Comecei a recobrar lentamente os sentidos.
Eu sentia uma dor aguda no pescoço. Daquele tipo que você sente quando é perfurado por uma seringa.
Ah sim. Livlian me mordeu e sugou meu sangue. Espera... essa sensação de seringa e drenagem já deveria ter acabado.
Foi aí que me liguei que havia cabelos negros espalhados em cima do meu rosto.
Tentei virar o pescoço e senti a cabeça de Livlian bater na minha.
Ela parou de me morder para massagear a cabeça.
— Ai! Por que você fez isso? Doeu. — Ela disse magoada.
— Doeu?! Está realmente me dizendo isso quando está com caninos cravados no meu pescoço? Está sugando meu sangue desde quando? O que você é afinal? Uma vampira?
Ela soltou um ronco de escárnio.
— É claro que não sou uma vampira, idiota. Eu apenas sugo sangue. Que foi? Somente vampiros tem esse direito? Isso é preconceito.
— Então poderia me fazer o favor de compartilhar sua razão?
— Existem muitos motivos. Um deles é porque eu gosto de beber sangue. É um líquido delicioso e altamente energético. E todos os outros você não pode saber. Mas se serve de consolo, você tem um dos melhores sangues que já tive a oportunidade de provar. É o único sangue que bebi que tem um pouco de doce, salgado e amargo numa proporção bem próxima da ideal. Faz uma combinação bastante aprazível ao meu paladar. Delicioso! — Ela estralou a língua. — Embora você estar meio doente deixa a consistência rala e ruim. Poderia ser melhor...
— Pare de analisar o sabor do meu sangue! Isso é doentio! E não acho que Aalna vai ficar feliz de saber que você está me fazendo de coquetel.
— Aalna não vai saber disso. Esse será nosso segredinho. — Ela retrucou.
— Segredos podem facilmente deixar de segredos... — Eu rebati enquanto ergui as mãos para cima fingindo inocência.
— Não conte para ela. Estou mandando. — Ela ordenou hostil.
Travei. Se eu desobedecer posso arrumar um problema com uma deusa digamos... desequilibrada.
Livlian, ou princesa serpentina, como é conhecida no meu mundo, embora eu seja a única pessoa que saiba a identidade dela no momento, é famosa pela ira descontrolada. Mesmo não se tratando da princesa serpentina é bem comum nos templos dedicados à ela terem clérigos e sacerdotes constantemente fazendo oferendas e rituais para aplacar a ira da deusa. Já houve diversos incidentes: secas, tempestades imprevisíveis e outros desastres atribuídos a sua fúria. Ah, e boatos dizem que ela as vezes vem no mundo mortal e ronda pessoas que tem contrariado ela de alguma forma, os observando de longe. Dizem que se a pessoa continuar contrariando ela, acaba assassinada.
Mas a fúria dela se manifesta principalmente no reino de Listkae, porque a família real fez algum pedido à ela e em troca eles louvariam Livlian acima de todos os deuses do panteão. Certo tempo eles pararam de fazer oferendas por consumir muitos recursos, e, como Listkae é um reino localizado perto do pólo sul, cada recurso, em particular grãos, é importante. E eis que choveu torrencialmente um mês inteiro sem parar na estação seca, alagando e matando muita gente, por que as vezes caiam esferas enormes de granizo.
A princesa serpentina é responsável pela aparição de súbitos massacres de pessoas envenenadas. Dizem que ela aparece na forma de uma mulher serpente. Foi por isso que eu intuí que ela era a princesa. A razão dos massacres é desconhecida mas sabe-se que ela mata indiscriminadamente. Homens, mulheres e crianças. As pistas costumam apontar para as pessoas estarem praticando algum tipo de ritual funesto. Mas isso não necessariamente significa que ela só mata esse tipo de gente. Uma vez o exército conseguiu prever um dos ataques e tentou capturá-la. Ela matou todos. Ninguém ousa tentar capturá-la novamente. E não existe uma pessoa que a tenha visto e sobrevivido para contar história. Umedeci os lábios.
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Improvável
General FictionThomas tem um único objetivo: conquistar a garota de seus sonhos, a qualquer preço. Mesmo se isso significar participar de um plano mirabolante de Julie, sua vizinha sádica que o vem atormentando desde da infância. O que os dois não esperavam é que...