GOL ÉPICO
Catarina não acreditou quando enviei o mapa de onde ela deveria me encontrar. Por estarmos acostumados a ver São Paulo como uma grande metrópole, frenética, cheia de arranha-céus, muitas vezes deixamos de explorar alguns lugares mais tranquilos que a cidade disponibiliza bem debaixo do nosso nariz.
Olho para o telefone e não consigo conter o sorriso bobo. Uma simples mensagem dela é capaz de trazer de volta meu bom humor e toda alegria que eu pensei ter sido roubada de mim.
C: Claro que não. Só estou surpresa por vc ter encontrado um lugar assim no meio dessa selva de pedras que é São Paulo.
N: Tenho meus contatos. Quero te apresentar alguém muito especial para mim.
C: Pretinho, vc não para de me surpreender.
Guardo o celular no bolso, ainda sorrindo, e caminho até as baias para observar os cavalos. Alguns cavaleiros passam por mim, vestidos em uniforme de hipismo, claramente se preparando para alguma corrida e, do outro lado, percebo que há mais alguns treinando salto e adestramento.
Sinto-me em casa outra vez. Brinco com um cavalo da raça Morgan conhecido por serem amáveis, mas também muito competitivos. A cor amarronzada é fascinante quando reflete a luz do sol, fazendo sua pelagem brilhar.
– E aí, amigo? Está se preparando para a próxima corrida? – Ele parece concordar, balançando a cabeça para chamar minha atenção – Boa sorte, bonitão!
Vou para a próxima baia onde um lindo e negro Mustangue relincha ao me ver como se estivesse pedindo para sair dali. Trata-se de uma raça muito bonita e opulenta que só os apreciadores mais abastados conseguem adquirir, até mesmo porque a espécie é protegida por leis norte-americanas.
Ando mais algumas baias à frente até que alcanço a que estou procurando. Dentre todos os cavalos do haras, provavelmente este seja o menos suntuoso e veloz, mas sem dúvida é um cavalo forte e aquele que eu mais gosto. Capitão é o nome do grande tesouro que mantenho no haras da raça Manga-larga paulista e está longe de custar a tonelada de dólares que os outros aqui custaram, mas ele tem um valor sentimental muito grande para mim.
Representa a infância feliz que eu jamais quero esquecer, mas também de muita luta em uma cidade rural. Ele é irmão de Chuchu, o cavalinho que dei de presente à minha irmã Yasmin. Seu pelo é de um castanho marrom, suas patas brancas e a personalidade dele é tão amável que eu deixaria qualquer criança montar sem me preocupar. Na verdade, Yasmin chegou a andar nele antes da minha família ir embora na semana passada.
– Grande Capitão! Estava com saudades dos nossos passeios?
Ele levanta as patas e fica quase de pé como se estivesse me cumprimentando, em sua forma peculiar de demonstrar sua alegria. E depois dizem que os animais não têm sentimentos. Eu discordo completamente.
– Sabe, cara, eu tenho uma pessoa para te apresentar. Ela é a mulher mais bonita que você verá em sua vida e a mais extraordinária também. Eu quero que você a trate como se fosse uma de suas potrancas, ok? Seja doce e manso como o papai te ensinou e prometo te trazer um presente quando eu voltar aqui de novo.
– Conversando com um cavalo, Nicholas?
É como se o sol resplandecesse mais forte quando Catarina chega com seus cabelos loiros sendo levados pelo vento, uma jaqueta de couro preta combinando com botas de mesma cor, cobrindo um vestido curto e solto que reluz nas lentes espelhadas de seus óculos escuros. Ela não estava com essa roupa na academia, o que me faz deduzir que tomou um banho e se trocou lá mesmo.
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Nicholas: Quando a atração muda as regras do jogo
RomanceNicholas Ferraz é o mais novo jogador do Avantes Futebol Clube. Para ele, não foi nada fácil alcançar os holofotes no mundo do futebol nem descobrir que a fama poderia lhe aproximar de pessoas interessadas apenas em seu dinheiro. Presenciar a ex- e...