Eu deveria ter me jogado no lago no momentos que ela apareceu e evitado toda aquela conversa. Olhei em volta, meio alheio a tudo. Estou de volta no beco daquela cidade, mas dessa vez totalmente sozinho.
Encostei e deixei minhas costas deslizarem nas paredes grosseiras do beco, até sentar no chão. Me encolhi e passei um tempo desconhecido lá, inerte, olhando para o vazio, sem saber o que pensar. Minha vida tinha desmoronado completamente. Tudo que eu acreditei até agora não passava de mentiras descaradas. Aalna me enganou. Uma parte teimosa de mim ainda teimava em não acreditar, que Bestrad estava mentido.
— "É... Verdade..."
Agora tudo que me resta é acreditar em Bestrad, coisa que não estou nem um pouco afoito a fazer, dada a minha recente experiência com deuses.
E além de ter que confiar nele, terei de confiar em uma pessoa que uma vez quase me matou.
Mas eventualmente levantei. Lentamente e nem um pouco animado, mas levantei. O que está feito está feito, fiz a coisa certa. Nunca mais quero ver o rosto de Aalna. E agora que eu estava em Battissen, ela não iria me alcançar. Ela não ia se arriscar a se jogar no lago e ter todos os deuses de Inteikos contra ela.
Depois de mais algum tempo minha mente se acalmou o suficiente para eu poder me concentrar nos meus próximos movimentos. Tenho que chegar até Inteikos e falar com Helan.
Essa parte me preocupava bastante. Apesar da garantia de Bestrad, eu estava com medo de que ele também esteja me enganando. Ele disse que conhece ela, mas será que ele está certo? E se ela mudou? Mas não que eu tivesse alguma escolha.
Subi nas construções para ter uma visão ampla da cidade e aonde eu deveria ir.
Era engraçado. Eu tinha acabado de passar por uma guerra, e parecia estar lidando com isso até muito bem. Para o bem ou para o mal eu tinha muita coisa para me preocupar agora. Será que isso só está esperando para vir à tona uma hora inoportuna? Ou será que o efeito que Illian instilou em mim ainda está valendo?
Funguei uma vez e sacudi a cabeça para afastar as lágrimas que vieram me importunar. Ela me deixou algo importante, um legado. Ela é realmente alguém especial. Não posso dizer o quanto estou feliz que ela esteja viva. Se um dia eu conseguir escapar dessa bagunça toda, eu certamente irei atrás dela.
Funguei de novo, com mais força. Não, não posso chorar, tenho trabalho para fazer agora. Estou num lugar hostil, e preciso sair daqui rápido. Basta alguém que tenha sabido do massacre da bastilha me reconhecer e estarei acabado.
Ao subir na casa mais próxima tenho a visão que precisava. A uma certa distância posso ver um abismo gigantesco em forma circular, com vários quilômetros de diâmetro emitindo uma luz avermelhada tênue, provavelmente de rocha derretida no fundo. No centro do abismo tem uma espécie de pináculo de pedra solitário e largo, também colossal. E encima desse pináculo tem um palácio gigante, uma verdadeira cidadela. É feito de rochas negras e iluminado por centenas de tochas. Lembra uma espécie de Malahamunt com sua imponência, mas em vez de impor majestade e uma certa paz, ele impõe majestade e temor.
Inteikos, o palácio da perdição.
Cruzando o abismo colossal tem uma ponte de cordas aparentemente frágil que balança ao sabor dos ventos ascendentes do abismo. Criaturas monstruosas voadoras patrulham o espaço aéreo do abismo, pegando e devorando mortos-vivos que despencam do teto da caverna, gritando em direção ao abismo.
Pelo que sei, estes mortos-vivos caindo são seres inteligentes que vivem no multiverso que já morreram na sua primeira vida. Agora o que faz esses seres reencarnarem aqui ou outra parte de Battissen não se sabe.
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Improvável
General FictionThomas tem um único objetivo: conquistar a garota de seus sonhos, a qualquer preço. Mesmo se isso significar participar de um plano mirabolante de Julie, sua vizinha sádica que o vem atormentando desde da infância. O que os dois não esperavam é que...