Capítulo 34

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ZERANDO O JOGO

– Aceita uma bebida? Talvez água, vodca, uísque...

Meu apartamento voltou a ser a casa de um homem solteiro, que mora sozinho, e não precisa do auxílio de um enfermeiro até mesmo para as coisas mais simples como ir ao banheiro. Felizmente. Só que um dos responsáveis por eu ter precisado transformar meu apartamento em um hospital está diante de mim, encarando-me com uma grande interrogação no olhar.

Roberta.

Se a forma como está vestida e o capricho na maquiagem forem um sinal, posso dizer que ela está nutrindo muita esperança de que vamos continuar do ponto que paramos nosso relacionamento. Quer dizer, não exatamente daquele ponto porque eu estaria sendo traído agora se por acaso eu fizesse um flashback, mas do momento antes de tudo acontecer no qual fazíamos de conta que éramos um casal apaixonado principalmente na frente de outras pessoas. De todo modo, ela está bastante curiosa e desconfiada, mas ao contrário de Nina, eu sou um bom ator e não estou acostumado a jogar para perder.

– Uísque, por favor.

– Puro e sem gelo, estou certo?

– Fico feliz de saber que você não esqueceu de minhas preferências. Será que suas lembranças se resumem somente ao tipo de bebida que gosto ou se estendem a lugares mais íntimos?

Ela está começando justamente o jogo que eu quero. Roberta leva suas unhas compridas até os lábios e morde-as suavemente em um gesto sensual. Não posso negar que minha ex-esposa seja uma mulher muito bonita e atraente, mas tudo nela está no campo da superficialidade o que a torna enfadonha e cansativa.

– Claro. Como eu poderia esquecer?

Vou até o bar, coloco uma dose tripla de uísque doze anos e entrego a ela em seguida. Roberta semicerra os olhos perigosamente enquanto toma um gole sem deixar de me encarar com ar inquiridor que logo se transforma em palavras.

– Por que você me chamou aqui, Nicholas? Não vai me dizer que sentiu saudades.

Encho um copo com água para mim, então a convido para um brinde.

– Infelizmente não posso te acompanhar na bebida porque estou tomando remédios, mas acho que temos motivos para comemorar.

Ela estende o copo.

– Temos? Fale-me mais sobre isso.

Brindamos antes mesmo dela saber o porquê. Roberta toma mais um gole da bebida, então passa a fazer pequenos círculos com o dedo no copo enquanto aguarda ansiosamente o que tenho a dizer. Eu entorno o copo de água de uma só vez e lhe ofereço um sorriso cúmplice. Eu não preciso de muito para sacar que ela está caindo como um patinho.

Juro que pensei que ela fosse um pouco mais esperta.

– Depois da minha cirurgia, Catarina achou que eu não voltaria a andar e terminou nosso namoro que mal havia começado. Você sabe o quanto gosto de um desafio, então lutei para me recuperar mais rápido e, quando isso aconteceu, percebi que só estávamos usando um ao outro como consolo. Eu nunca a amei.

Ela busca algum sinal de que eu esteja mentindo, mas eu não lhe daria esse prazer. Roberta está por trás das ameaças e para que ela fique longe do meu caminho, preciso tê-la presa na palma da minha mão.

– Eu sempre soube que você ia cair em si a qualquer momento, Nick. Aquela mulher não é digna de ter um minuto do seu tempo. Você é um jogador de futebol famoso, oras. Precisa ter uma mulher à sua altura do lado.

Nicholas: Quando a atração muda as regras do jogoOnde histórias criam vida. Descubra agora