Capítulo 32

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PEÇAS SE ENCAIXANDO

Uma vez, quando eu era criança, acompanhei minha mãe até a mercearia de Seu Tobias, que ficava próxima da nossa casa, a fim de comprar alguns mantimentos que estavam faltando. Lembro-me nitidamente do momento em que peguei um doce de caramelo e guardei no bolso achando que ninguém tinha visto.

Naquele dia, eu trouxe uma das maiores vergonhas à minha mãe, mas, naquele mesmo dia, eu aprendi uma das maiores lições da minha vida. O crime, por menor que seja, não compensa.

Seu Tobias tinha visto meu deslize e, quando minha mãe passou os mantimentos, ele contabilizou o doce junto com a conta. Ela achou estanho e questionou, mesmo que o valor fosse irrisório, daí ele fez questão de mostrar onde eu havia guardado. No fim das contas, minha mãe não pagou o doce. Eu teria que pagar com um dia de trabalho pesado, ajudando a carregar os sacos de farinha do depósito até a mercearia. Na verdade, não era o preço do furto que importava, mas os valores que eu perderia se não houvesse uma punição.

Hoje sinto asco de gente desonesta. E estou diante de um neste exato momento.

– A única forma de você pagar o que deve a Catarina é se for parar atrás das grades, César.

Dou passos seguros em direção aos dois, tentando disfarçar minhas limitações nos movimentos. Os seguranças montam guarda, atentos, provavelmente com receio de que outra confusão como as que eles presenciaram se inicie.

Ele não se intimida com minha proximidade, pelo contrário, diminui ainda mais sua distância de Nina, ciente do quanto sua atitude me incomoda.

– O namoradinho chegou! Você ficou por perto até conseguir, não é? Nunca me enganou. Sempre quis roubar Catarina de mim.

– Até onde me consta, a única pessoa aqui que sabe conjugar bem o verbo roubar é você.

– Todos cometemos erros, Nicholas. O importante é que alguns deles podem ser consertados.

César faz cara de bom moço e me oferece um sorriso sádico que tenho vontade de arrancar com um murro. Ele é muito mais dissimulado do que eu imaginava. E não vou permitir que a envolva em sua teia de intrigas novamente.

– Se você é um cara tão legal quanto quer parecer, apenas devolva o dinheiro dela e suma de sua vida. Acho que você vai parar atrás das grades se não fizer isso.

Ele ri do que eu digo descaradamente, zombando de minhas palavras.

– Eu não gosto de nada pela metade, cara. Ou eu levo o prêmio inteiro ou prefiro não jogar. Estou oferecendo o dinheiro de Nina e o meu amor de volta. O bônus fica por conta da queixa que eu não dei contra você.

Agora é a minha vez de rir. Definitivamente, ele só pode estar de brincadeira.

– Você não deu queixa no dia em que quebrei sua cara por receio de não sair da delegacia em liberdade, meu caro. Mas vamos largar de conversa fiada. Pensei que Catarina havia deixado claro que não queria te ver nunca mais. Que parte você não entendeu?

Ela se coloca entre nós e nos afasta um do outro.

– Parem de falar como se eu não estivesse aqui. Para início de conversa – ela levanta o dedo indicador e aponta para César. –, eu aceito que você devolva tudo o que é meu. Acho que ainda podemos acabar com isso de forma pacífica.

– Justamente o que eu havia proposto – completo e ela me oferece um olhar ameaçador. Levanto as mãos em sinal de rendição e César começa a caminhar pela sala.

Nicholas: Quando a atração muda as regras do jogoOnde histórias criam vida. Descubra agora