Capítulo 27 - Ressonância

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Esse jeito que ela me olhou... Pareceu que ela podia enxergar até o mais profundo canto da minha alma. Não sei se me sinto confortável com isso. Tenho péssimas experiências com mulheres que conseguem me decifrar fácil.

- Eu adoro sorvete de baunilha. - Ela fala subitamente. - Infelizmente eu começo a ficar embriagada se comer açúcar demais. E não, não sei por quê. Os médicos me disseram que provavelmente é uma reação adversa que acontece com a minha magia.

- Minha nossa, por que você começou a falar essas coisas do nada? - Pergunto meio assustado.

- Tenho magias passivas que me permitem detectar sentimentos superficiais. Você parecia curioso, então assumi que era sobre mim e joguei um fato aleatório a meu respeito na mesa.

Franzi a sombracelha. Eu estava? Se sim, essa garota tem um poder impressionante, por que nem eu sabia que estava querendo saber algo dela.

- Não sei se está correta. Mas, supondo que esteja, você tem uma versão mais modesta do poder da sua deusa, sabia disso?

- Claro que eu sei, bobão. - Ela diz com um risinho. - Eu comecei estudar com quatro anos na academia do oráculo, em Listkae. Sei algumas coisas sobre Malahamunt e especialmente sobre Livlian.

- Livlian é uma boa mestra?

- Não, de jeito nenhum, ela que perdoe. - Ela diz com um suspiro resignado. - É uma deusa exigente e mandona. Mas ainda prefiro ela à Aalna, pelo menos Livlian às vezes responde meus clamores. Claro que ela costuma atender em situações realmente banais, mas graças à ela consegui me livrar de muitas saias justas. Por exemplo, quando minha calça prendeu numa cadeira numa conferência sobre as vítimas de guerra civil, ambiente solene e tal, e fiquei com o traseiro todo exposto. Rezei para ela me tirar dessa e começou a chover trutas dentro do salão, acertando todo mundo menos eu, o que me deu tempo de poder escapulir no meio da confusão e arrumar alguma coisa que não danificaria minha dignidade ou do meu reino, como ele já não fosse alvo de chacotas. Aliás, você viu Livlian? Sabe como ela é? Uma coisa é a gente saber como a pessoa quer que ela saiba que você é, outra completamente diferente é alguém que conheceu ela pessoalmente.

Dou uma descrição de como Livlian é fisicamente, e dos momentos que passei com ela.

- Ela sugou o seu sangue? Quer dizer que esse tempo todo venho servindo a uma vampira temperamental? - Ela diz com uma expressão descontente.

- Ela alega não ser uma vampira. Mas você não sabe por que sua deusa faz isso?

- Você, que conhece ela pessoalmente, não sabe, por que eu, uma reles humana mortal, iria saber?!

- Você não acabou de dizer que conhece bem sua deusa?!

Ela suspirou e se virou para mim, andando para frente de costas.

- Então você gosta de complicar as coisas, queridinho? Eu "conheço" ela. Só sei o que ela me conta. - Ela zomba.

- Afinal, você sabe algo sobre ela ou só está se fazendo de importante?

- Eu não preciso me fazer de importante. Eu sou importante seu paladino de araque.

- Comparada a mim, você não é quase nada. Eu sirvo diretamente deuses, e eu vi a deusa que você vem servindo sendo que nem devoto de deus algum eu era. - Cutuquei.

Vejo uma veia saltar da têmpora dela.

- Claro. Você é tão importante que foi mandado sozinho sem o mínimo de habilidade necessária para um reino em estado de sítio. Sua deusa ausente realmente se importa muito com você. - Ela diz com uma acidez realmente pungente.

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