cama.
Mas meu corpo estava diferente. Aparentemente a maldição afetou meu vigor. Eu nunca me sinto tão fraco...
Tentei fazer alguma coisa da minha lista, mas não consegui. Então descansei e deixei para o dia seguinte.
Bem, foi um erro. No quarto dia da maldição acordei com minha visão embaçada e meu corpo estava ainda mais fraco.
No quinto dia minha visão tinha piorado mais ainda. Eu estava perdendo a audição e começando a ter alucinações esporádicas. Eu via meus pais. Meu corpo estava ainda mais fraco. Eu mal conseguia andar até o banheiro e eu sobrevivia à base de macarrão instantâneo.
No sexto dia passei metade do dia entre alucinações cada vez mais insanas e a realidade. Eu já estava usando uma lente de aumento para enxergar algo e estava quase surdo. Minha pele começou a ficar pálida e eu não conseguia andar sem me apoiar nas paredes. A comida não queria mais descer.
Na manhã do sétimo dia acho que as alucinações pararam. Bem, para ser justo, não tem como eu saber por que eu não conseguia mais distinguir entre uma alucinação e o que não era. Achei que fosse um alucinação quando me levaram para uma cama no palácio, sentada à beira dela, estava Julie, totalmente concentrada, de olhos fechados.
— Não temos mais tempo, então precisamos arriscar te colocar no palácio. Aqui a concentração de magia será mais fácil para ela. — Kayla disse.
Julie ia abrir os olhos, mas Kayla a impediu.
— Não abra os olhos. Vai quebrar a concentração! — Ela gruniu.
Era verdade. Mas também acho que ela estava tentando poupar Julie de me ver.
Minha pele estava já da cor de um morto. Eu estava quase cego e quase completamente surdo. Eu também não conseguia me mexer. Nada doía. Meus músculos não eram mais fortes o suficiente para reagir aos meus estímulos.
Eu queria dizer minhas últimas palavras, mas me resignei. Eu disse que confiaria em Julie. Eu sabia que iria morrer, entretanto resolvi não falar nada. Um último voto de confiança, ou uma forma de pagar respeito à ela pelo menos ter tentado.
E assim o tempo se extendeu, horas e horas se passaram. Eu percebi que a rainha e a princesa estavam lá. Ouvi alguns cochichos abafados delas. Embora soubessem que meu destino seria inevitável ninguém falava nada.
Julie ainda estava ao meu lado por mais de doze horas, numa resolução fugaz de me salvar. Eu sei disso por que eu conseguia discenir fracos raios de luz do início da manhã quando cheguei aqui, e vi esses mesmos raios sumirem com o sol se pondo.
Foi por isso que fiquei quieto. Era uma questão de respeito à persistência dela.
Aos poucos as coisas foram ficando cada vez mais distantes. O tempo e espaço perderam o sentido.
A última coisa que eu me lembro foi de pensar como as coisas acabaram dessa forma. Eu sequer pude dizer meus sentimentos por Julie. Eu me arrependi de não ter falado. E que eu não havia conseguido ao menos fazer uma das coisas que eu queria fazer da minha lista...
Eu sou um fracassado. Não consegui fazer nada com o tempo que eu tinha. Agora é tarde. Eu sinto que vagamente decepcionei alguém, embora não consigo pensar em ninguém que estaria decepcionado comigo.
Eu vivo sozinho desde que meus pais morreram, quando eu tinha 10 anos. Fato é, Julie foi a pessoa mais próxima de uma família que eu tive depois dela. Talvez seja por isso que jamais me afastei dela.
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Improvável
Ficción GeneralThomas tem um único objetivo: conquistar a garota de seus sonhos, a qualquer preço. Mesmo se isso significar participar de um plano mirabolante de Julie, sua vizinha sádica que o vem atormentando desde da infância. O que os dois não esperavam é que...