Capítulo 30

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ARRISCAR ALTO

Não fui à academia hoje. Eu não estava com cabeça para mais nada além de tudo o que Eros me propôs esta manhã. Tinha que ir ao apartamento de Nicholas depois que meu primo saiu ou ele ia acabar dando um jeito de bater em minha porta nem que fosse pilotando uma cadeira de rodas.

Nas últimas duas semanas, seu tratamento com o fisioterapeuta do clube estava avançando bastante, o que o permitia ir e vir usando a cadeira, dando sinais de que logo, logo estará andando novamente. Aquilo me deixava mais aliviada porque já estava se tornando uma missão quase impossível prender um homem daquele tamanho na cama e cortava meu coração vê-lo se sentir tão impotente.

Quando chego na sala, fico contente em ver Nicholas reunido à mesa com sua família, sorrindo de alguma coisa que o irmão dele está falando.

– Chegou na hora certa – a mãe dele diz, animada. – Acabei de preparar o prato que meu Nick mais gosta. Sente-se conosco à mesa, Catarina.

– Agradeço, dona Heloísa. Está cheirando muito bem.

Puxo uma cadeira de frente a Nicholas, mas faço um esforço para que meu olhar não encontre o dele. Eu sou uma péssima mentirosa e esse fato faz com que eu tenha dúvidas quanto à possibilidade de me sair bem nos planos de Eros.

Uma travessa cheia de verdura e carnes parece tão convidativa, praticamente me chamando pelo nome.

– Isso aqui é pirão de farinha? – Aponto para a travessa.

– É, sim. Você gosta?

Ela está mesmo me perguntando se eu gosto? Nessa altura do campeonato alguém duvida que eu gosto de tudo?

– Eu seria capaz de roubar esse prato e comer escondida lá no meu apartamento.

Todos riem à mesa, mas estou ciente de que sou observada o tempo inteiro pelo homem diante de mim, ainda que eu faça um bom trabalho em desviar do peso de seu olhar.

– Você tem que aprender a fazer um cozido igual ao de Helô se pretende casar com meu filho – o pai dele me surpreende e, desta vez, não sou capaz de manter meus olhos afastados de Nicholas.

Ele parece não ouvir qualquer coisa que seu pai ou sua mãe diz, enquanto mexe no prato com o garfo e a faca em um movimento repetitivo e aleatório como se estivesse com a cabeça longe. Seus olhos são ameaçadores e não disfarçam o quanto me avaliam intimamente.

Tenho certeza de que estou da cor de um tomate, principalmente pelo fato de estar quebrando a regra de não guardar segredos, uma vez que estou carregando comigo um dos bem grandes. Ah, mas quem pode me julgar? Ele ainda tem uma história mal contada sobre uma ex-namorada.

– Tome jeito, Manuel – dona Helô repreende o marido. – Se Nicholas quiser, ele mesmo cozinhe a refeição dele, oras. Eu eduquei todos os meus filhos para serem úteis nos serviços do lar e, como ele é o mais velho, aprendeu a cozinhar melhor do que os irmãos.

– Catarina já pôde comprovar dos meus dotes culinários, mãe.

A frase deveria parecer simples, mas não é como soa. De alguma forma, sinto que não era exatamente isto que ele gostaria de dizer. Seu olhar está semicerrado como um animal felino que busca por cada movimento de sua presa e a aprisiona antes mesmo de tocá-la. Eu tenho certeza de que estou me saindo uma péssima atriz.

– Verdade. Ele fez uma lasanha deliciosa outro dia.

– Lasanha? – os olhos da pequena Yasmin brilham. – Você pode fazer uma lasanha pra mim, Chuchu?

Nicholas: Quando a atração muda as regras do jogoOnde histórias criam vida. Descubra agora