Capítulo 35

1K 139 5
                                    

NOVA VERSÃO DE MIM MESMO

Já é noite quando Roberta começa a abrir os olhos. Eu estava sentado diante dela durante todo esse tempo segurando um copo com água e uma aspirina, aguardando pacientemente o momento em que ela iria acordar e dar de cara com sua nova realidade.

O jogo havia acabado para ela.

Não pude afastar os olhos daquele rosto, vigiar de perto cada bater de pálpebras enquanto ainda estava dormindo, perguntar-me o quão pouco poderia valer uma pessoa que só nutria uma beleza superficial. Remontei minha história com ela durante aquelas poucas horas que precisei ficar ali e me vi diante do meu passado ciente de que haveria algo muito maior à minha espera no futuro.

Pela primeira vez eu sei o que é amar de verdade e estou pronto para eliminar do meu caminho tudo que tente me impedir de viver esse grande amor. Aliás, já estou eliminando.

– Nicholas, o que aconteceu?

Ela abre os olhos devagar, confusa, então ajudo-a a se levantar com algum esforço, oferecendo o remédio junto com o copo de água. Ela toma o comprimido fazendo uma careta que mostra o quanto está precisando dele, de fato. Ninguém pode me acusar de ser uma má pessoa, certo?

– Você bebeu um pouco demais e acabou dormindo.

– Onde... Onde eu estou?

– No meu apartamento, mais precisamente estava dormindo em meu sofá.

– Nós fizemos...? Quer dizer, minha cabeça está latejando de dor, não consigo lembrar de muita coisa depois que eu cheguei aqui. Por acaso nos entendemos?

Ofereço-lhe um sorriso impassível.

– Digamos que sim.

Ela olha à sua volta como se estivesse estranhando o lugar por algum tempo, mas percebo o momento em que é brindada com suas doces lembranças quando me encara com os olhos arregalados.

Ainda tonta, se segurando no braço do sofá, ela levanta impulsivamente e começa a remexer em sua bolsa, jogar as almofadas para cima e buscar por algum objeto que certamente não irá encontrar em um lugar tão fácil.

– Está procurando por isso?

Ergo seu celular e vejo como os olhos dela brilham de raiva. Ela sabe que foi pega, capturada por sua própria rede. Se alguém me dissesse que seria tão fácil arrancar toda verdade usando apenas uma garrafa de uísque, eu teria acabado com essa brincadeira há mais tempo. Só que ainda falta riscar um certo jogador da minha lista. Ela, pelo menos, já não será mais problema.

– Não lembro de ter lhe dado permissão para pegá-lo — ela puxa das minhas mãos com euforia, abrindo seus arquivos rapidamente para se certificar que estão todos lá. Solta uma respiração aliviada quando se dá conta de que está tudo no mesmo lugar. – O que meu celular estava fazendo com você?

Levanto da poltrona onde eu estava sentado e caminho novamente para a minha cozinha americana que tem uma visão ampla da sala onde Roberta se mantém preocupada. Gosto de vê-la angustiada, sem respostas, então decido segurar o jogo um pouquinho.

– Aceita mais um copo de água, vodca, uísque?

– Uísque... – É, devo reconhecer que a memória dela não a trai – Você me deu algumas doses de uísque. Ele estava batizado?

– Defina batizado.

Juro que estou me divertindo com tudo isso. Eu poderia soltar fogos por saber que Roberta está definitivamente fora da minha vida, poderia chutá-la para fora do meu apartamento neste exato minuto, mas meu lado sádico está gostando de importuná-la.

Nicholas: Quando a atração muda as regras do jogoOnde histórias criam vida. Descubra agora