— Mais rápido, Thomas. Quero chegar na cidade logo!
Como eu queria jogar essa deusa idiota numa poça de lama. Estou carregando-a por horas como uma mula e tudo que ela faz é reclamar sem parar no meu ouvido. Eu sei que o tornozelo dela já está bom e ela só está me fazendo de montaria.
— Você é lerdo, Thomas. Vamos logo. Quero tomar um banho! — Ela ordena fincando os calcanhares no meu quadril como se eu fosse um cavalo.
Chega! Eu estou cheio!
Com muita calma eu paro, faço ela descer (apesar da minha vontade enorme de simplesmente soltá-la para fazê-la se arrebentar no chão) e começo a caminhar sozinho, nem olhando para trás.
— O que está fazendo?
— Estou te lembrando que não sou um burro de carga. — Eu respondo sem parar de andar com um tom hostil. — Você já pode andar sozinha.
— Só porque eu já posso andar sozinha não significa que eu deva! Esqueceu o que andou aprontando? Estou te castigando!
Eu me voltei para ela.
— Eu me recuso a te carregar por mais um único centímetro que seja. — Eu declarei com tom de desafio.
Ela piscou atordoada.
— Você está recusando uma ordem minha?
— Fui sutil demais? Considere tudo que eu tenha feito agora. Tudo mesmo. Acha mesmo que eu não estou cansado? Minhas costas, braços e pernas estão me matando. O quer que aconteça comigo? Que eu desmaie de exaustão?
Ela me olhou com olhar de suspeita.
— De fato deve estar cansado... Mas, honestamente? Acho que você está usando isso como pretexto para poder recusar minhas ordens.
— Talvez sim, talvez não. Você não tem como saber. Então, o que vai fazer? Vai me deixar descansar ou me fazer trabalhar até que eu caia duro no chão? — Eu disse carrancudo.
Ela considerou e respondeu, também carrancuda.
— Descanse.
Eu me virei para ela não ver o sorriso maléfico no meu rosto. Essa deusa é até fácil de manipular. Sim, estou morto de cansado, mas seria mentira dizer que não me aproveitei da situação para negar obediência à ela...
Com Aalna andando ao meu lado, um silêncio muito profundo se instaura. Nós dois estamos carrancudos e insatisfeitos com a relação que temos agora. Eu por ter de suportar as loucuras e desmandos dela, ela por eu ser uma pessoa malandra e desobediente.
Qualquer um diria que esse silêncio é desconfortável, mas não é. Aalna está com raiva de mim, e eu quero que ela fique calada o maior tempo possível.
E também porque toda vez que ela abre a boca só sai besteira. É impressionante. E essa é a mesma deusa que os clérigos em todos os reinos fazem hinos louvando dos mais altos elogios. Idiotas. Se eles soubessem a verdade...
Estou ficando cheio dela. Sério. Preferia mil vezes Julie, que é horrível, mas não é uma assassina brutal. O nível de sadismo de uma nem dá para o cheiro da outra.
Ouço um som estranho no ar, parecia um lamento.
— Ouviu isso, Aalna?
Ela nada responde. Apenas continua andando com olhar fixo à frente. Mesmo depois de várias horas, ela ainda parecia estar remoendo coisas. Não posso garantir que seja aquela situação, mas vai saber...
Enquanto andamos, continuo ouvindo coisas. Lamentos, gemidos, gritos. Choro.
— Aalna, eu sei que você não está muito satisfeita comigo no momento, mas você está ouvindo esses sons, não está? Isso está realmente me apavorando.
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Improvável
General FictionThomas tem um único objetivo: conquistar a garota de seus sonhos, a qualquer preço. Mesmo se isso significar participar de um plano mirabolante de Julie, sua vizinha sádica que o vem atormentando desde da infância. O que os dois não esperavam é que...